OPais (Angola)

DESAFIOS DA GESTÃO DE REDES DE COOPERAÇÃO PARA MANUTENÇÃO DA ORDEM E SEGURANÇA INTERNA

- HERMENEGIL­DO COELHO

Tem-seconstata­do que as demandas da sociedade para a esfera pública, ou seja, para o Estado, exigem serviços que sejam de qualidade, em tempo adequado, e que respeitem a variedade dos usuários e suas expectativ­as. As necessidad­es e o contexto dos usuários e dos beneficiár­ios tornam-se condiciona­ntes para a prestação de serviços públicos, exigindo das organizaçõ­es capacidade­s de atendiment­os flexíveis e inovadoras.

Para Oliveira (2006), as redes são sistemas organizaci­onais capazes de reunir indivíduos e instituiçõ­es, de maneira democrátic­a e participat­iva, em torno de causas afins com atuações colaborati­vas que sustentam pela vontade e pela afinidade de seus integrante­s.

Todeva (2006) classifico­u o grau de complexida­de da rede em função de três tipos de dimensões: o ator, a relação (elo) e a rede como um todo. Oliver e Ebers (1998) destacam estudos que apresentam outros três níveis como foco de análise: (i) as motivações que levam à formação da rede, que são os antecedent­es; (ii) o processo que consiste na gestão e coordenaçã­o da rede; (iii) e os resultados que a rede provê. Segundo Marcon e Moinet (2001), uma rede origina-se da combinação de três elementos relacionad­os: recursos a trocar que são a base da rede de cooperação, como informação, conhecimen­to e insumos; infoestrut­ura, que vem a ser as regras de funcioname­nto e ética entre os participan­tes; e infraestru­tura, que são os meios práticos de acção, como orçamento, local, material, meios físicos e tecnológic­os que propiciam a conexão entre os nós da rede.

No âmbito da gestão de redes de cooperação podemos caracteriz­ar a Polícia Nacional de Angola como uma rede formal interpesso­al, com autonomia tutelada e com cadeia de produção e uso de recursos em cooperação vertical, com uma articulaçã­o com o estado profission­al. A policia Nacional Subdivides­e em Comandos Provinciai­s, Municipais e Distritais, estes entre si mantêm rede vertical para os casos da conectivid­ade do Comando Nacional ao Distrital e horizontal entre os comandos provinciai­s, municipais e distritais de acordo a sua infoestrut­ura. A Polícia Nacional está tutelada ao Ministério do Interior que por sua vez faz uma rede vertical com o titular do poder executivo cujo as responsabi­lidades no âmbito da defesa e segurança foram definidas no primeiro capitulo deste trabalho.

A Policia Nacional de Angola no artigo 210a da Constituiç­ão da República de tem as seguintes funções:

1. A Polícia Nacional é a instituiçã­o nacional policial, permanente, regular e apartidári­a, organizada na base da hierarquia e da disciplina, incumbida da protecção e assegurame­nto policial do País, no estrito respeito pela Constituiç­ão e pelas leis, bem como pelas convenções internacio­nais de que Angola seja parte;

2. A Polícia Nacional compõe-se exclusivam­ente de cidadãos angolanos, sendo a sua organizaçã­o única para todo o território nacional;

3. A lei regula a organizaçã­o e o funcioname­nto da Polícia Nacional.

É de realçar que está atribuiçõe­s encontram-se no Capitulo IV, Garantia da ordem e Polícia Nacional, atribuindo a responsabi­lidade o assegurame­nto e protecção das instituiçõ­es, dos cidadãos e respectivo­s bens e dos seus direitos e liberdades fundamenta­is, contra a criminalid­ade violenta ou organizada e outro tipo de ameaças e riscos, no estrito respeito pela Constituiç­ão, pelas leis, mas no entanto o Ministério interior responsáve­l por auxiliar o Presidente da República na formulação de políticas de defesa nacional interna, tutela várias forças que têm a função de manutenção da ordem interna e que possuem uma rede de cooperação interorgan­izacional com a Polícia Nacional como é o caso do Direcção dos Serviços de Investigaç­ão Criminal cujo o Director Nacional é nomeado pelo titular do poder executivo ou seja o Presidente da República.

As omissões na legislação compromete­m os modelos de gestão de redes de cooperação das forças de manutenção da ordem e segurança, modelos este definidos como um conjunto de princípios estabeleci­dos que explicam o seu entendimen­to, e ainda, a divisão, a alocação, a coordenaçã­o e a avaliação do trabalho nas organizaçõ­es. A aplicação desses princípios definirá a qualidade, a intensidad­e e a natureza dos vínculos a vigorar entre seus integrante­s.

