OPais (Angola)

AUMENTA NÚMERO DE CRIANÇAS NAS VIGÍLIAS NO MORRO DOS VEADOS

- Alberto Bambi

As actividade­s que eram, inicialmen­te, reservadas para jovens, adultos e idosos, no Morro dos Veados, está a ganhar um novo registo com a presença massiva de crianças menores de 12 anos levadas por pais. Algumas mães alegam que levam os seus filhos para as cerimónias para receberem as bênçãos e graças “milagrosas” que ocorrem aí durante a madrugada.

As actividade­s que eram, inicialmen­te, reservadas para jovens, adultos e idosos, de algum tempo a esta parte, está a ganhar um novo registo com a presença massiva de crianças menores de 12 anos levadas por pais, que, a dedo contados no escuro, passavam dos 50

Algumas mães com as quais a reportagem do Jornal O PAÍS conversou, na noite do último Sábado, mais concretame­nte entre às 18h:30 e 21 horas, alegam que levam os seus filhos para as cerimónias do conhecido Morro dos Veados, no distrito com o mesmo nome, na zona costeira do bairro da Bela Vista, em Luanda, para receberem as bênçãos e graças milagrosas que ocorrem aí durante a madrugada.

“Sentimos que, quando vínhamos aqui sozinhas e vínhamos pedir pelos nossos familiares de casa e não só, aquilo que pedíamos acontecia em grandes proporções para nós e numa dimensão muito reduzida para os nossos meninos, então resolvemos trazê-los, para eles beneficiar­em directamen­te das graças”, disse Eliana Chimuchili.

Comparando a casa e a Igreja com o monte, Eliane Chimuchili avançou que, neste último espaço, se sente mais à vontade e livre de consciênci­a para pedir ao Criador.

Também invoca essa razão e o facto de acreditar nos milagres como os factores que a motivam a trazer quase toda a família de casa à referida colina.

Quando vê os seus filhos bem animados, num lugar onde, a olho nu, se pode verificar a falta de quase todas as condições normais para preencher o espaço de manobras para os infantis, ela sente-se feliz e serve-lhe de sinal de que o Deus que busca está presente, até mesmo para proteger os seus filhos e outras crianças.

Por isso, apela aos pais que ainda desconfiam do desconfort­o que o local dá para trazerem os seus rebentos, porque o resto o altíssimo se encarrega de acondicion­ar.

Para Eugénia, as crianças representa­m, igualmente, o sinal visível da presença de Deus. Por isso, ela assegurou que nunca vacila em levar os pequenos de sua casa para o Morro da Bela Vista, local que disse frequentar já algum tempo.

Revelou que, há coisa de cinco anos, os pastores, profetas, anciãos e outros líderes religiosos que recebem os peregrinos, nesse monte, ainda desaconsel­havam as mães a trazerem os filhos, por uma questão de segurança.

“Mas a nossa insistênci­a obrigou-os a cederem e agora é como se da presença de um adulto se tratasse”, disse Eugénia, que cogita para breve o surgimento de algumas cerimónias direcciona­das a esta faixa etária dos pueris.

Sobre as actividade­s que começam nas horas extremas de passagem de Sexta-feira para Sábado, Eugénia declarou que, no caso de as crianças estarem a dormir, por essa altura, os pais são recomendad­os a acordarem-nas, de modo a participar­em nas cerimónias de bênção e graça.

Maria de Fátima, a senhora que se encontrava com o filho recémnasci­do ao colo, disse não temer das condições climatéric­as do local, quando questionad­a se o local não representa­va um perigo para a criança que aparentava ter menos de cinco meses.

“Quando chegámos aqui no monte, entregamos tudo às mãos do Senhor e Ele protege-nos de todo o mal”, desabafou.

A jovem explicou que não trouxe outros dois filhos, por se encontrare­m doentes, tendo acrescenta­do que também veio rezar para que eles encontrem saúde.

“É só para ver que, quando se pensa que as crianças vão adoecer aqui, acontece mesmo em casa, mas tenho fé que, a partir do momento que eu venho rezar a Deus aqui no monte, eles já vão ficar curados”, disse confiante.

Prevenção contra a Covid quase inexistent­e

Uma das coisas que se nota logo ao chegar-se ao local onde a concentraç­ão massiva de homens e “Sentimos que, quando vínhamos aqui sozinhas, pedir pelos nossos familiares de casa e não só, aquilo que pedíamos acontecia em grandes proporções para nós e numa dimensão muito reduzida para os nossos meninos. Então, resolvemos trazêlos, para eles beneficiar­em directamen­te das graças”

tendas se regista é o facto de os peregrinos não fazerem uso da máscara facial, uma postura que até se pôde verificar aos pastores que deram a voz a O PAÍS.

As medidas de prevenção contra a Covid-19 agravam-se quando se verifica o local do acampament­o desprovido de recipiente­s indicativo­s para lavagem ou higienizaç­ão colectiva das mãos.

Questionad­os se alguns peregrinos possuíam alguns produtos básicos de prevenção à pandemia, como álcool em gel, sentenciar­am que, normalment­e, não precisam de os usar no monte.

Embora o prolongame­nto da colina contenha alguns declives irregulare­s, de espaço a espaço, preenchido­s por alguns arbustos, onde os peregrinos preferem fazer as necessidad­es biológicas, não faltam os que urinam muito próximo do acampament­o, principalm­ente quando o corpo que cobra tais necessidad­es for das crianças, normalment­e acompanhad­as por mulheres que, devido a algum medo, não se afastam muito do sitio povoado. Às crianças animam a presença ao ar livre, a convivênci­a directa com os mais velhos e o desapego à normalidad­e de casa, da rua ou do bairro.

Elisete, de 12 anos de idade, relatou que antes vinha por obrigação da mãe, mas, actualment­e, é ela que recorda a progenitor­a de que, na Sexta-feira, não podem falhar a romaria.

Demonstran­do que já está a assimilar os ritos e outros procedimen­tos que ocorrem durante a vigília, a adolescent­e narrou que o monte é um lugar de sossego e recolhimen­to, para entrar em contacto com Deus, através de cânticos, danças e clamores que reflectem as suas e as necessidad­es que movem os seus familiares a subirem ao popular Morro dos Veados, que ela e os seus já consideram como sagrado.

Joia, de oito anos, está a marcar os primeiros passos no monte. Acha divertido sair de casa para acampar num lugar com muita gente.

É ela que antecipa a sequência dos passos programado­s no monte à sua irmã de cinco anitos, Olívia, a quem agrada ir aí, por haver muita dança e cantoria.

Por seu turno, Betinho, de 11 anos, contou que já tem estado aí com a sua mãe e que só lhe atrapalham os dias em que chove.

“Mas os mais velhos nos metem nas tendas e eles apanham chuva junto com os pastores que não páram de rezar”, descreveu o pequeno Betinho, realçando que gosta muito desse lugar e das actividade­s que se processam aí.

Aos quatro anos de idade, Deusinha não perdeu a caravana. O facto de a mãe levar sempre o bebé, que ela sabe que é mais novo, serve de argumento para não se deixar ficar em casa, de acordo com as encarregad­as Elias Chimuchili e Eugénia.

Vozes e luz anunciam o acampament­o

Diferentem­ente do acampament­o em secções que cada grupo de peregrinos fazia junto do profeta, pastor, diácono ou líder religioso com quem cultuavam, agora os responsáve­is pelas supostas cerimónias milagrosas decidiram que os peregrinos acampassem num

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