Viagem memorável ao Deserto de Baikonur
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A caminhada inicia. Aos poucos, a tranquilidade vem ao de cima, quando percebo estar rodeada de excelentes profissionais. Simpáticos, verdadeiros companheiros e patriotas.
Mal desembarcamos, o frio intenso de Moscovo deunos as boas-vindas. O ar húmido que respiramos já não é o mesmo da “banda”. É como se tivesse enfiado o nariz no congelador. O momento remete-me à doce infância e às traquinices de menina. Adorava colocar o narizinho no congelador, para sentir o fresco, uma época em que nem sequer sonhava com o ar condicionado.
Mas nada comparado ao frio aterrador de Moscovo. Um compatriota desvaloriza a sensação térmica que sentimos. Revela que não é nada comparado ao inverno brutal de Dezembro, altura em que o gelo preenche as avenidas. Tomada pelo pânico, penso comigo: “Dezembro na Rússia, never que never!”.
O frio é tanto que mal dá para sentir o rosto. Em alguns momentos, nos sentimos como que completamente despidos, sem qualquer agasalho a cobrir o corpete. Pergunto à Vânia Varela se tem a mesma sensação de perder a sensibilidade do rosto. Num tom simpático, ela respondeu: “Edna, não sinto o rosto,
nem as orelhas”. A gargalhada é inevitável.
Por segundos, vejo-me a circular que nem uma doida, enquanto o serviço prot o c o l a r da Embaixada organiza as malas e decide quem vai no primeiro ou segundo carro. Já com as viaturas em circulação, o olhar convida-nos a apreciar a bela cidade de Moscovo, com aqueles imponentes castelos dos filmes e séries. Um sentimento de segurança invade a minha mente, ao não avistar qualquer elemento fardado nem ves t í gi os de guerra. Penso comigo: “Afinal, aqui há vida, ya!”. Uma realidade que contrasta com a imagem de uma cidade pálida, quase abandonada, que trazia comigo, fruto das notícias sobre a Rússia que chega de vários meios europeus e ocidentais.
De repente, um aspecto desperta a atenção da delegação angolana: um interminável engarrafamento, em pleno centro da cidade, capaz de superar o trânsito de Luan
da na hora de ponta.
Deserto de Baikonur
Em Moscovo, já depois de um baptismo de engarrafamentos, conseguimos nos hospedar. Mal pregamos o olho, corremos logo para o aeroporto onde apanhámos um jacto russo, com destino ao Cazaquistão, numa viagem de, aproximadamente, três horas e poucos minutos.
De lá, prosseguimos para a Estação de Lançamento de Baikonur – onde foi lançado o Satélite Angolano (Angosat-2) –, para uma curta visita de constatação. Um trajecto igualmente calmo, sem trânsito e ruas completamente isoladas de tudo e todos, embora com as estradas ligeiramente esburacadas. Localizada numa zona extensa e deserta, onde não se via qualquer movimento de pessoas, excepto pouquíssimas viaturas que entravam ou saíam da zona de lançamento..
O cosmódromo está localizado numa zona deserta extensa e distante de qualquer povoação. As únicas almas vivas visíveis eram alguns camelos bem robustos e cavalos e pouquíssimos casebres que ficavam a largos metros de distância. Uns tantos respiradores que emergiam da terra, davam o ar da sua graça e as pequenas l agoas, um facto que suscitava a nossa curiosidade sobre a sua origem, questões estas que, infelizmente, ficaram sem respostas.
Sobre a Estação de Baikonur, algumas vozes confidenciaram-nos que a sua construção foi mantida a sete chaves e longe de qualquer holofote. Especulavase tratar-se de um estádio de futebol subterrâneo, obras estas que vieram a durar mais de três anos. Só mais tarde veio a revelarse que, afinal, era o cosmódromo de lançamento de satélites.
Apesar de nos sentirmos livres do engarrafamento de Moscovo, ficámos com os corpos completamente moídos, por causa das longas horas de viagem e das estradas meio esburacadas.
Logo à entrada principal da zona de lançamento, estruturas metálicas de puro aço para acolher os satélites saltavam à vista. Verdadeiros monstros em pleno deserto. Entre as estruturas, estava a rampa mais adornada com o Foguete Proton-m que levaria o nosso Angosat ao espaço sideral. Bem no cimo, era visível o vermelhão da nossa Bandeira.
Uauu.... Em voz alta exprimi a minha admiração por algo tão surreal e acima de tudo pela inteligência extraordinária do homem. Essa gente não brinca em serviço! Pensei.
À saída do deserto, fomos até à cidade mais próxima, onde nos hospedámos para aguardar o momento mais alto deste grande desafio. Uma zona completamente isolada, que fiquei com a impressão de que tivessem anunciado uma catástrofe e quase todos os moradores tinham abandonado a cidade.