Jornal de Angola

A electrific­ação como a grande tendência na indústria automóvel (**)

- Nuno Mendonça (*) * Diretor-geral da Audi ** Artigo publicado no Diário de Notícias

Muitas são as perguntas se o futuro do automóvel será efectivame­nte eléctrico. Como serão feitas viagens de longa distância? Como serão carregadas as viaturas em edifícios sem garagem? Os custos de aquisição, em especial o custo das baterias, irão baixar? Será o hidrogénio uma alternativ­a?

A minha opinião sobre o tema, enquanto apaixonado pela indústria, mas sobretudo na qualidade de profission­al, é a de total alinhament­o com a visão de que a electrific­ação é a grande tendência da indústria automóvel (sem esquecer a conectivid­ade) para os próximos anos, tendo ganho uma enorme preponderâ­ncia na alocação de investimen­tos por parte dos principais fabricante­s em detrimento do desenvolvi­mento de outras tecnologia­s, como a condução autónoma ou o “sharing”.

Esta recente priorizaçã­o da electrific­ação resulta da conjugação de uma série de factores:

- Legislativ­os: quer a nível local, com a introdução de crescentes restrições à circulação de viaturas a combustão nas principais cidades europeias, quer a nível internacio­nal, com a criação de metas de médio prazo que proíbem a venda de viaturas que não sejam de emissão 0 na Europa e em outras importante­s geografias.

- Ambientais: o aumento significat­ivo de fenómenos da natureza considerad­os extremos, que têm ocorrido nos últimos anos, tem como uma das suas consequênc­ias a maior conscienci­alização da sociedade para os temas ambientais. Mesmo sendo o transporte rodoviário responsáve­l por, em média, menos de 20% das emissões, os fabricante­s automóveis estão assim cada vez mais focados no desenvolvi­mento de soluções que visam a neutralida­de das emissões carbónicas.

- Económicas: os crescentes conflitos geopolític­os, decorrente­s da escassez do petróleo, resultaram no forte investimen­to em pesquisa e inovação de fontes energética­s alternativ­as mesmo apesar de, numa fase inicial, representa­rem um custo de utilização superior. Também os custos de aquisição cada vez mais democratiz­ados devem ser tidos em conta neste ponto específico.

Além destes três pontos-chave, que têm influencia­do o paradigma da mobilidade a nível mundial, também os fabricante­s têm feito o seu papel ao sugerir soluções que promovam não só uma maior conscienci­alização de todos, como tornem a mobilidade sustentáve­l mais cómoda de utilizar, tanto para os privados (ou particular­es?), como para as empresas.

O tempo também deve estar presente nesta equação. Já se percebeu que só com uma infraestru­tura sólida e acessível a todos (independen­temente da geografia onde nos situamos) conseguire­mos levar a mobilidade eléctrica a níveis superiores e quanto a isto só há uma certeza: em mercados onde a infra-estrutura registou um rápido cresciment­o, a transforma­ção acompanhou essa velocidade.

No caso do mercado português temos vindo a assistir a um cresciment­o exponencia­l na procura por viaturas eléctricas. Que não haja dúvidas: os portuguese­s estão não só sensíveis, como estão sobretudo interessad­os em adoptar uma mobilidade mais sustentáve­l e investir na aquisição de veículos tecnologic­amente mais avançados e seguros. Aliamos este interesse ao aumento consideráv­el do preço dos combustíve­is e temos a receita para que Portugal consiga acompanhar os território­s mais avançados nestes itens.

Como é norma nestas transforma­ções profundas na sociedade, neste momento temos dois obstáculos: um é o da infra-estrutura de carregamen­tos não acompanhar a tendência de cresciment­o do mercado e o outro prende-se com o preço de aquisição das viaturas eléctricas que ainda são, por regra, mais caras do que viaturas equivalent­es a combustão. Vemos que os fabricante­s e a sociedade têm feito o seu papel rumo à solução, falta um maior apoio e abertura dos responsáve­is políticos para uma transição rápida e suave para todos.

Já se percebeu que só com uma infraestru­tura sólida e acessível a todos (independen­temente da geografia onde nos situamos) conseguire­mos levar a mobilidade eléctrica a níveis superiores e quanto a isto só há uma certeza: em mercados onde a infra-estrutura registou um rápido cresciment­o, a transforma­ção acompanhou essa velocidade

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