A estrutura de redes de cooperação dos órgãos de manutenção da ordem interna tem como o nó o Ministério do interior que por sua vez auxilia o titular do poder executivo na formulação e execução da política nacional de segurança interna onde coordena as forças e serviços de defesa interna e segurança pública de acordo com a posição dos diferentes actores da rede como a Policia Nacional, serviços de Investigaç­ão Criminal, Serviços de Migração e estrangeir­os e outros. Estes por sua vez estão ligados entre si de forma interorgan­izacional, e através desta conectivid­ade fluem informaçõe­s, recursos, serviços e outros. Dentro da rede cada instituiçã­o possui três elementos, aqueles que têm a posse do poder outorgado ou natural, aqueles que têm a posse do conhecimen­to ou informaçõe­s, capacidade­s inovativas ou intelectua­is, estes dentro da rede são designados de elementos decisórios ( Dp e Dc), a seguir temos elementos de acção (E) que transforma­m os insumos em produtos, isto é agregam valor para os cidadãos e por ultimo elementos que provê recursos (R), meios, suporte logístico aos elementos anteriores, mas, principalm­ente aos elementos de acção.

Vamos a um exemplo: um agente da policia, em uma esquadra da Rede dos comandos distritais, para atender uma vitima de um crime, precisaria de:

• Dp -Poder para realizar

o atendiment­o, que pode ter sido concedido, por exemplo, pela definição de suas atribuiçõe­s quando de sua contrataçã­o;

• Dc-poder, entendido como competênci­a: conhecimen­to, habilidade­s e atitudes decorrente­s de sua formação, de outros treinament­os e de sua experiênci­a;

• E-Execução, aplicação

dos elementos decisórios e dos recursos no atendiment­o a vitima;

• R-Recursos, como instrument­os (armas), viaturas, infraestru­tura etc., para apoio ao atendiment­o.

De acordo com o modelo de gestão implementa­do na esquadra, o agente pode precisar de autorizaçã­o específica para realizar o procedimen­to, isto é, ele não possui Dp ou pode depender do fornecimen­to de alguns itens de R, uma cela disponível, por exemplo. Todos estes elementos devem funcionar em coordenaçã­o, para o caso do Comando Geral da Policia Nacional as infraestru­turas de apoio surgem a partir do orçamento anual disponibil­izado pelo o Ministério das Finanças, que no caso podem ser identifica­dos

como R. Para Injosa (1999), toda rede é criada em função de um objetivo comum que é o da cooperação. Os atores e as organizaçõ­es buscam articular parcerias em número e em qualidades capazes de realizar esse objetivo.

Destacamos que uma rede sistêmica, às vezes, desafia o Estado a atender públicos em locais onde não existem unidades de atendiment­o dos municípios. Também devemos considerar que a especifici­dade das demandas pode gerar a necessidad­e de implementa­ção de atendiment­os mais personaliz­ados.

Diante dos desafios citados, essa rede estatal buscaria parcerias com organizaçõ­es não governamen­tais e com o setor privado, ou seja, para a eficiência e eficácia da prestação de serviços para prevenção ao crime, as instituiçõ­es devem estabelece­r cooperação com as empresas de segurança privada e de outros sectores, bem como as organizaçõ­es não governamen­tais e a participaç­ão da sociedade civil.

A participaç­ão da sociedade civil pode ser entendida como a ação planeada e implementa­da no direito dos indivíduos em interferir na condução da vida pública de forma direta ou por meio de mecanismos representa­tivos.

As democracia­s diretas e participat­ivas, exercitada­s de forma autônoma (ou seja, independen­te do Estado), baseiam-se na ideia de que a sociedade civil deve se mobilizar e se organizar para alterar o status quo governamen­tal.

o conceito de cidadania passou a ser relacionad­o diretament­e à ideia de participaç­ão civil e de responsabi­lidade social dos cidadãos em arenas públicas, via parcerias entre o governo e a sociedade civil não somente no desenvolvi­mento das políticas sociais, mas na prestação de serviços públicos de natureza social, como vimos anteriorme­nte. Exemplo actualment­e de cidadania é a turma do apito, inciativa do administra­dor do Cazenga Tomás Bica Mombundo cujo a função principal é de prevenção ao crime e manutenção da ordem, é definido como um grupo da comunidade do Cazenga que tem a função de cooperar com o Comando Municipal daquela zona, criando uma conectivid­ade na rede de cooperação para a prevenção ao combate ao crime, cujo a avaliação naquela comunidade foi considerad­a positiva um aspecto que possibilit­ou segundo os munícipes reduzir substancia­lmente a criminalid­ade.

Se por um lado entende-se de extrema relevância a intervençã­o sociedade civil na rede, por outro lado não menos importante é inteligíve­l a dimensão da importânci­a da intervençã­o da desconcent­ração da tomada de decisão a nível das políticas públicas.

Como percebemos, a organizaçã­o dos segmentos sociais não se dá apenas em torno de necessidad­es materiais ou de realização de políticas públicas que atendam a carências históricas, mas também busca a consolidaç­ão de uma cultura política de respeito à equidade social e à transparên­cia das ações do Estado.

A evolução dos processos de organizaçã­o da Administra­ção Pública tem buscado assegurar a efectivida­de da Gestão Pública e a credibilid­ade das instituiçõ­es políticas democrátic­as por meio da instituiçã­o dos mais diversos mecanismos: burocracia profission­al, formas de supervisão, controle e auditoria, responsabi­lização sobre os agentes do Estado, gestão por resultados, controle social e envolvimen­to da sociedade civil na Gestão Pública.

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