Jornal de Angola

Comunidade internacio­nal vê África com mente colonial

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Em entrevista exclusiva à Associated Press no Vaticano, apenas uma semana antes da sua viagem programada à República Democrátic­a do Congo (RDC) e ao Sudão do Sul, o Papa Francisco denunciou uma “mentalidad­e colonialis­ta” da comunidade internacio­nal em relação a África. “Há uma realidade histórica, geográfica. Em italiano diz-se “Africa va fruttata”, ou seja, África destina-se a ser explorada. E esse é um tipo de mentalidad­e colonialis­ta que permanece”, disse Francisco na entrevista ontem divulgada. Ele apontou para um problema de atitude em relação ao continente africano. “Uma espécie de mentalidad­e colonialis­ta... permanece”, disse Francisco.

No início de Janeiro, Francisco havia enviado as suas condolênci­as às vítimas de um atentado à bomba numa igreja pentecosta­l no Leste da RDC. Militantes islâmicos reivindica­ram o ataque, que matou pelo menos 14 pessoas e feriu mais de 60.

Francisco deve chegar à capital congolesa, Kinshasa, no dia 31 de Janeiro para uma visita de três dias. Quando estava originalme­nte programada para Julho, a viagem deveria incluir uma paragem em Goma, capital da província de Kivu do Norte. Agora, o Vaticano descartou essa etapa da viagem, devido a uma nova onda de ataques em partes de Kivu do Norte.

A violência assola o Leste d o Congo há d é c a d a s , enquanto mais de 120 grupos armados e milícias de autodefesa lutam por terra e poder. “África está em tumulto”, disse Francisco, falando sobre as “guerras internas” que afligem o continente. “E também estar a sofrer com a invasão de explorador­es”, acrescento­u.

Na entrevista à AP, Francisco também abordou o que chamou de um problema de “tribalismo” em África. “O tribalismo também é muito forte. Por exemplo, para nomear um bispo numa diocese, é preciso olhar com cuidado, que ele pertence ao grupo- para não dizer tribo”, disse ele, acrescenta­ndo que durante uma visita ao Quénia, uma multidão gritou repetidame­nte “não ao tribalismo”. “Foi um grito de todo o estádio. Eles mesmos sentem essa dificuldad­e, é um povo que se está consolidan­do cada vez mais na liberdade”.

Sociedade civil critica processo eleitoral

Movimentos de cidadãos congoleses afirmaram ontem em Kinshasa que o processo para as eleições presidenci­ais de 20 de Dezembro está “muito mal encaminhad­o”, dizendo temer fraudes e uma “negação da democracia”. As operações de identifica­ção e “inscrição” dos eleitores começaram a 24 de Dezembro em dez das 26 províncias congolesas. Desde então, apenas 37% dos esperados se conseguira­m cadastrar, segundo a Comissão Eleitoral Nacional Independen­te ( CENI ) , q u e prorrogou por 25 dias a operação que deveria terminar na passada segunda-feira.

Estas operações deverão ter lugar até meados de Março em todo o país, bem como para os congoleses na diáspora. O processo eleitoral “está muito mal encaminhad­o”, disseram organizaçõ­es reunidas numa plataforma chamada “Vigilance citoyenne électorale” (Vigiciel).

Para limitar o risco de fraude, segundo a plataforma Vigiciel, foi pedido a cinco países ( França, Bélgica, África do Sul, Estados Unidos e Canadá) que t ornem público o número de cidadãos da RDC residentes nos seus território­s para que sejam registados nos cadernos eleitorais.

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