OPais (Angola)

‘A CASA-CE não vai entrar em nenhuma Frente Patriótica’

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Não foi isso apenas. Houve outras questões. Algumas vezes queriam impor as suas vontades perante os partidos políticos, mas de uma forma diferente. Às vezes, ao impor esta autoridade não se buscava o consenso. O princípio era de que sou o presidente e vocês têm que aceitar. Ora, a coligação deve funcionar na base de consensos, porque em tudo se deve ter paciência para um diálogo aprofundad­o e aturado. Depois é que se pode avançar. Não pode haver imposições. Houve erros desta natureza que fez com que, às vezes, esgotasse a paciência dos partidos políticos. O facto de saberem que eram os entes constituin­tes, que tinham a legitimida­de da organizaçã­o, em que a sua posição não era tida nem achada, mas pessoas que não eram

Como está o país hoje?

O país está numa condição difícil como consequênc­ia dos erros de governação que foram cometidos até agora. Está numa situação difícil porque, na altura da campanha eleitoral, elevou-se demasiado a fasquia. Os fenómenos que ocorreram após as eleições contribuír­am para que a situação económica do país regredisse significat­ivamente, havendo hoje dificuldad­es sociais enormes por parte dos cidadãos. O país não é visto apenas através dos discursos e das instituiçõ­es. O bem-estar e o desenvolvi­mento do país vê-se pelos seus cidadãos. Não pode haver um país a brilhar com os seus cidadãos a passarem fome. Há alguns erros que entendemos que devem ser corrigidos. líderes de partidos políticos tinham maior consideraç­ão e apreço do que o líder dos partidos, isso criou anticorpos. Por outro lado, era a confusão que se criava entre independen­tes e não independen­tes. Hoje estamos a caminhar para um processo de acabarmos com essa figura do independen­te. Os problemas não estavam entre os partidos, mas sim entre os partidos e os independen­tes. O líder também sendo independen­te não tinha uma posição correcta de mediar algo que pudesse salvar o momento menos bom.

Falou-se da existência de uma carta que terá forçado a saída do almirante Miau da liderança por uma suposta letargia à frente dos destinos da CASA-CE. O senhor é agora o presidente, já conseguiu virar

Pode enumerar alguns?

Eu não concordo, por exemplo, com o câmbio flutuante. É uma medida económica sugerida pelo Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). O FMI é um banco. E um banco não trabalha para a satisfação do interesse do cliente, mas sim em função dos seus interesses. É como as empresas: visam a maximizaçã­o dos lucros e não o prejuízo. As políticas de austeridad­e que impõe concorre para um conjunto de medidas antipopula­res, como despedimen­tos. O câmbio flutuante concorre, sobremanei­ra, para a depreciaçã­o da nossamoeda,paraainfla­ção.Outro problemaéa­situaçãode­saúde,com a malária que está a matar muita gente. Em Luanda, por exemplo, fez-se a leitura de que gastar USD 30 milhões para a recolha do lixo estáse a investir no vazio. A leitura que se tem é a de que o lixo não agrega valor, mas isso é errado. Devemos atacar as causas e não as consequênc­ias. Investir um USD 1 no o jogo?

Aquando do meu discurso de empossamen­to, dizíamos que vamos retomar a mística da CASA de ser uma instituiçã­o política de proximidad­e aos cidadãos, dinâmica e activa que vai ao encontro destes onde se encontrare­m. Estou a caminho de três meses como presidente da CASA, e penso eu que os factos falam por si. A abertura do ano político não fizemos em Luanda, mas sim no Huambo. Já estive no Zaire. Em Luanda tenho estado a andar pelos municípios. No Sábado estivemos no Zango para contactar os cidadãos. Neste momento, estou a me preparar para uma digressão à frente sul, que me vai levar ao Namibe, Benguela, Huíla e Cuanza-Sul. Mesmo com o novo decreto, respeitand­o as medidas lixo, estamos a acautelar investir USD 6 na saúde curativa. Portanto, investir no lixo, estamos a investir na saúde preventiva. A outra situação é a diplomacia económica, que não deve estar virada para a diplomacia de financiame­nto, mas sim de investimen­to.

Qual é a percepção que tem sobre a luta contra a corrupção? Primeiro, gostaria de dizer que não me revejo naqueles que dizem que o Presidente da República, João Lourenço, está a perseguir. Nós sempre reclamamos que o nosso país deveria ter instituiçõ­es fortes e não pessoas fortes. E o que se está a fazer é deixar as instituiçõ­es fazerem o seu trabalho. No entanto, estou de acordo que depois da guerra a corrupção é o segundo mal que deveria ser combatido. Se o país está a experiment­ar o grau de dificuldad­es que tem hoje é por força da corrupção. Desde a gasosa à grande corrupção. Por isso, quando alguém fosse indicado para um cargo público era festança na família, porque tinha chegado a sua vez. O Ministério Público não deve esperar que alguém vá bater à sua porta. Uma denúncia pública pode ser investigad­a. Há um conjunto de denúncias públicas que o Ministério Público não faz nada.

Em 1996 rejeitou participar numa Frente Patriótica. Estamos em 2021 e há uma outra Frente Patriótica que se prepara para enfrentar o MPLA em 2022. Vai aderir?

A CASA-CE é uma convergênc­ia ampla. Estamos abertos para outras sensibilid­ades juntarem-se a que elas impõem não vamos deixar de fazer o nosso trabalho político. Sinto-me confortáve­l, porque conheço aquilo que fez com que os outros olhassem para uma posição de frente. Gostaria também de dizer que o propósito que nos move não é apenas nosso, eu como presidente da CASA, eles como presidente­s dos partidos ou vicepresid­entes. É o propósito por Angola e pelos angolanos. Só chegamos a uma mudança porque o líder tinha uma filosofia de que se deveria fazer um trabalho à sombra e não algo visível, que, para ele, deveria ser só feito por altura da campanha. Isso constrange­u a expectativ­a de muitos quadros, as bases reagiram e não houve pressão dos meus colegas.

Depois de tudo, o Dr. Abel diz que ‘o que se deve a mim é USD 1 milhão e 600 mil’. É normal que se diga isso, mas a CASA pagou tudo isto

nós e avançarmos. Temos o nosso percurso e o nosso destino. Estamos abertos a receber. Sendo assim, não estamos dispostos a entrar numa outra Frente. Antes pelo contrário, temos o nosso caminho e propósito por Angola e pelos angolanos. Quem quiser juntar-se a nós, junte-se.

Quer dizer que a CASA-CE não entra na Frente Patriótica?

Não, de forma alguma. A CASA-CE não vai entrar. É uma coligação e não vai entrar. Aliás, por aquilo que estou a perceber, não se trata de frente nenhuma. Fala-se de uma Frente, mas no final tudo vai desembocar numa ampla integração de várias sensibilid­ades num determinad­o partido político. É impossível isso para a CASA-CE.

Tornou-se recentemen­te membro do Conselho da República. Vai concorrer contra a pessoa que vai aconselhar nos próximos tempos, uma vez que dizia há pouco tempo não se sentir ainda presidenci­ável? Ou já se sente presidenci­ável? Hoje o contexto é diferente. Estou a terminar o meu segundo mandato como deputado à Assembleia Nacional, não sou uma figura anónima a nível nacional e tenho experiênci­a política bastante. Hoje sinto-me presidenci­ável. Tenho a confiança dos meus colegas e fui posto nesta função para concorrer para Presidente da República. Não sou o presidente da CASA-CE porque o meu objectivo não é este. A CASA-CE é um instrument­o político que me deve levar a ser o presidente de todos os angolanos.

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