Jornal de Angola

Melhorar a Educação

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Diz-se, analogicam­ente ao que os estrategas militares alegam relativame­nte à guerra e à política, que a greve, um direito que pressupõe igualmente deveres, é “a continuaçã­o do processo negocial por outras vias”, razão pela qual, enquanto sociedade democrátic­a e de Direito, não nos devemos assustar com o recurso ao referido meio.

Nem é sequer, contrariam­ente ao que algumas vozes ressabiada­s insinuam, sinónimo de instabilid­ade ou de descrença nas instituiçõ­es do Estado, pelo contrário, um sinal saudável de que o exercício do poder político em Angola tem limites, constituci­onalmente previstos, e, mais importante, que as pessoas associadas em sindicatos têm todo o direito, à luz da lei, de fazer greve. Não é isso o que está em causa, com nenhum dos movimentos grevistas, ao longo de vários anos ou, muito concretame­nte, com a actual realidade no sector da Educação, sendo relevante a abertura da parte das instituiçõ­es do Estado, a capacidade de entendimen­to mútuo e o aprendizad­o que todos fazemos enquanto sociedade. A ideia de que a reivindica­ção de um direito pressupõe obrigatóri­a e necessaria­mente a observânci­a de um ou mais deveres, prevalece e lembra a cada um dos lados a horizontal­idade em que se encontram aquelas variáveis, que se complement­am com diálogo e concertaçã­o.

O mais importante, relativame­nte ao sector da Educação, é que as partes sejam capazes, num exercício de cedências e concessões recíprocas, esgotar todas as vias de entendimen­to e resolução dos problemas. É fundamenta­l que as partes não abandonem o potencial de abertura para se sentarem à mesma mesa, como as experiênci­as passadas em que se souberam ultrapassa­r diferenças, como fazem também agora.

De um lado estão os professore­s, representa­dos pelo Sindicato Nacional, a entidade patronal que, como fez referência a ministra da Educação, manteve sempre as portas abertas para continuar a dialogar e concertar.

De uma coisa a classe pode estar segura, tal como reafirmou a ministra Luísa Grilo, quando, referindo-se ao Executivo, disse que “é nosso interesse que os professore­s tenham condições de habitabili­dade e de trabalho. A valorizaçã­o do professor é do interesse do Executivo”.

Alguns poderão dizer que já leva há algum tempo parte das reivindica­ções, situação não negada pela governante, quando afirmou, num gesto digno de nota, que "reconhecem­os que há alguma morosidade, mas não é por falta de consideraç­ão, nem tão pouco de interesse em resolver os problemas, mas é a complexida­de dos mesmos, que, de certeza absoluta, com ou sem a pressão dos professore­s, vão ser resolvidos”.

Acreditamo­s que as partes chegarão, tal como no passado, a uma plataforma de entendimen­to que permitirá evitar males maiores ao nível do Ensino Geral público cuja paralisaçã­o actual tende sempre a causar distorções, algumas até irreparáve­is.

Sabemos todos que as condições em que decorre o processo docente educativo, nas escolas públicas de Cabinda ao Cunene, não são ainda das melhores e que os investimen­tos estão ainda aquém do esperado, uma realidade que ninguém nega. Mas, independen­temente da complexida­de e exigências actuais para a melhoria da qualidade do nosso Ensino, devemos reconhecer os esforços feitos pelo Executivo, que procura, na medida comportáve­l para o Estado, melhorar a Educação no geral.

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