É de hoje...
Manifestante atinge veículo da polícia durante confronto de um tribunal, onde estão a ser julgados líderes e membros do partido de extrema-direita (DR)
O quarto ramo
um assunto pouco discutido sobre os acordos de paz, que ditaram o fim do conflito armado em Angola, mas reza a história que num determinado momento deste país, o general João de Matos, antigo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, tinha sugerido a criação de um quarto ramo.
Colunista deste jornal, assinando uma vez por semana, o politólogo e professor universitário português Jaime Nogueira Pinto, narra, no livro Jogos Africanos, aquelas que eram as pretensões do malogrado, que com uma perspectiva visionária pretendia encontrar caminhos para a reinserção social dos antigos militares das Forças Armadas Angolanas (FAA) e das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), o antigo braço armado da UNITA.
Diferente da Marinha, Exército e da Força Aérea, os tradicionais ramos militares, o quarto seria aquele que estaria centrado, principalmente, em questões ligadas à reconstrução do país, sobretudo naquela fase. O quarto ramo, formado por ex-militares, serviria para algumas acções sociais e humanitárias do próprio Estado, incluindo funcionar como incubadora para que os homens que durante largos anos fizeram a guerra obtivessem outras valências em tempos de paz.
Quando muitos oficiais superiores beneficiam de uma reforma na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas, onde se diz existirem igualmente falsos pensionistas em números significativos, que nunca tiveram um treino militar, pelas ruas das principais cidades do país ainda observamos muitos antigos soldados e outros efectivos das forças que se degladiam com as mãos estendidas à caridade.
A inclusão de 250 ex-militares como guardas nos parques nacionais pode servir de motivo de orgulho apenas para alguns. Para outros, que já adivinhavam tempos difíceis para aqueles que a única coisa que aprenderam ao longo da adolescência e juventude foi fazer disparos, rastejar e outras manobras militares, pode saber a pouco.
Não fossem as desconfianças de um momento triste, em que os beligerantes se acusavam mutuamente de estar a esconder tropas nas matas para fins inconfessos, hoje um quarto ramo teria, seguramente, dado ao país homens em diversos sectores, à semelhança do que outros que estiveram ligados às Forças Armadas Angolana ainda continuam a dar.
Sempre que surgem informações, boas ou más, sobre a inserção de antigos militares vêem-me à memória estas ideias que alguns oficiais generais, como João Baptista de Matos, já defendiam. O sacrifício por que passaram alguns rapazes, hoje chefes de família e a viverem em condições difíceis, exigia dos comandantes de ambos os lados uma maior compreensão em relação ao futuro que lhes esperava depois do conflito, como ocorreu em 2002.