Formação religiosa metodista de Agostinho Neto influenciou na luta pela igualdade dos oprimidos
Conferência internacional, enquadrada nos cem anos do nascimento do primeiro Presidente de Angola, juntou, ontem, no Memorial, em Luanda, estudantes e investigadores nacionais e estrangeiros para reflectir sobre a trajectória do estadista
O docente universitário brasileiro Anelito de Oliveira ressaltou, ontem, em Luanda, que toda a actividade política desenvolvida pelo primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, teve uma base na solidariedade e na defesa dos direitos de igualdade dos povos, fruto da sua formação religiosa metodista.
Ao dissertar na conferência internacional sobre “Os Homens Negros Ignorantes - Agostinho Neto e a Poesia da Solidariedade Africana, realizada, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, o docente e doutorado em Literatura ressaltou que a formação religiosa do primeiro Presidente de Angola, enquanto jovem, permitiu- lhe perceber a importância da humanização e procurar lutar pelo interesse da colectividade.
Com um profundo conhecimento sobre a literatura do Fundador da Nação, Anelito de Oliveira tem desenvolvido nas universidades brasileiras estudos e debates sobre a vida e obra de Neto devido a sua abrangência universal por causa da dignidade humana na defesa dos direitos de igualdade dos povos oprimidos.
Durante aproximadamente duas horas de diálogo com estudantes, pesquisadores e estudiosos sobre a obra de Agostinho Neto, o docente brasileiro fez saber que Neto tomou consciência que a fé sem afecto seria inútil e que precisa ser um agente activo e modificador de consciências, de maneira que os nativos pudessem adquirir os seus direitos e exercer a sua cidadania plena.
No sentido patriótico, classificou Agostinho Neto, como alguém que sempre se preocupou unificar os angolanos, sempre na perspectiva que se construir uma nação seria importante o respeito mútuo, saber na diferença, por ser significativa para a construção, manutenção e expansão das potencialidades de uma nação.
O patriotismo de Agostinho Neto, continuou, contribui, decisivamente, para a construção de uma Angola que, a sua geração na década de 1940, sonhou como uma nação unificada, na sua harmonia interior. Para se construir uma nação de valores, Neto, disse, teve que abrir mão de muitos sonhos pessoais e pensar sempre no bem comum, no colectivo e nunca no individual.
Anelito de Oliveira sublinhou que o patriotismo de Agostinho Neto está reflectido nas suas obras, o que o obrigou a abdicar de vários princípios familiares, para se dedicar em defesa dos mais necessitados. “Ele se sacrifica pela colectividade e foi com essa entrega que durante anos dedicou-se à luta e à causa revolucionária em Angola, em particular, e em África, no geral”.
“Agostinho Neto foi um homem do mundo e temos que aprender sempre com os seus ensinamentos para a edificação do nosso país”
Como r e f e r ê ncia do patriotismo e solidariedade da poesia de Neto, o académico brasileiro apresentou como proposta de análise, os poemas “Adeus à Hora da Largada” e “Velho Negro”, que exprimem uma perspectiva da ascendência colectiva.
Quanto aos versos do Poeta Maior, disse, está subentendido a sua preocupação com os negros oprimidos pelo colonialismo ao longo de quatro séculos. No entanto, explicou, foi com esse princípio, que o estadista Agostinho Neto se dedicou pelas causas nobres, pelos quais, toda uma acção social de ver um propósito. “Os homens negros ignorante não foram por vontade própria. Sociedade não é uma questão de querer, mas de poder. Não se é culpado por não se ter acesso à escola. Quando se é ignorante e não se tem conhecimento, há
uma causa, não apenas local, mas global”.
Na sua visão, Agostinho Neto torna-se revolucionário, transformador em razão do que viveu e fruto do que foi produzido pela colonização no país e no continente africano. “A solidariedade é um traço característico da poesia de Neto, que faz a sua obra ser de empoderamento, motivacional das pessoas oprimidas como parte do processo de valorização do homem”.
O administrador da Fundação Sagrada Esperança, João Bernardo, incentivou a
administração do Memorial Dr. António Agostinho Neto a continuidade do mesmo exercício por permitir aumentar as fontes de conhecimento e de saber sobre a vida e obra do presidente Neto.
João Bernardo explicou estar em contacto com académicos e estudiosos internacionais, no sentido de ajudar a promover e a difundir a obra de Neto pelas grandes universidades mundiais. “Agostinho Neto foi um homem do mundo e temos que aprender sempre com os seus ensinamentos para a edificação do nosso país”.