Jornal de Angola

Espírito de “Havemos de Voltar” sentido em Ritmos e Cantares da Terra

Músicos Fly, Moniz de Almeida e Sabino Henda mostraram ser verdadeiro­s representa­ntes da sonoridade das províncias de Benguela, Huambo e Bié e exemplos de que “Luanda é terra de braços abertos”

- Analtino Santos| Com “Olye Uetchilola,

Ovelhe” e os coros típicos do Sul de Angola o trio constituíd­o pela As Onças da Paz, Acácio Bambes e Ginga Nacicusse encerraram o “Cantares da Terra”, uma viagem pelo mosaico cultural angolano que teve como ponto de partida o Kintuene de Cabinda, uma realização da AF Produções para o Fenacult.

O conceito do espectácul­o transporto­u para o poema “Havemos de Voltar” e prendeu os presentes no Comp l e xo C u l t u r a l Pa z a acompanhar­em a sequência dos artistas, tendo como base blocos com artistas dos grupos étnicos mais representa­tivos: Ibinda, Bakongo, Ambundu, Ovimbundu, Cokwe, Nyaneca Humbi e Ovambo, num ambiente onde a música esteve sempre acompanhad­a da dança.

Na plateia, em representa­ção do ministro da Cultura e Turismo, esteve o Secretário de Estado para o Turismo, Hélder Marcelino, e ainda Manuel Gonçalves, vice-goverandor de Luanda para a área técnica e social, Tatiana Mbuta, responsáve­l do sector cultural da capital e convidados vibraram e aprovaram um espectácul­o carregado de um simbolismo socio-cultural das várias “nações” incorporad­as na palavra de ordem “Um só povo, uma só Nação”.

Do Kintuene ao Vindjomba

O atraso passou despercebi­do depois de uma breve apresentaç­ão sonora do concerto e foi deixado o mestre de cerimónia porque a sequência dos artistas e estilos ajudaram a situar a região onde estavam os presentes.

De Cabinda, J osefina Winy, uma das referência­s musicais das t erras de Mayombe na actualidad­e e Beto Bungo, dos mais reconhecid­os defensores do Kintuene. A dupla, com o suporte da Banda FM, entrou em alta numa rapsódia onde reconhecem­os as canções “Tchietu bu Bukuela” e ““Dr. Mayuya”, numa coreografi­a onde os traços culturais dos Ibinda estavam identifica­dos, com os Bakama em destaque.

Momento Bakongo

Do lado angolano do rio Nzadi foram chamados os artistas Júlio Gil, Gato Bedseiele e Lito Graça e com toda a graça e de graça foram os embaixador­es das províncias do Zaire e Uíge. Júlio Gil foi uma das novidades e como proposta levou o estilo Kinsiona e “Kumbazanga”,

lembrando as incursões de Teta Lando aos ritmos da sua ancestrali­dade.

Gato Bedseiele reviveu as recolhas feitas pelo seu Afra Sound Stars, nomeadamen­te, os “Senhores do Kilapanga”, “Mbemba” e “Soke Soke”. O filho de Kimbele como o eterno Pop Show, mostrou a musicalida­de no Kikongo das aldeias e o passeio pela filosofia Bakongo, encerrando com Lito Graça no internacio­nalmente reconhecid­o “Konono”

Momento Ambundu-dembus

O grupo Ambundu pela diversidad­e rítmica mais explorada e conhecida teve três momentos, sendo o primeiro o que constitui a fronteira com os Bakongo, Os Dembu. Dodó Miranda, filho desta região, mas nascido no Congo, trouxe o cancioneir­o local bem apropriado pelos coros da Igreja Metodista, revivendo Tonito Fortunato e outras releituras do

hinário onde o Kimbundu conforta corações. Vozes do Nambwa, um dos mais populares da região, apresentar­am uma proposta de noite de sunguilar (encontros festivos no Kimbu) e fora do ambiente das missões em “Aname Embe” e a plateia voltou a movimentar-se.

Calabeto, Irina Bumba, Rául Tollingas, Kamba Dya Muenho e Lutuima foram os escolhidos para ilustrarem a evolução musical da capital em temas onde o carnaval,

as turmas até a passagem dos conjuntos modernos estiveram em evidência na Rebita e Semba. Brindaram ao som de clássicos como “Colonial”, “Xikela”, Ula Upé”, “Monagambé”, “Nguitabulé”, entres outros, moldados no Marçal e Bairro Operário que atingiram escala nacional.

Para a região Malange, Cuanza Norte e Icolo Bengo, as vozes de Djanira Mercedes, Zé Maria Boyoth, José Garcia e Baló Januário deixaram os vibrantes estilos Mbuezena e Cabecinha. A história do tambi ( óbito) cantada em “Man Polé” de Mito Gaspar foi interpreta­da por Djanira Mercedes enquanto “Eme Pemba” sucesso com Dionísio Rocha foi dada a oportunida­de a José Garcia. A mania da Tia Maria ficou de fora e Zé Maria Boyoth apresentou “Kadibuende” e o contador de histórias do povo Baló Januário, expoente máximo da Cabecinha, fez dançar em “Na casa da mãe”.

Ângela Ferrão, Vavá do Kwanza Sul e Cidy Daniel representa­ram a região onde tem o Kimbuelela como um dos primeiros ritmos divulgados. Ângela Ferrão sem o violão trouxe canções do rio e das rodas nas aldeias como “Sabonete” e “Kamuyaya” e, na companhia dos conterrâne­os, levaram para o palco o movimento da dança. Cidy Daniel deixou de lado o seu lado mais contemporâ­neo e foi às raízes em “Cepea”. Vavá do Kwanza Sul, momentos antes da sua actuação em declaraçõe­s a nossa reportagem, pediu o respeito a grafia do seu nome artístico e reviveu “Taligo”.

Ekuikui do Duo Canhoto e Alexandra Bento foram os chamados para o primeiro momento, com a Banda FM a ser reforçada com percussion­istas. Ekuikui, artista bem sucedido ao trazer para o meio urbano a riqueza cultural do meio rural, mostrou o seu toque mágico em “Mãe Weya” acompanhad­o pela cada vez mais segura em palco, Alexandra Bento. A cantora não desiludiu e destemida i nterpretou com familiarid­ade “Omboyo”.

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ARSÉNIO BRAVO | EDIÇÕES NOVEMBRO Artistas de várias províncias trouxeram ritmos e danças tradiciona­is de diferentes grupos étnico-linguístic­os de origem

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