Valores para tempo de crise e incertezas
Os dias que correm são tão agitados, plenos de preocupações e dificuldades, o que leva o homem a correr feito um automóvel, numa velocidade incontrolável, incapaz de prever e contornar os obstáculos.
É um vai e vem, sobe e desce inevitáveis, traços característicos do dia-a-dia nas “urbes”, diferente da vida no interior. Aliás, a forma de o homem reagir ante si próprio, o mundo e ante a sociedade, vai se modificando no transcurso do tempo, de acordo com as circunstâncias.
Por exemplo, no interior, a vida comunitária é muito mais forte, as relações humanas mais próximas, os laços de familiaridade, de fraternidade, solidariedade, a entreajuda e o espírito de pertença, são sinais marcadamente visíveis, resultantes de uma educação comunitária sólida, valores culturais e princípios éticos transmitidos e vivenciados.
Na “urbe”, dado o formalismo do trabalho, o distanciamento entre os postos de trabalho e as residências dos trabalhadores, o horário de entrada e de saída no trabalho, a escassez de transportes públicos e o engarrafamento, a vida afunila-se no binómio “casa- trabalho, trabalho-casa”, as relações humanas e os laços que delas emanam (irmandade, amizade, fraternidade, solidariedade), fragilizam-se também.
E vem a questão:
Como manter os valores da fraternidade e da solidariedade, irmandade, amizade, ante a agitação que caracteriza a vida nas “urbes”?
Em Santo Agostinho encontramos a resposta quando diz “ama e faz o que quiseres”.
“O amor ou a amizade são incompactíveis com a ofensa intencional, a indiferença ou falta de empatia”.
Todos somos impelidos a fazer o bem, este é, aliás, um requisito básico para a vida em sociedade.
É preciso estarmos conscientes da agitação que caracteriza o nosso dia-a-dia, mas é fundamental não nos perdermos nela.
Precisamos nos lembrar sempre da miséria e da fragilidade humana, perceber que a vida, a saúde, a doença e a morte, são realidades que estão para além do domínio do homem, que o outro não é um estranho, mas é, antes, meu irmão, meu semelhante, recordar que ninguém é autossuficiente e, como se não bastasse, compreender que “o verdadeiro caminho para a felicidade consiste em dar-se aos outros”.
Os valores da solidariedade, fraternidade, irmandade, amizade, exortam-nos para a preocupação com o outro, colocar-se na sua pele, compreender as suas dificuldades e necessidades, ir ao seu encontro, e ajudar com o que se tem ou se é.
Este ideal humanista que orientou o direito e as constituições de vários estados, como se pode, por exemplo vislumbrar no art. I da Constituição, não é utópico, é, pois, um desafio do estado, das famílias, das escolas, das igrejas e das comunidades, em geral.
“Nada é mais universal e mais poderoso para construir o homem autêntico nas relações com o seu próximo que estes valores”.