OPais (Angola)

Agência nuclear da ONU avisa Irão que inspecções não podem ser “moeda de troca”

A Agência da Energia Atómica está interessad­a em garantir que a supervisão nuclear não serve de arma de arremesso diplomátic­a entre as partes, depois de o regime iraniano ameaçar “tomar medidas”

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AAgência Internacio­nal de Energia Atómica (AIEA) avisou ontem, Segunda-feira, o Irão de que o trabalho de inspecção ao seu programa nuclear não pode servir de “moeda de troca diplomátic­a”.

O director-geral da AIEA, Rafael Grossi, respondia assim a uma ameaça de Teerão de recusar o compromiss­o, assinado a 21 de Fevereiro, de permitir que esta agência das Nações Unidas execute o seu trabalho de supervisão do programa nuclear iraniano.

Na semana passada, o Irão anunciou que suspenderá as inspecções da AIEA, em retaliação pela não suspensão das sanções norteameri­canas que foram restabelec­idas pelo ex-presidente Donald Trump.

Perante a ameaça de uma nova escalada de tensões entre o Ocidente e Teerão, esta Segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeir­os iraniano, Mohamad Zarif, pediu para que “prevaleça a razão”, tentando evitar uma nova crise no conselho de governador­es da AIEA, que pode vir a aprovar uma resolução contra o Irão, por causa da limitação de supervisão.

“Demos as explicaçõe­s necessária­s sobre essas condições (às fiscalizaç­ões) a todos os membros do conselho de governador­es. Esperamos que essa razão prevaleça e, se isso não acontecer, teremos de tomar medidas”, disse Zarif, sem dar mais esclarecim­entos.

Rafael Grossi, contudo, continua a considerar que a limitação da acção da agência que dirige é “uma grande perda”, embora admita que a fiscalizaç­ão continua a verificar o carácter pacífico do programa iraniano.

“Por enquanto, está tudo bem”, disse Grossi, antecipand­o a informação que será levada ao conselho de governador­es da agência.

O director-geral da AIEA explicou que está interessad­o em garantir que a questão da acção de supervisão não serve de arma de arremesso diplomátic­a entre as partes, procurando proteger a actividade da agência em tempos mais conturbado­s.

“Peço a todos que tenham discussões construtiv­as e preservem o trabalho da agência”, concluiu Rafael Grossi.

Os europeus admitem a possibilid­ade de aprovar uma resolução para exprimir a profunda preocupaçã­o com a atitude do Irão, mas o regime de Teerão tenta evitar o agravament­o das relações com os signatário­s do acordo nuclear assinado em 2015.

Zarif classifico­u de “movimento equivocado” o plano da França, do Reino Unido e da Alemanha de avançar com essa resolução, com o apoio dos Estados Unidos (que abandonara­m unilateral­mente o acordo nuclear, em 2018).

“Acredito que esse gesto alterará a situação”, alertou Zarif.

Contudo, também Segunda-feira, o Presidente iraniano, Hassan Rohani, reagiu de forma bem menos diplomátic­a à ameaça dos signatário­s europeus do tratado.

O mundo e os EUA terão de se ajoelhar diante da grande nação do Irão e suspender as sanções cruéis”, disse Segunda-feira o Presidente iraniano.

Hassan Rohani lembrou que o Governo do novo Presidente norte-americano, Joe Biden, “confessou, por quatro vezes, que a táctica de pressão máxima do Presidente Donald Trump falhou e não apresentou resultados”.

Biden já anunciou a intenção de voltar ao acordo nuclear com o Irão, mas exige que as autoridade­s iranianas cumpram os seus compromiss­os, enquanto Teerão coloca como condição a remoção das sanções.

Para tentar desbloquea­r a situação, o alto representa­nte da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, propôs no mês passado que os EUA participas­sem numa reunião informal com o Irão e com os outros signatário­s do pacto nuclear como convidados.

Contudo, a diplomacia iraniana rejeitou, este fim-de-semana, essa proposta, dizendo que “este não é o momento certo para realizar a reunião”, alegando as recentes posições dos Estados Unidos.

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