Jornalistas, honremos os 50 heróis e renovemos o compromisso em nova década
Uma espécie de “uff” colectivo é solto (quase por todos) ao terminar o ano de 2020, um ano em que poucos temos por que se orgulhar. Há quem o apelide “o ano do cão”, parafraseando um autor da nossa urbe. De facto, 2020 é uma colecção de amarguras, que tem na Covid-19 a ponta do iceberg.
O jornalismo também “suspira de alívio” pelo fim do ano do inferno e jubila pelo início do novo, tal como é praxe com áurea renovada de que pior do que o anterior não é possível.
Todavia, para o jornalismo angolano, talvez nos possamos dar por “poupados” pelo facto de o país não ter contribuído para a funesta estatística de “lugares perigosos para a profissão”. Desta vez, é a América Latina e Ásia que, infelizmente, são donas do mais alto lugar do podium funesto. O último ano da segunda década do novo milénio termina com saldo negro de 59 mortes de profissionais da imprensa que lhe foi arrancada abruptamente a vida no exercício da sua missão, mais que o ano transacto, totalizando o não menos funesto número de 888 profissionais que tiveram de pagar o preço mais alto, o facto de terem ousado exercer o sacerdócio de informar as amálgamas de necessitados pelo mundo a fora. A Africa, do cômputo geral, engrossou a lista com cinco perdas. Segundo a UNESCO, é já um dos anos mais fatais, apesar de o Jornalismo continuar a ser relevante para as democracias e a protecção dos Direitos Humanos. Nummundomais“racional”talvez pudéssemos fazer da protecção do jornalismo uma bandeira universal porque por ele e através dele “se protege a verdade” e se institui uma convivência mais a contento.
Com quadro tão sombrio, e sem razões para triunfalismos e comemorações, talvez seja ocasião para relançar o debate em torno das liberdades e diversidade mediática, um tema que parece barricar em dois extremos, duas alas: os prós e contra.
Decidimos abordar o tema, não é propriamente para reclamar de algo, mas antes para continuar a irrigaranossanascentedemocracia e combater a tendência de fazer do Jornalismo um “lugar-comum”, desviando-o do seu foco, que, em resumo, é incentivá-lo a andar na “contramão” de outros poderes instituídos, exercendo a missão fiscalizadora ou, dito de outra forma, focá-lo na missão de contra poder.
Dizemos “lugar-comum”, porque semultiplicoudeformaexponencial a oferta de um pseudo-jornalismo quehámuitosedemitiudanobreza, enveredando para a excessiva presunção, escudando-se em fontes anónimas, transformado em arma de arremessos, lavandaria e palco de intrigas (as palacianas incluídas), em detrimento de verdadeiros “furos” e descobertas daquilo que uma restrita minoria pretende manter encoberto, que ao fim de tudo é o perpectuar da ilicitude, do crime, do antidemocrático…
É momento de corrigir o tiro e assumir-se o propalado “espirito de missão”, voltando ao dever de contribuir activamente para a edificação da democracia. É hora de juntar sinergias e assumir o outro nome do jornalismo, “democracia” e de uma vez por todas abandonar a tendência de fazer da profissão palco para comédia, antes que o trágico se consuma.
A democracia reclama (e com razão) um jornalismo que se assume e faça a sua parte, porque ante o perigoso caminho escolhido nos últimos tempos, um dia acordaremos e seremos nós os réus de um crime hediondo, muito mais por omissão e demissão diante do dever.
É nova década. A democracia chama e o jornalismo tem e deve responder em uníssono: Aqui estou e pronto a ajudar na construção da democracia sonhada.