OPais (Angola)

Jornalista­s, honremos os 50 heróis e renovemos o compromiss­o em nova década

- ANDRÉ MUSSAMO Presidente do MISA Angola

Uma espécie de “uff” colectivo é solto (quase por todos) ao terminar o ano de 2020, um ano em que poucos temos por que se orgulhar. Há quem o apelide “o ano do cão”, parafrasea­ndo um autor da nossa urbe. De facto, 2020 é uma colecção de amarguras, que tem na Covid-19 a ponta do iceberg.

O jornalismo também “suspira de alívio” pelo fim do ano do inferno e jubila pelo início do novo, tal como é praxe com áurea renovada de que pior do que o anterior não é possível.

Todavia, para o jornalismo angolano, talvez nos possamos dar por “poupados” pelo facto de o país não ter contribuíd­o para a funesta estatístic­a de “lugares perigosos para a profissão”. Desta vez, é a América Latina e Ásia que, infelizmen­te, são donas do mais alto lugar do podium funesto. O último ano da segunda década do novo milénio termina com saldo negro de 59 mortes de profission­ais da imprensa que lhe foi arrancada abruptamen­te a vida no exercício da sua missão, mais que o ano transacto, totalizand­o o não menos funesto número de 888 profission­ais que tiveram de pagar o preço mais alto, o facto de terem ousado exercer o sacerdócio de informar as amálgamas de necessitad­os pelo mundo a fora. A Africa, do cômputo geral, engrossou a lista com cinco perdas. Segundo a UNESCO, é já um dos anos mais fatais, apesar de o Jornalismo continuar a ser relevante para as democracia­s e a protecção dos Direitos Humanos. Nummundoma­is“racional”talvez pudéssemos fazer da protecção do jornalismo uma bandeira universal porque por ele e através dele “se protege a verdade” e se institui uma convivênci­a mais a contento.

Com quadro tão sombrio, e sem razões para triunfalis­mos e comemoraçõ­es, talvez seja ocasião para relançar o debate em torno das liberdades e diversidad­e mediática, um tema que parece barricar em dois extremos, duas alas: os prós e contra.

Decidimos abordar o tema, não é propriamen­te para reclamar de algo, mas antes para continuar a irrigarano­ssanascent­edemocraci­a e combater a tendência de fazer do Jornalismo um “lugar-comum”, desviando-o do seu foco, que, em resumo, é incentivá-lo a andar na “contramão” de outros poderes instituído­s, exercendo a missão fiscalizad­ora ou, dito de outra forma, focá-lo na missão de contra poder.

Dizemos “lugar-comum”, porque semultipli­coudeforma­exponencia­l a oferta de um pseudo-jornalismo quehámuito­sedemitiud­anobreza, enveredand­o para a excessiva presunção, escudando-se em fontes anónimas, transforma­do em arma de arremessos, lavandaria e palco de intrigas (as palacianas incluídas), em detrimento de verdadeiro­s “furos” e descoberta­s daquilo que uma restrita minoria pretende manter encoberto, que ao fim de tudo é o perpectuar da ilicitude, do crime, do antidemocr­ático…

É momento de corrigir o tiro e assumir-se o propalado “espirito de missão”, voltando ao dever de contribuir activament­e para a edificação da democracia. É hora de juntar sinergias e assumir o outro nome do jornalismo, “democracia” e de uma vez por todas abandonar a tendência de fazer da profissão palco para comédia, antes que o trágico se consuma.

A democracia reclama (e com razão) um jornalismo que se assume e faça a sua parte, porque ante o perigoso caminho escolhido nos últimos tempos, um dia acordaremo­s e seremos nós os réus de um crime hediondo, muito mais por omissão e demissão diante do dever.

É nova década. A democracia chama e o jornalismo tem e deve responder em uníssono: Aqui estou e pronto a ajudar na construção da democracia sonhada.

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