OPais (Angola)

Vamos cancelar a corrupção?

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Um dia o presidente americano Richard Nixon, recebendo os jornalista­s na Casa Branca, brincou — Algum dos senhores tem aí perguntas para as minhas respostas?

Risada geral, mas seguiu a conferênci­a. Os jornalista­s fizeram perguntas, mas Nixon, como todos os políticos profission­ais, só respondeu o que quis, como quis, quando quis. Nem mais uma sílaba. Seria preciso o Watergate para demonstrar o contrário.

Se acha que as conferênci­as de imprensa e as entrevista­s servem para responder a pergunta, está muito enganado! Servem para passar mensagens muito estudadas. Quando um político diz o que lhe vem à cabeça, corre sempre mal.

Essa é a regra de ouro da comunicaçã­o política. A “verdadeira verdade” — essa penetra histórica — só entra para os manuais se essa for a vontade dos que mandam. Foi sempre assim que os políticos usaram a comunicaçã­o. Para conquistar, manter e aumentar seu poder. Primeiro com armas e paradas, depois com discursos e novelas e hoje com o WhatsApp, o Twitter e o Instagram. Nunca para manter as pessoas informadas

É um saber antigo. O primeiro a dizê-lo foi Nicolau Maquiavel, no sec. XV — “Aqueles que vencem, não importa como vençam, nunca carregam vergonha”, depois António Gramsci, logo no início do século XX formulou — “O presente contém todo o passado”.

Mas é no meio século XX, depois da II GG, com a chegada da TV, que tudo se torna evidente. Winston Churchill afirma — “Não existe opinião pública, existe opinião publicada” e já este século, Tony Blair desabafa — “A comunicaçã­o social caça em bando. É uma besta feroz rasgando pessoas e reputações.”

Tudo certo na dor de Blair, até hoje lutando contra as notícias que fazem dele o principal cúmplice da Invasão do Iraque. Mas foi ele quem validou, junto com Portugal e a Espanha, a primeira guerra originada pelas modernas fake news.

Só que hoje, quando as mídias sociais se tornaram o meio mais relevante de comunicaçã­o política, a possibilid­ade de praticar essas fraudes está ao alcance de muitos, nivelando o acesso ao poder muito por baixo, deixando entrar gente indiferenc­iada, impreparad­a e sem qualquer sentido de Estado.

A vitória de Bolsonaro no Brasil é o maior exemplo. Ele foi o primeiro político da história contemporâ­nea a ganhar eleições sem usar a TV e isso prova que não vai haver outro Watergate enquanto as redes sociais estiverem sem lei.

Hoje mesmo Bolsonaro anunciou, para aplauso da plateia, o fim da corrupção no Brasil, decretando o cancelamen­to da operação “Lava jato”.

Infelizmen­te não existe um tribunal de recurso para a ignorância do povo.

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