Mário Calado receia que clubes recusem pagar 100% dos salários
Técnico campeão da época 2005 avalia as consequências que podem advir com a paragem do Girabola Zap
OGirabola Zap parou por tempo indeterminado e, à semelhança de outros países, em Angola, adivinham-se enormes prejuízos para a Federação e clubes. Mário Calado, técnico de futebol e antigo seleccionador dos Palancas Negras, disse, em entrevista ao Jornal dos Desportos, estar receoso de que os clubes não aceitem pagar a totalidade dos salários, em virtude da decisão de suspender o campeonato ser da responsabilidade do Ministério da Juventude e Desportos.
O treinador de futebol e gestor de empresas acredita, que Angola não deverá fugir da realidade vigente um pouco por todo o mundo, em que a pandemia do Covid-19 obrigou a inúmeras alterações no quotidiano das pessoas e das instituições.
"Tal como acontece com outras sociedades, em que os governos assumiram a responsabilidade no apoio a algumas empresas, que fruto da situação são obrigadas a fazer cortes em salários ou pagar 70 por cento dos ordenados, o meu maior receio prende-se com o facto de alguns clubes virem a incutir as responsabilidades ao Ministério da Juventude e Desportos. Penso que a decisão de parar o campeonato, devia partir de uma concertação entre a federação e os clubes, para acautelar algumas situações de interesse das partes interessadas", justifica o treinador.
O facto de o campeonato ter parado numa altura em que ainda restam cinco jornadas para o seu desfecho, de acordo ainda com Mário Calado, não deverá constituir motivos para as equipas preocuparem-se com a quebra de ritmo dos jogadores. O técnico garante que a paragem é para todas as equipas e o mínimo que se pode exigir é a distribuição de planos de treinos individual, para que os atletas estejam nos níveis desejados, quando a competição retomar.
"O processo é igual para todos. Todas as equipas estão paradas e quando recomeçar a prova haverá uma igualdade e equilíbrio. O importante é a atribuição de tarefas individuais e todos os clubes que tiverem o cuidado de dar um plano de tarefas especificas para os seus jogadores, do ponto de vista físico estarão em condições, embora no aspecto técnico não terão o mesmo desempenho. Mas, a questão técnica se consegue com o decorrer do trabalho. Penso que as percas com a aplicação deste procedimento seriam um mal menor", asseverou.
Na possibilidade do campeonato não reatar até a data prevista para o final da época (cenários que já se colocam em provas como na Itália, Espanha e Portugal), o treinador acredita que a solução passaria por alargar o período de disputa da competição e nunca homologar a prova, tendo como base o campeão da primeira volta ou o actual líder.
"A FAF não poderia tomar uma decisão de forma isolada de todos os países africanos, que também estão parados. No cenário de haver um longo prolongamento da paragem, podia-se enveredar por ditar períodos extraordinários. Definir um campeão de forma prematura, estaríamos a ser injustos com as restantes equipas", afirmou.
Mário Calado aproveitou para aplaudir a decisão de suspensão imediata do campeonato, dois dias depois da FAF ter decretado jogos à porta fechada. O treinador sublinha não haver bem melhor que a preservação da saúde de todos os intervenientes directos e indirectos do Girabola Zap. Apela, por isso, todos os agentes desportivos a cumprirem com as recomendações das instituições de saúde, sobretudo "condutas de contenção social, para que, rapidamente, se possa retomar a actividade desportiva normal".