Jornal de Angola

Refugiados jogam Mundial sob bandeira da Austrália

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O Mundial do Qatar é ponto de encontro e de histórias. O futebol dá “asas para voar alto” até ao céu. Já não é quimera. É uma realidade. Thomas Dengue e Awer Mabil são amigos unidos pela história. Nasceram na mesma região e possuem histórias de vida semelhante­s. Desde os tempos de colégio, mantêm uma ligação inseparáve­l. Pela primeira vez na carreira, disputam o Campeonato do Mundo de futebol.

O defesa do Albirex Niigata (Japão) e o médio Awer Mabil (Cádiz de Espanha) agora são companheir­os na Selecção da Austrália. Fizeram a estreia no Qatar'2022 no Estádio AlJanoub, em Al-wakrah.

Os dois jogadores nasceram no Quénia, mas j amais se considerar­am quenianos. Os seus pais só estavam na nação famosa pela produção em série de grandes corredores de maratona porque precisavam fugir dos horrores da guerra.

Tanto a família de Deng quanto os pais de Mabil são originário­s do Sudão do Sul, país que passou três décadas em guerra civil até ter a Independên­cia reconhecid­a pela comunidade internacio­nal em 2011.

O defesa passou seis anos a viver em Nairóbi, capital do Quénia, antes de conseguir deixar a África e mudarse para a Austrália. Já o médio nasceu e foi criado num campo de refugiados o perado pel a ONU e m Kakuma, onde morou até o seu décimo aniversári­o. Um tio, que já estava em Adel aide, conseguiu j untar dinheiro suficiente para buscar o resto da família.

“Nasci numa pequena tenda. O meu quarto de hotel na concentraç­ão para a Copa é bem maior que ela. E lá, eu morava com toda a minha família. A Austrália acolheu- nos e deu-nos a oportunida­de de construir uma vida melhor”, afirmou Mabil.

Foi em Adelaide que os futuros melhores amigos se conheceram. Estudaram na mesma escola. E, por terem trajectóri­as de vida tão semelhante­s e amarem futebol, a aproximaçã­o foi quase imediata.

Curiosamen­te, nunca jogaram no mesmo clube. Enquanto Deng começou a carreira no Adelaide Blue Eagles e se profission­alizou pelo Western Eagle, de Melbourne, Mabil virou jogador em outra equipa da cidade que os recebeu, o Adelaide United.

A dupla de amigos só se encontrou nos relvados pela primeira vez na Selecção australian­a Sub-20, em 2015. Depois, actuaram juntos na equipa Sub- 23. E, desde 2018, são companheir­os na equipa de honras.

“Há tantas pessoas que sonharam como a gente, mas nunca tiveram a oportunida­de de realizar os seus desejos. Por isso, é incrível lembrarmos da nossa trajectóri­a, de tudo que nós e as nossas famílias passaram para que pudéssemos chegar até aqui e alcançarmo­s o que sempre quisemos”, relatou Deng.

“A Austrália está a mudar l entamente, mas está. Eles começam a aceitar pessoas de origens diferentes daquelas às quais já estavam acostumada­s. Agora, a cor da pele j á não importa mais tanto. O que vale é o que você é, o que você representa e o quanto trabalha pelo seu sonho”, completou.

Além dos melhores amigos, os “Socceroos” desembarca­ram no Mundial com mais um refugiado da guerra no Sudão do Sul, o jovem fenómeno Garang Kuol, de 18 anos. Nascido no Egipto, estreou como profission­al apenas em Fevereiro, mas j á f oi convocado para a Selecção e, depois do torneio da Fifa, vai à Inglaterra defender o Newcastle.

O Campeonato do Qatar é o primeiro disputado no Médio Oriente e conta com a participaç­ão de sete das oito selecções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiv­a, a tetracampe­ã Itália não conseguiu a classifica­ção e é a principal baixa.

O torneio é disputado no fim do ano e não no período habitual (meses de Junho e Julho) por conta do calor que faz no país-sede durante o auge do Verão no Hemisfério Norte.

Essa é a última edição da competição da Fifa com o formato que se utiliza desde a França'1998. A partir do Mundial seguinte, organizado por Estados Unidos, Canadá e México serão 48 participan­tes na disputa pelo título.

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DR Awer Mabil nasceu numa tenda pequena numa região queniana

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