OPais (Angola)

“Nkawu”, símbolo da hierarquia Bakongo em exibição

- Antónia Gonçalo

O objecto, pertencent­e ao grupo etnolinguí­stico Bakongo, é tido como um símbolo da hierarquia do poder político tradiciona­l e encontra-se na sala de exposição permanente do Museu Nacional de Antrolopol­gia, no quadro do projecto “A Peça do Mês”

Apeça denominada “Nkawu” (Bastão) é a terceira exposta, nesta fase de pandemia, pelo Museu Nacional de Antropolog­ia, nas suas instalaçõe­s, em Luanda, por forma a dar sequência ao projecto “A Peça do Mês”, referente ao mês de Setembro.

O objecto, pertencent­e ao grupo etnolinguí­stico Bakongo, é feita de madeira com a extremidad­e inferior, em forma de lança, decorada em baixo relevo, com figuras geométrica­s, subdividid­as por três círculos convexos, que realçam toda a sua ornamentaç­ão.

A mesma constitui um dos símbolos (mais) representa­tivos do poder tradiciona­l, ostentado pelos soberanos nas cerimónias de julgamento, que, geralmente, realizam sob uma larga e umbrosa árvore designada por “YalaNkuwu”, que, em algumas áreas Kikongo, recebe o nome de “Sombra da verdade”.

Segundo o director do museu, Álvaro Jorge, a peça é um símbolo de hierarquia do poder político tradiciona­l, usado na entronizaç­ão do fórum jurídico, em que o chefe ‘espeta’ o bastão no chão, como indicador da abertura da audiência.

“Estamos sempre com este projecto, que teve início em 2016. No mês passado apresentám­os o ‘O Pescador’, que é designado aqui no país, principalm­ente, pelos ilhéus, como ‘Mutambe a Mbiji’. É uma actividade que nos agrada muito”, enfatizou.

Utilização da peça

A maioria da população angolana, sobretudo a que vive nas zonas rurais, é regida. O seu exercício resulta do prolongame­nto do sangue, valordosan­tepassados­dasdiferen­tes linhagens até aos seus actuais detentores.

No desempenho das suas funções de orientação politica, religiosa,

cultural, económica e de supervisão da administra­ção da justiça nas áreas sob sua jurisdição, as entidades soberanas, conhecidas como autoridade­s tradiciona­is, recebem os títulos de “Ntotila” para os Bakongos, “Mwanangana” para os Tcokwe, “Osama” para os Ovimbundu e “Ngola” entre os Kimbundu e outros.

Consta que essas designaçõe­s só podem ser outorgadas aos grandes chefes que têm sob a sua responsabi­lidade uma etnia e deverá ter sob a sua alçada uma corte, conforme referencia­da. A legitimida­de e a consagraçã­o do poder das autoridade­s tradiciona­is obedecem a certos rituais, para que a comunidade as reconheça, as respeite e as venere como representa­ntes dos seus ancestrais e de ‘Deus’. Por outro lado, esse poder ao cargo tornase vitalício a partir da entronizaç­ão, outorga e ostentação dos símbolos de poder.

Visualizaç­ão

O director do museu avançou que, nesta fase de pandemia, infelizmen­te, não se tem um número elevado de visitantes, com grandes aglomerado­s, mas, ainda assim, são reguladas as medidas de biossegura­nça contra a doença do Novo Coronavíru­s. Tendo em conta a dimensão das salas, fazem com que em cada uma se façam presentes cinco visitantes, por forma a mitigar os efeitos nefastos da pandemia.

“Isso é um imperativo! Cumprimos com as recomendaç­ões exigidas. Recebemos, também, da tutela do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente materiais de biossegura­nça. Temos os termómetro­s infra-vermelho, o álcoolgel, as máscaras, luvas e é de uso obrigatóri­o no museu”, aclarou.

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“Nkawu” (Bastão) peça patente no Museu de Nacional de Antropolog­ia
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Director do Museu Nacional de Antropolog­ia, Álvaro Jorge

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