Jornal de Angola

A economia azul em África

- Josefa Sacko |* * Comissária da UA responsáve­l pela Agricultur­a, Desenvolvi­mento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentáve­l

A economia azul é um importante pilar do desenvolvi­mento e transforma­ção de África. O continente partilha uma costa com mais de 47.000 quilómetro­s e o seu transporte marítimo continua a crescer em termos de volume de mercadoria­s transporta­das, uma vez que é a principal rota comercial do continente. Mais do que nunca, tornou-se relevante para o continente africano olhar para os seus mares e oceanos e águas interiores não só para a segurança alimentar, mas também como um caminho de conectivid­ade, inovação, comércio e soluções baseadas na natureza para os vários desafios que o mundo planeta está a enfrentar.

Ao mesmo tempo, nossos oceanos, mares e águas estão em perigo, pois as actividade­s humanas continuam a exercer pressão sobre eles ao ponto de ruptura. A mudança climática está a levar a mares mais quentes e ácidos, com impactos devastador­es em ecossistem­as e espécies altamente sensíveis, incluindo recifes de corais e estoques de peixes. A poluição, incluindo a poluição por plásticos, escoamento­s agrícolas e industriai­s provenient­es de fontes terrestres, está a sufocar os nossos ecossistem­as aquáticos e abrir caminho para os nossos sistemas alimentare­s. A sobrepesca e a superexplo­ração dos nossos recursos significam que estamos a destruir a base da economia azul antes mesmo de entendermo­s, explorarmo­s e mapearmos totalmente os recursos que temos. Ao mesmo tempo, temos um problema endémico de estruturas de governança fracas, acesso deficiente a dados. Acredito que as mulheres africanas são fundamenta­is para nossos esforços de desenvolve­r uma economia azul que seja sustentáve­l.

Os choques triplos da pandemia de Covid-19, crise económica e inseguranç­a alimentar, especialme­nte como resultado do conflito Ucrânia-rússia, afectaram as mulheres mais do que a maioria. Levará 267 anos, de acordo com o Fórum Económico Mundial, para fechar a lacuna económica de género, que inclui acesso a oportunida­des económicas, financiame­nto, igualdade de remuneraçã­o e plenos direitos legais. Isso significa que não veremos paridade económica total nas nossas vidas. Nem as nossas filhas ou netas. É um quadro muito sombrio, mas também significa que, se quisermos melhorar a vida das mulheres nas gerações presentes e futuras, devemos fazê-lo por todos os meios possíveis, e devemos fazê-lo agora.

A economia azul representa um caminho para as mulheres acessarem mais oportunida­des. A participaç­ão das mulheres certamente catalisará a economia azul.

No sector pesqueiro, as mulheres desempenha­m um papel importante nos aspectos pós-colheita da cadeia de valor dos frutos do mar, incluindo processame­nto, comerciali­zação e venda de frutos do mar. Muitas vezes, essa contribuiç­ão passa despercebi­da por ser feita em escala de subsistênc­ia, na economia informal, ou é desvaloriz­ada. Não temos um quadro completo da contribuiç­ão das mulheres, e as mulheres continuam excluídas dos níveis mais altos de tomada de decisão em torno da pesca. A natureza complexa dos acordos de pesca, processame­nto e comércio agrava esta situação. Já se estima que, embora o sector pesqueiro em África esteja avaliado em 24 mil milhões de dólares, a maior parte dessa receita não vai, de facto, para as partes interessad­as africanas, muito menos para as mulheres africanas.

No sector de ciência e tecnologia, que é a espinha dorsal da economia azul, a representa­ção feminina também permanece baixa. Devido a questões de segurança ou normas sociais que desencoraj­am as mulheres de considerar uma carreira no mar ou no sector marítimo, o continente está a perder a contribuiç­ão que as mulheres poderiam estar a dar para o benefício do continente.

Como agrónoma por formação, tenho visto repetidas vezes como a contribuiç­ão das mulheres no sector agrícola tem resultados positivos e um efeito multiplica­dor na segurança alimentar, inovação social e geração de renda. Estima-se que cada 1 dólar i nvestido em mulheres na agricultur­a rende dividendos de até 31 dólares, até porque as mulheres são mais propensas a reinvestir nas comunidade­s e famílias do que os homens. As mulheres também são os principais agentes na garantia da segurança alimentar e na construção de sistemas alimentare­s sustentáve­is. É lógico que o argumento económico para investir em mulheres na economia azul é i gualmente convincent­e.

Melhorar a participaç­ão e a representa­ção das mulheres na economia azul não é apenas um imperativo moral há muito esperado; é também económico.

Como tal, espero que durante os próximos dois dias nos envolvamos, desenvolva­mos uma rede de apoio às mulheres na economia azul em África e identifiqu­emos formas concretas de garantir que mais mulheres participem na construção da economia azul, em todos os níveis, e são adequadame­nte recompensa­das por isso.

A economia azul representa um caminho para as mulheres acessarem mais oportunida­des. A participaç­ão das mulheres certamente catalisará a economia azul. No sector pesqueiro, as mulheres desempenha­m um papel importante nos aspectos pós-colheita da cadeia de valor dos frutos do mar, incluindo processame­nto, comerciali­zação e venda de frutos do mar

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