Anterior taxa de participação revela a indiferença popular
A taxa de participação na primeira volta das eleições legislativas na Tunísia, em Dezembro do ano passado, foi baixa, tendo sido de apenas 9 %. Os 1.055 candidatos eram na grande maioria desconhecidos e contavam com menos de 12% de mulheres. E foram proibidos de exibir qualquer filiação política. Ao contrário do Parlamento eleito após a revolução de 2011, a nova Assembleia de Deputados está desprovida de poderes reais.
Segundo a nova Constituição, aprovada no verão passado, o Parlamento não poderá demitir o presidente e dificilmente poderá apresentar uma moção de censura ao Governo. A principal força da oposição, Frente de Salvação Nacional ( FSN), unida em torno do movimento de inspiração islâmica Ennahdha, denunciou uma “deriva autoritária” na única democracia surgida da Primavera Árabe.
Os resultados representam uma decepção muito grande porque Kais Saied contava com a vontade do povo”, que ele reivindica desde o golpe de 25 de Julho de 2021, observou na altura o analista político tunisino Abdellatif Hannachi. Eleito por mais de 70% em Outubro de 2019, Saied deixou o palácio presidencial, antes da votação, para inaugurar estradas ou confortar os moradores de bairros pobres.
Opositores do FSN e do influente Partido Desturiano Livre (PDL, anti-islâmico), de Abir Moussi, estão a exigir a saída de Saied, expressando o desejo de toda a oposição. Mesmo depois da também baixa taxa de participação no referendo à Constituição (30,5%), Saied “recusou-se sempre a admitir a derrota”, sublinhou Chérif.
A oposição está dividida em três blocos: o FSN, em torno do Ennahdha, os partidos de esquerda e o PDL. Segundo os analistas, a divisão tem na base o papel do Ennahdha, uma formação maioritária no Parlamento há 10 anos, que muitos tunisinos responsabilizam pelos problemas económicos e sociais do país. As manifestações contra o “golpe de Estado” de Saied reuniram no máximo 6 mil a 7 mil pessoas e tornaram-se cada vez mais raras.
Apenas a poderosa central sindical da União Geral dos
Trabalhadores Tunisinos (UGTT) tem sido capaz de levar as pessoas às ruas. A Tunísia está mergulhada numa crise económica e social, agravada pela guerra na Ucrânia, com inflação próxima de 10% e pobreza crescente.
O apoio externo é crucial para uma Tunísia altamente endividada, que pediu ao FMI um empréstimo de cerca de 2 mil milhões de dólares, condicionando ela mesma a outras ajudas, da Europa ou dos países do Golfo. A comunidade internacional tem sido pragmática em relação à Tunísia, tendo em conta a situação regional e “tendo em vista os problemas de imigração e o conflito entre o bloco sinosoviético e o bloco norteamericano-europeu”.