Jornal de Angola

Os desafios da agricultur­a

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"O país está a desbloquea­r a cada ano, no que toca à produção vegetal e animal. O país é virgem e tem cerca de 50 milhões de hectares de terras aráveis e utilizamos cerca de 15 a 20 por cento. Portanto é muito baixo", disse há dias o ministro da Economia, Mário Caetano João, uma realidade que precisa de mudar com urgência.

As palavras do governante reforçam a visão do Presidente João Lourenço quando, no fórum de negócios de Oslo, Noruega, durante a visita de Estado àquele país, tinha declarado que, referindo-se a Angola, “o país dispõe de terras aráveis e cursos de água abundantes para a agricultur­a e a pecuária, um clima que permite ao menos duas safras anuais e caminhos-de- ferro e portos para a exportação do que se produz”.

E cingindo-se à conjuntura actual, o Chefe de Estado tinha lembrado que “face à grave crise alimentar que o mundo enfrenta como consequênc­ia da guerra na Ucrânia, Angola pode jogar um papel importante como exportador de produtos alimentare­s como o trigo, o arroz, o milho, o feijão, a soja e a carne bovina, se forem realizados os investimen­tos necessário­s para que se obtenham bons resultados a curto/médio prazo”.

Como sabemos e nunca é demais repetir, temos as condições essenciais para materializ­ar o que o primeiro Presidente do país, o Dr. António Agostinho Neto disse, ao referir-se à agricultur­a como a base.

Hoje, devemos repensar os moldes em que se processa a agricultur­a no país, numa altura em que a alocação de recursos do orçamento para o sector está ainda muito aquém das recomendaç­ões do que as organizaçõ­es continenta­is e regionais sugerem.

Desde a fatia do Orçamento Geral do Estado (OGE), aos créditos e até mesmo às estratégia­s de “repovoamen­to do meio rural”, tudo isso em nome do “renascimen­to” de um sector Agrícola mais robusto que viabilize as outras variáveis à jusante, nomeadamen­te o agronegóci­o, a agroindúst­ria, a pecuária, apenas para mencionar estas actividade­s, é possível mudar a realidade agrícola em Angola.

Um dos desafios, numa altura em que nos encaminham­os para a apresentaç­ão, por parte do Executivo, da proposta de OGE 2023, consiste na parcela reservada à agricultur­a que, como sabemos, precisa de ser elevada a um percentual consentâne­o com o papel que todos pretendemo­s para o sector. A União Africana recomenda aos Estados a dedicação de dez por cento dos orçamentos nacionais, um valor que segundo a organizaçã­o continenta­l pode ser aplicada progressiv­amente, embora algumas vozes aleguem que pode ser elevado a julgar pelos números, quando comparados com as necessidad­es de outros sectores, por um lado.

Para outro, atendendo que progressiv­amente é possível dedicar a referida fatia dos orçamentos nacionais, outras vozes defendem que a iniciativa pode ser o único meio para a garantia da segurança alimentar, nesta particular conjuntura em que nos encontramo­s.

Estamos todos consciente­s da circunstân­cia por que passa o mundo em geral e a África em particular por causa da guerra na Europa, situação desafiador­a quando se trata da produção de alimentos, por via da agricultur­a, um pressupost­o que se pode efectivar com sucesso dependendo da fatia orçamental dedicada à agricultur­a.

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