Maio mês da língua
“Vale a pena manter uma língua comum e lutar por ela? Todas as línguas mostram a capacidade humana de criar categorias, todas as palavras encolhem a realidade, mas ao mesmo tempo são mediadoras, pretendem chegar ao outro.”
Neste mês da língua encontrei mais este texto da professora Ana Paula Dourado, publicado no Jornal Expresso em Lisboa e, seguindo seu pensamento, que coloco entre aspas, vou no final demonstrar uma tese — que a língua, a nossa mais que as outras, é uma plataforma, não apenas um instrumento de comunicação.
A tecnologia e a digitalização crescente — neste tempo de conetividade global — fazem com que a língua tenha deixado de ser um mero instrumento de comunicação e tenha agora reunidas as condições para, sozinhamente, se ter tornado numa verdadeira plataforma acionável.
Ela é uma ferramenta palpável, tecnológica, económica e operativa — onde existem transações de facto. De comunicação, mas também económicas e financeiras. Como se ela fosse uma aplicação da qual se pode fazer download, e instalalar no telefone para fazer compras de qualquer coisa.
A língua é verdadeiramente o sangue de cordão umbilical de qualquer tecnologia, porque ela é o código primogénito, aquele que muito brevemente dispensará as abstrações dos programadores informáticos para que se constitua, ela própria, em um código universal naturalmente utilizado por todos.
Uma conversa será um algoritmo, um monólogo uma iteração, uma discussão uma descoberta científica.
“Tal como outras línguas, a língua portuguesa impôs-se, fragmentou-se, tenta unir-se.” Mas os seus utilizadores — falantes e escritores — da língua portuguesa, como resultado da interculturalidade específica dos seus povos, utilizam-na com uma tensão que não se encontra em mais nenhuma língua do ocidente.
“As línguas cristalizam ou evoluem, parece que através de uma mão invisível. Há que dar vida à língua portuguesa e não temer as representações de mundos diversos.” Os negócios, motores de todo o progresso, são essa mão invisível. É na economia que podemos definir o espectro futuro do seu valor. Sem temer os mundos diversos onde ela se possa mover, ou melhor ainda, os desejando.
E não foi assim que tudo começou? Um dia a nossa língua ainda vai ser universal!