OPais (Angola)

“O Ndunguidi era um ala muito forte e veloz”

-

Tenho uma lesão na perna e foi graças ao camarada Presidente José Eduardo dos Santos e o camarada Ismael Diogo. que me ajudaram a ir para o Brasil, onde fiz o tratamento, graças a esses senhores. Passado alguns anos, as dores voltaram, mas o camarada Paixão Júnior mandou-me para a Namíbia, e, lá fizeram a rectificaç­ão. Já não posso tocar mais na bola para umas corridas, mas um pé de dança ainda sai... risos.

Antes sim, porque nos campeonato­s passados, dirigentes e adeptos de outros clubes nas outras províncias do país nos chamavam fraccionis­tas. Actualment­e, não. Houve um jogo, no Huambo, em que respondi a um colega por me tratar fraccionis­ta. Eu disse que também és bombista. Aquilo gerou uma polémica grande, porque no Huambo rebentavam muitas bombas. Mas, essa pessoa hoje é minha amiga.

É o meu amigo Lutukuta. Não tenho nada a esconder e quando estamos juntos, lembramos isso e nos metemos a rir mais do que antes.

Estávamos a perder por 3-2. É como se estivesse a ver agora o lance. Houve uma falta fora da grande área. Os nossos adeptos já haviam abandonado o Estádio, faltavam poucos minutos para acabar a partida. Porém, o Praia atirou no ângulo mais difícil, sem dar possibilid­ades ao Napoleão. Depois do golo, os adeptos ainda regressara­m e gritavam de alegria, 3-3, um empate para a história, mas acabamos por perder aos penaltis. Foi um grande jogo.

Anda um pouco fraco. Ninguém olha para nada. Olha que o Augusto Pedro e o Santinho também são embaixador­es do clube, mas não há grande valorizaçã­o. Tenho direito a um salário, mas não o vejo há muito tempo.

Não sei por que razão é que a direcção não quer resolver. Da última vez que falamos, disse que me dessem somente 50% do valor e que o resto ficasse para o clube. Mantive contacto com a nova direcção e estou à espera.

Foi graças ao camarada Brito Sozinho, como era das Relações Exteriores, tinha a possibilid­ade de ir para os países vizinhos e irmãos como os Congos, então conseguiu o Mirage, Kiala, Dombele, Deni, o Vata e outros. Esses atletas quando chegaram ao clube se não fomos campeões não sei! Nunca me esqueci deles. Essas figuras também merecem estar aqui na sede do clube para serem lembradas, infelizmen­te o clube não o faz.

O Ndunguidi, até fugia do meio para a ala, de modo a não levar muita “pancada”, risos...

Confirmo. O Ndunguidi era um ala muito forte e veloz. Era preciso estar atento com ele, porque podia passar pela defesa e chutar para o golo. Mas, quando encontrava o Progresso com Jaime à direita, Ferreira à esquerda e eu e o Santo António no meio, aquilo dava faísca! Mas, sem tirar mérito, o Ndunguidi foi um excelente jogador. Merecíamos mais respeito, não ganhamos nada no futebol. É verdade. Fui 16 vezes internacio­nal e não tenho nada. Graças ao camarada José Eduardo dos Santos que me deu uma casa na Marconi.

Não somos tidos nem achados no Progresso. Há dias fui ver o meu carro no parque do clube e alguém me perguntou se queria ir ao campo. Isso não é pergunta que se faz a um antigo praticante, co-fundador e embaixador do clube.

Não aceitei. Até um convite o clube não consegue pôr à disposição dos antigos praticante­s?

Há dias fui à casa de um amigo para assistir a uma partida de futebol. E quando o jogo começou, eu perguntei como é que a nossa Selecção Nacional vai melhorar com o futebol a ser praticado dessa forma. Sem qualidade, não é possível. Foi um futebol triste.

Fizemos muito. Naquele tempo, em todas as províncias tinham craques. Todas as equipas na minha época tinham craques. Hoje, no Huambo, em Benguela, no Lubango ou na Huíla e mesmo em Luanda há poucos craques no verdadeiro sentido da palavra. O Progresso é o meu clube. Fui eu quem arranjou as primeiras camisolas e calções da equipa, fui buscar na Textang. É aqui onde o meu nome ganhou notoriedad­e e o respeito que as pessoas têm por mim e eu por elas.

Entrei na Textang aos 14 anos e aos 18 fui para a tropa colonial portuguesa. Saí da tropa e depois regressei outra vez à Textang como trabalhado­r, depois trabalhei no Banco Comercial Industrial. No Comércio Interno, pela Edimbi, foi o meu último posto de trabalho. Tenho lá a minha reforma e assim vou gerindo a casa.

Tenho falado com o treinador Paulo Dias. Transmito muita coragem e força a ele. Temos jovens capazes. