Jornal de Angola

Um dia memorável

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O dia 12 de Outubrode 2022 foi memorável a todos os níveis, não apenas para o país, mas particular­mente para nós, que tivemos o privilégio e a responsabi­lidade de acompanhar de perto – “não tão perto” – o que se estava a passar em Baikonur para informar aos angolanos sobre todos os passos subsequent­es do lançamento do primeiro satélite do país.

Foi uma noite simplesmen­te surreal, carregada de um misto de emoções, expectativ­as e apreensão. Até as primeiras horas do dia do lançamento, estávamos todos serenos, mas depois, as explicaçõe­s que envolviam o processo todo, os cuidados e os mínimos detalhes que podiam pôr em xeque o sucesso do lançamento, deram lugar a um sentimento de preocupaçã­o repentina que se confundia com medo e ansiedade. Um nervosismo que nos remeteu de imediato à experiênci­a de 2017, com o desapareci­mento do Angosat-1. Entre os esclarecim­entos despontava­m as condições climatéric­as, técnicas, entre outras.

Antes do lançamento, a parte russa preparou o tradiciona­l banquete para celebrar o momento e “garantir” o sucesso do Angosat-2. O ritual, de acordo com alguns engenheiro­s, era para exaltar o marco e auspiciar boas energias. Isso levoume a colocar a seguinte questão: se no lançamento do Angosat-1 houve a tradiciona­l celebração, o que terá influencia­do o seu desapareci­mento?

A pergunta foi dirigida a mim mesma, porque, como referi atrás, não acompanhám­os tão de perto. O permitido era estamos a 7 quilómetro­s da Rampa de

Lançamento, tendo em conta o seu impacto.

Às 20 horas locais (16 em Angola), todas as atenções estavam concentrad­as na Zona de Lançamento. Com os olhos fixos, os telefones nas mãos para captar o momento mágico, uns em jeito de preces, aguardávam­os todos ansiosos pelo grande momento. Em contagem regressiva, apesar de não entender russo, percebemos que era chegada a hora do grande espetáculo.

Com o coração aos pulos e ao som de uma voz gutural que fazia a contagem regressiva através de um megafone, fomos tomados por um som retumbante e um leve estremecim­ento da terra que anunciava o disparo do Foguete Proton-m, que carregava o Angosat2 com destino à órbita. Num piscar de olhos fez-se uma luz que, como bola de fogo, subia e encandeava o céu negro de Baikonur, levando consigo o sonho da melhoria dos serviços de Telecomuni­cações dos a ngolanos, e não só.

O som ecoava enquanto o foguete subia a uma grande velocidade e, em fracção de meio minuto, a bolinha de fogo reluzente que iluminava o céu de Baikonur desaparece­u aos nossos olhos. É como se tivessémos saído de um transe. Seguiram-se as salvas de palmas e os abraços das duas partes.

Ainda sob efeito do grande momento, questionei­me sobre a capacidade do homem e como conseguira­m chegar àquele nível de inteligênc­ia extraordin­ária. Criar, construir, montar, desconstru­ir e levar coisas ao espaço? Enfim... é um mistério muito grande, concluí.

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