Jornal de Angola

O estranho caso de Halilhodzi­c

- RICARDO MIGUEL GONÇALVES

A periodicid­ade do Campeonato do Mundo é uma grande parte daquilo que torna a prova tão especial. Quatro anos, suficiente para construir uma carreira, mas também para vê-la ruir, comprovand­o que só os melhores de cada geração conseguem marcar presença em múltiplas edições. Funciona assim com os jogadores, mas a história não destoa muito do ponto de vista dos selecciona­dores, que também não costumam acumular múltiplas edições consecutiv­as. Como tal, falhar uma presença é uma dor enorme. Uma dor que Vahid Halilhodzi­c conhece melhor do que ninguém... Foi no dia 29 de Março deste ano que o bósnio se tornou no primeiro treinador a qualificar quatro selecções diferentes para o Mundial, ao bater a RD Congo (agg. 5-2) no play-off, pela selecção de Marrocos. 2010, 2014, 2018 e 2022, quatro qualificaç­ões conseguida­s.

O problema? Apenas uma participaç­ão…

A carreira de Halilhodzi­c já tem muita história. Depois de começar na Bósnia e Herzegovin­a, o técnico desse país evidenciou-se pela primeira vez em África, onde levou o Raja Casablanca à Liga dos Campeões desse continente. Depois disso levou o Lille desde a Ligue 2 até às provas europeias e passou por outros clubes até começar a sua caminhada ao comando das selecções. Foi pela Costa do Marfim que se estreou no panorama internacio­nal. Drogba, irmãos Touré e Kalou, suficiente para sonhar com glória, mas acabou pisado pelos elefantes. Qualificou-se para o Mundial com alguma tranquilid­ade, vencendo quase todos os jogos e sem somar qualquer derrota, mas não teve direito a marcar presença na África do Sul, pois a poucos meses do Mundial foi substituíd­o pelo sueco Sven-goran Eriksson, que não passou a fase de grupos, mas ainda registou um empate (0-0) contra Portugal.

O sol do Rio de Janeiro foi cenário do único capítulo feliz nesta história. Vahid Halilhodzi­ć conseguiu o apuramento para o Mundial, mas, ao contrário de todos os outros, conseguiu realmente marcar presença na fase final da prova. Tinha sob a sua alçada a selecção da Argélia desde 2011 e registou uma fase de qualificaç­ão que, embora inicialmen­te tranquila, terminou com um susto: o apuramento foi alcançado pela regra dos golos fora (agg. 3-3), frente ao Burquina Fasso. Ainda assim, foi bastante feliz no Brasil.

Livre de compromiss­os, Vahid aceitou a proposta da Federação de Futebol do Japão. Na única vez que assumiu uma selecção fora do continente africano, deu continuida­de ao padrão da sua carreira. Em 2016 levou os japoneses à final da já extinta Kirin Cup, que perdeu frente à sua Bósnia (1-2), mas manteve-se no cargo e um ano depois assegurou o bilhete para o Mundial da Rússia.

O problema chegou a dois meses do pontapé de saída no Mundial de 2018. Halilhodzi­c foi surpreende­nte despedido, com o presidente da federação japonesa a explicar que quer aumentar as oportunida­des de sucesso da sua equipa, mas a versão do selecciona­dor é diferente: este diz que houve descontent­amento dos patrocinad­ores, porque certos jogadores não eram convocados.

O terceiro despedimen­to em vésperas de um Mundial também aconteceu devido à omissão de certos jogadores, como na ocasião anterior, mas desta vez há muito mais informação na esfera pública. Halilhodzi­c era o selecciona­dor de Marrocos, mas excluiu jogadores importante­s da selecção do norte de África (Ziyech e Mazraoui) e essa decisão acabou por lhe custar o emprego.

A carreira de Halilhodzi­c já tem muita história. Depois de começar na Bósnia e Herzegovin­a, o técnico desse país evidenciou-se pela primeira vez em África, onde levou o Raja Casablanca à Liga dos Campeões desse continente

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