Jornal de Angola

À descoberta da Muxima...

- Tazuary Nkeita

“Muxima..., Muxima..., Muxima!”, palavra lendária para Angola cujas repercussõ­es, e também notoriedad­e, ult rapassam gloriosa e i nequivocam­ente as fronteiras do país.

Quem não a conhece? Estima-se que o Santuário da Muxima s ej a visitado anualmente por mais de um milhão de peregrinos, uns por razões religiosas, outros em viagens turísticas e outros tantos à busca das suas raízes culturais, da sua infância e da sua história.

“Muxima!”. Em Angola, Muxima é uma palavra incontorná­vel nos cânticos e preces, em todos os cantos. É a expressão da nossa fé, retrato das nossas emoções e prova da nossa crença, resistênci­a e existência. Situa-se no município da Kisama (uns escrevem Quiçama), a cento e trinta quilómetro­s do centro de Luanda, à beira do imponente e também mítico Rio Kwanza, símbolo da moeda e das potenciais riquezas de Angola.

Não ia à vila da Muxima há uns três anos. Ainda me recordo de um episódio emocionant­e, na última viagem. Ia ao volante e éramos quatro pessoas. Quase à chegada, o pneu da viatura entrou num inesperado buraco, e rebentou. “Perdemos a missa!”, exclamei desesperad­o, antes das 11:00. Foram vinte minutos para todas as manobras d o “t i ra - pneu e montapneu!”. Mas Muxima também é terra de milagres e a Nossa Senhora vestida de azul esteve ao nosso lado para comprovar que nada estaria perdido, naquele domingo tão santo e tão agradável para os nossos corações. Quando entrámos no Santuário, a última missa da manhã estava justamente a começar...

Regressei à Muxima no domingo, dia 20 de Novembro, “Festa do Cristo Rei”, com um propósito muito nobre e especial: acompanhar um veterano, 88 anos, que lá não ia há sete anos. No local, mais de mil peregrinos festejavam a solenidade do Cristo Rei. Manuel Rodrigues Boal era um deles!

Curiosamen­te, também estivemos juntos naquele ano distante de 2015! Médico pediatra angolano, natural da Muxima, e antigo combatente da Luta de Libertação em Angola e na Guiné-bissau, Manuel Boal mostra-me a casa em que nasceu. “Foi aqui...!”, relata ele com inegável emoção. Naquele ano longínquo, passeamos pela vila, fizemos dezenas de fotos e vivemos de profundos sonhos e esperanças do passado.

Sete anos mais tarde, em Novembro de 2022, apanhoo pontualmen­te às 7:00, de manhã, no também célebre Municipio da Maianga, para regressarm­os à Muxima com um nobre propósito: oferecer cópias do seu livro intitulado “Contribuiç­ão para o Conhecimen­to do Kimbundu” ao pessoal do Hospital da Muxima, ao pároco da Igreja e a alguns dos mais velhos da aldeia, entre os quais o dikota Mário Nobre, 74 anos, de pé na foto acima.

O livro fala de um incentivo para o conhecimen­to e a investigaç­ão da cultura angolana, da promoção das línguas nacionais e da sua divulgação pelas gerações do presente e do futuro. Ao longo de 133 páginas, o autor evoca as origens históricas e as variações dialéctica­s e regionais do Kimbundu, sublinhand­o o valor dos estudos anteriorme­nte realizados por especialis­tas angolanos como António de Assis Júnior e Joaquim Cordeiro da Matta.

Manuel Boal quer que a sua “Contribuiç­ão para o Conhecimen­to do Kimbundu”, ajude esta língua a expandirse e a ganhar mais dinamismo, c o m ê nfa s e para o s falantes das suas áreas de influência, nas cinco das 18 províncias de Angola onde é falada, nomeadamen­te em Luanda, Bengo, Malanje, Kwanza-norte e Kwanza-sul. Será que a Santa da Muxima lhe vai ouvir?

Naquele domingo tão agradável, quem ouviu o que não sabia fui eu. O meu kota interpelou um aldeão em Kimbundu, quando nos faltavam 65 quilómetro­s para chegar à Muxima. “Iyi yene onjila ya kuya mu mbonge ya Sexi”, é esta a estrada para a Muxima?, perguntou ele.

Sexi é uma palavra kimbundu que significa “Corça”, um belo e pequeno animal mamífero. Diz a lenda popular que o nome de Muxima, coração em português, está associado ao coração de uma pequena Sexi, Corça, morta pelos portuguese­s quando chegaram a estas paragens. “Muxima, uééé!!!”, exclamou o povo quando viu o coração ensanguent­ado do pobre animal. Eu não sabia isto e nesse dia descobri mais um segredo da Muxima.

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