Poupar hoje para viver melhor amanhã
Jogar moedas no orifício do moringue de argila parece insignificante para muitos, mas para a oleira Chipahu Tumpunga tem uma perspectiva futurista. Ela faz vasos ornamentais de argila no município da Chibia, onde aprendeu a poupar milho com os pais. Foi-lhe ensinado que a cada colheita deve-se tirar uma parte do milho seco e guardar na Kimbala grande para servir de semente e mantimento futuro
A estiagem cíclica observada na região sul provoca ruptura nas reservas alimentares. Por isso, Chipahu Tumpunga apostou forte na olaria para sustentar os seis filhos. Na casa dos 50 anos, a oleira usa o hábito de poupança adquirido desde tenra idade para amealhar moedas, que guarda num moringue de argila. Além de vasos, panelas de barro e outros utensílios, ela e outras oleiras da Chibia fábricam agora estes tipos de moringue e vendem outras pessoas guardarem dinheiro. A senhora diz que pode fabricar este tipo de cofre em qualquer tamanho para incentivar as pessoas a guardarem uma parte do dinheiro que ganham.
A artesã foi buscar o moringue de argila que usa para poupar dinheiro e explica que muitos pais compram estes cofres artesanais para dar às crianças. Chipahu Tumpunga disse que guarda num sítio discreto da casa o cofre com um orifício em que passam moedas metálicas e/ou notas dobradas. Ela prefere continuar a depositar mais dinheiro do que saber o valor monetário total que está no moringue.
“Só vou tirar quando tiver necessidade. Agora é só meter. Quero comprar uma coisa boa. Há mais moringue que já encheram”, revela contente, em língua nacional Nhaneka-humbe.
Impacto da poupança
A poupança tem impacto na vida individual, familiar e colectiva. Adiar o consumo afinal pode significar segurança e uma vida melhor no futuro, segundo o Banco Nacional de Ango l a . O volume de poupança no mercado formal pode também afectar, positiva ou negativamente, a solidez e a eficiência do sistema financeiro pelos efeitos sistémicos
de natureza económica, alerta o director regional sul do Banco Nacional de Angola.
Sandro dos Santos, que dissertou sobre o tema “Relevância socioeconómica da poupança”
numa Oficina de Educação Financeira, alertou que as dificuldades financeiras dos indivíduos não afectam apenas as suas famílias e as empresas, mas a sociedade em geral. “O efeito é abrangente pela fragilidade no desenvolvimento humano, pela sobrecarga das redes de protecção social, que podem colocar em causa a solidez e a eficiência do Sistema Financeiro”, argumentou.
O director regional sul do Banco Nacional de Angola defendeu a consciencialização dos cidadãos sobre a importância de poupar desde a mais tenra idade. Afirmou que, no campo individual, a poupança permite encarar o futuro com maior segurança, e planear e desenvolver projectos pessoais e familiares com maior precisão. Já no colectivo, é necessário depositar a parte dos rendimentos poupados junto de entidades financeiras especializadas.
“O aumento dos níveis de poupança permite liberar fundos para financiar investimentos, rumo à diversificação da economia. A poupança deve ser tratada com uma questão de interesse nacional e regional. Devemos seguir o exemplo do Botswana”, citou, acrescentando que as reservas financeiras concorrem para o aumento da Produção Interna e para o bem-estar e a redução
do desemprego, da pobreza e das desigualdades.
“Às vezes subestimamos o que podemos fazer no curto prazo e subestimamos o que queremos fazer no médio e longo prazos. Para poupar é preciso disciplina, regularidade e definição de prioridades. A grande questão é como passar da poupança para o investimento?”, indagou, antes de defender uma abordagem franca e aberta sobre o assunto, a partir do ensino de base. Sublinhou a relevância socioeconómica de criar reserva financeira para eventuais imprevistos, gastar o dinheiro com inteligência eliminando do orçamento os gastos desnecessários, controlar as despesas e definir prioridades por meio do orçamento pessoal e familiar e investir estrategicamente.