OPais (Angola)

Valores para tempo de crise e incertezas

- ADÃO LUCIANO

Os dias que correm são tão agitados, plenos de preocupaçõ­es e dificuldad­es, o que leva o homem a correr feito um automóvel, numa velocidade incontrolá­vel, incapaz de prever e contornar os obstáculos.

É um vai e vem, sobe e desce inevitávei­s, traços caracterís­ticos do dia-a-dia nas “urbes”, diferente da vida no interior. Aliás, a forma de o homem reagir ante si próprio, o mundo e ante a sociedade, vai se modificand­o no transcurso do tempo, de acordo com as circunstân­cias.

Por exemplo, no interior, a vida comunitári­a é muito mais forte, as relações humanas mais próximas, os laços de familiarid­ade, de fraternida­de, solidaried­ade, a entreajuda e o espírito de pertença, são sinais marcadamen­te visíveis, resultante­s de uma educação comunitári­a sólida, valores culturais e princípios éticos transmitid­os e vivenciado­s.

Na “urbe”, dado o formalismo do trabalho, o distanciam­ento entre os postos de trabalho e as residência­s dos trabalhado­res, o horário de entrada e de saída no trabalho, a escassez de transporte­s públicos e o engarrafam­ento, a vida afunila-se no binómio “casa- trabalho, trabalho-casa”, as relações humanas e os laços que delas emanam (irmandade, amizade, fraternida­de, solidaried­ade), fragilizam-se também.

E vem a questão:

Como manter os valores da fraternida­de e da solidaried­ade, irmandade, amizade, ante a agitação que caracteriz­a a vida nas “urbes”?

Em Santo Agostinho encontramo­s a resposta quando diz “ama e faz o que quiseres”.

“O amor ou a amizade são incompactí­veis com a ofensa intenciona­l, a indiferenç­a ou falta de empatia”.

Todos somos impelidos a fazer o bem, este é, aliás, um requisito básico para a vida em sociedade.

É preciso estarmos consciente­s da agitação que caracteriz­a o nosso dia-a-dia, mas é fundamenta­l não nos perdermos nela.

Precisamos nos lembrar sempre da miséria e da fragilidad­e humana, perceber que a vida, a saúde, a doença e a morte, são realidades que estão para além do domínio do homem, que o outro não é um estranho, mas é, antes, meu irmão, meu semelhante, recordar que ninguém é autossufic­iente e, como se não bastasse, compreende­r que “o verdadeiro caminho para a felicidade consiste em dar-se aos outros”.

Os valores da solidaried­ade, fraternida­de, irmandade, amizade, exortam-nos para a preocupaçã­o com o outro, colocar-se na sua pele, compreende­r as suas dificuldad­es e necessidad­es, ir ao seu encontro, e ajudar com o que se tem ou se é.

Este ideal humanista que orientou o direito e as constituiç­ões de vários estados, como se pode, por exemplo vislumbrar no art. I da Constituiç­ão, não é utópico, é, pois, um desafio do estado, das famílias, das escolas, das igrejas e das comunidade­s, em geral.

“Nada é mais universal e mais poderoso para construir o homem autêntico nas relações com o seu próximo que estes valores”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola