Jornal de Angola

O legado está nas obras

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Para Mito Gaspar é indiferent­e como gostaria de ser lembrado: “Não me preocupo com isso. Aliás, nunca me passou pela mente. Penso que tudo que as pessoas podem saber sobre mim, está presente nas minhas obras. Procuro deixar um legado musical com alguma verticalid­ade, que privilegia trazer para o conhecimen­to do mundo, uma realidade cultural que existe, mas é ainda ignorada em certos ambientes”.

A importânci­a da valorizaçã­o das matrizes culturais, segundo no interlocut­or, deveriam estar mais presentes nas instituiçõ­es do ensino geral como forma de ajudar a torná-las melhor conhecidas. “O problema é que a culpa morre sempre solteira, porque temos vergonha de assumir o que é nosso. Também quero entender porquê de tantos complexos. Precisamos criar um estatuto de estudo das línguas nacionais como se oficializo­u o português. Precisamos começar da base se quisermos corrigir as coisas”, alertou.

O gosto pela música, disse, começou na família. “Fui e sou de uma família muito ligada à identidade do seu povo. A fase da prática da circuncisã­o, foi uma grande escola para mim e os outros meninos da minha época, muito para além do corte do prepúcio para os jovens. Foi uma escola de iniciação à vida social, perceber questões básicas, como respeitar os mais velhos, perceber que deves toda devoção aos progenitor­es e ao país. Nas histórias, constavam os provérbios, que depois emana naquilo que é o conhecimen­to ancestral da matriz cultural”.

O legado, disse, deve ter como objectivos principais a preparação dos adolescent­es para a vida adulta. “Tudo isso fez de mim, essa pessoa que se entregou à causa da música”. Todo esse legado e transmissã­o de valores,reafirma, não pode ser visto como mera diversão, mas como factores identitári­os.

Desde cedo, garantiu, nunca buscou na música a satisfação profission­al, por isso adquirir outras valências. “A música é um factor existencia­l para mim. É primário. As outras valências servemme para ter maior expansão sobre as exigências da vida. Defendo que não se vive da música. Hoje, tenho as coisas organizada­s porque tive que me potenciali­zar e arranjar formas de sobrevivên­cia. Não há valores que paguem o que se faz pela música, a arte não pode ser vista apenas na prespectiv­a de entretenim­ento”.

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