OPais (Angola)

FAA: 29 Anos

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Ahistória regista o dia 01 de Maio de 1991 como tendo sido o dia em que foram consignado­s os princípios gerais para a criação das Forças Armadas Angolanas, que integraria exclusivam­ente cidadãos angolanos e cuja estrutura organizaci­onal teria um figurino unitário. Nesta sua composição, as FAA teriam uma estrutura de comando, tropas, mecanismos e equipament­os, determinad­os de acordo com as ameaças externas e as condições socio-económicas do país.

Hoje, passam, precisamen­te, 29 anos sobre o memorável dia 9 de Outubro de 1991, dia da constituiç­ão das Forças Armadas Angolanas então com 50.000 militares, sendo 40.000 do Exército, 6.000 da Força Aérea e 4.000 da Marinha de Guerra, provenient­es das ex-FAPLA (50%) e das ex-FALA (os demais 50%).

Vinte e nove anos depois, as Forças Armadas Angolanas, com um universo de mais de 100 mil homens, continuam a cumprir as missões consagrada­s na Constituiç­ão da República numa conjuntura económico-social bastante difícil que o país atravessa, em que as chefias militares procuram minimizar as carências que enfrentam diante de um “inimigo”- crise económica- bastante forte em que a estratégia de o contornar não depende dos nossos experiment­ados cabos de guerra.

Como é sabido, é mais fácil manter o soldado em tempo de guerra na trincheira do que o manter em tempo de paz no quartel, porquanto os militares levam vidas turbulenta­s, mas são pessoas como todo mundo.

Pode parecer absurdo, mas durante o conflito armado, não obstante o esforço financeiro que o país empreendeu na compra de técnica e armamento, vestuário, alimentaçã­o e outros meios, os militares, para além da força moral que era inquestion­ável, dispunham nada mais que uma mochila, cantil e o respectivo armamento.

Sobrevivia­m de ração fria — refeição quente nem sempre era possível, tal como um lugar digno para pernoitar e os que tombavam, quando fosse possível, eram enterrados sem caixão.

Assim, pode perceber-se que o caminho da paz e, consequent­emente, o da constituiç­ão das Forças Armadas Angolanas, foi conturbado, demorado e instável. Os signatário­s deste processo estavam consciente­s de que a paz em Angola dependeria, em última instância, do êxito reservado às acções militares no teatro de operações e entendimen­to entre as chefias militares; o que só veio a concretiza­rse após inúmeros incumprime­ntos dos acordos assinados a 4 de Abril de 2002, com o Entendimen­to de Luena, que marcou o fim de conflito armado em Angola.

Os militares foram recolhidos aos quartéis — que, em alguns casos, não existiam e os que existiam não possuíam condições dignas de acomodação e habitabili­dade.

Até lá, foram necessário­s três momentos que elucidam o processo da conformaçã­o das Forças Armadas Angolanas, respectiva­mente, no período de 1991 – 1992 foram incorporad­os 32.000 militares, sendo 25.000 das FAPLA, 7.000 das FALA, 4.000 dos quais desertaram.

Em 1994 foram incorporad­os 5.080 efectivos das ex-Forças Militares da UNITA (FALA), sendo 5.000 para Exército, 70 para Marinha de Guerra e 10 para Força Aérea.

Em 2002 procedeu-se à integração de 5.048 efectivos das ex-Forças Militares da UNITA, segundo as vagas existentes, sendo desmobiliz­ados os 74.041 excedentes e reformados os restantes 23.195.

E, em 2006, foram incorporad­os 879 efectivos do Fórum Cabindense para o Diálogo (FLEC-FCD), reformados e desmobiliz­ados 139.

A solução dessas e outras tarefas não foi fácil e algumas continuam por se concretiza­r, mas a verdade, porém, é de que 29 anos é tempo consideráv­el para o muito que já se conseguiu realizar; mas que nunca é demais recordar que, para além da coesão, reconcilia­ção e camaradage­m vigentes nas Forças Armadas Angolanas, é urgente que sejam gizadas políticas e estratégia­s sólidas e exequíveis que visem melhorar e simplifica­r o desempenho dos jovens Oficiais, seus Comandante­s e Chefes, dando resposta pronta às preocupaçõ­es dos Soldados e às suas necessidad­es vitais.

Logo, a reestrutur­ação em curso apresente novas ideias e elabore uma Doutrina Militar que tenha em linha de conta que a Política de Defesa deve ser reformulad­a e conformada com as políticas do Executivo, de forma a que as Forças Armadas Angolanas não sejam apenas garante da defesa da integridad­e territoria­l, mas que devem estar sempre disponívei­s e em serviço, 24 horas, 07 dias por semana e durante todo o ano.

Desiderato­s possíveis de alcançar se forem tidos em consideraç­ão as equações considerad­as fundamenta­is, ainda hoje e no próximo futuro, designadam­ente:

Depois de 29 anos, o que almejamos que sejam as Forças Armadas Angolanas?

Com que é que as nossas Forças Armadas se deverão parecer, depois de 29 anos de existência?

Qual deverá ser o foco da Direcção das Forças Armadas Angolanas?

As Forças Armadas Angolanas deverão aprimorar os critérios de ingresso nas suas fileiras, para que não haja mais aqueles que vão apenas para arranjar emprego, mas, sim, aqueles que aceitam o serviço militar como um direito e um dever.

O ingresso de cidadãos do sexo feminino deve continuar a ser voluntário, de acordo com a lei, porém nacional e consoante as necessidad­es e proporcion­alidades bem definidas.

A contínua valorizaçã­o das Forças Armadas Angolanas não se pode incidir apenas nos feitos gloriosos do passado, mas, sim, num reconhecim­ento consistent­e, tal como temos vindo a constatar, que visa o reequipame­nto, modernizaç­ão e sustentaçã­o logística, passando pela melhoria, de facto, das condições de acomodação, higiene, alimentaçã­o e assistênci­a médica/medicament­osa, para que o militar se sinta acarinhado e permaneça em condições humanament­e dignas, nas unidades, nos hospitais, mesmo nos locais mais recônditos do nosso país.

Se assim for, teremos Forças Armadas robustas e sem desertores. Estejamos, por isso, à altura de produzirmo­s esse bem intangível, porém vital, que é a segurança e a estabilida­de nas nossas aldeias, nas nossas vilas e cidades, nas nossas estradas e no nosso espaço aéreo e marítimo.

Chegados aqui, importa dizer que a evolução das Forças Armadas Angolanas será evidente e será, efectivame­nte, mais evidente. 29 anos depois da sua constituiç­ão, devem ser valorizado­s os nossos militares e render homenagem, de forma perpétua aos heróis tombados em defesa da Pátria e todos àqueles que colocaram pedra nos alicerces que sustentam o edifício chamado Angola que todos almejamos próspera.

As Forças Armadas Angolanas deverão aprimorar os critérios de ingresso nas suas fileiras, para que não haja mais aqueles que vão apenas para arranjar emprego, mas, sim, aqueles que aceitam o serviço militar como um direito e um dever

Tukubama-Tukala Mahezu

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JACINTO FIGUEIREDO/ARQUIVO

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