Vivências numa aldeia do Cuale
José Bartolomeu é um jovem que sempre viveu na cidade de Malanje. A assinatura dos acordos que traduziram a paz definitiva para o país estimularam o seu regresso para a terra que lhe viu nascer. Foi guiado por ele que o Jornalde Angola entrou nos meandros das comunidades do Cuale e arredores
José Bartolomeu é filho do soba Bartolomeu Katota, do bairro Phenza, de quem recebeu a orientação de nos conduzir até à mesa da Rainha Njinga Mbande, no Cuale. Ele aceitou a incumbência que lhe foi dada pelo pai e eis que, com um companheiro seu, pusemo-nos a caminho em direcção à Zona Baixa, ou seja, a zona dos Dongos, uma região com características muito particulares.
“Sou filho do mais velho a quem pertence essa região. Ele me deu a responsabilidade de vos conduzir. Estamos já a caminho do local e esperamos que a vossa visita se repita por mais vezes. Nasci aqui, fiz o resto da minha juventude na cidade de Malanje e tornei a regressar logo após a assinatura dos acordos de paz. Resido aqui como filho e natural do Cuale, no bairro Dombo”, disse o nosso cicerone.
José Bartolomeu descreveu como “difícil” a situação que se vive na região. “Tocando no processo de ensino e aprendizagem, é um problema sério. As crianças não estudam, jovens a crescer, nem sequer sabem assinar os seus nomes”, lamentou.
Por sua vez, aos 48 anos de idade, Francisco Salomão Mulengue vive no bairro Diva. “Vivemos aqui já há muito tempo, mas ficamos tristes devido à péssima situação que vivemos. Na via principal, a estrada está asfaltada, e o que nos intriga é o facto de as crianças não andarem na escola”, disse.
Esta razão fez com que Francisco Mulengue se deslocasse à sede da comuna com uma lista de 70 crianças que se encontram fora do sistema de ensino, para as autoridades administrativas locais encontrarem solução.
“Essa relação que eu trouxe vem do levantamento dos alunos fora do sistema de ensino. Levamos lá na sede. A lista tem 70 crianças. Somos seis bairros mas nessa lista constam apenas crianças do meu bairro, o Diva”.
Regedor Miluanga
“A estrada da Missão Católica ao sector do Luquinge estava para ser reabilitada em seis meses, mas, hoje, já lá vão dois anos que nem água vai, nem água vem. Estamos a pedir para que o Governo vele pela situação”, foi assim que começou por falar o regedor Miluanga.
O líder tradicional revelou que as aldeias do Catuca e os sectores de Kissanga e Nganje, e outras localidades, encontram-se em péssimas condições, apesar de lá se produzir de tudo um pouco.
“De tudo que vai ao subsolo nada falha. O nosso maior problema é como escoar o produto A pessoa para conseguir pelo menos um quilo de sal ou um litro de óleo é preciso percorrer entre 30 e 40 quilómetros com uma trouxa de bombó na cabeça, a fim de fazer a permuta”, disse.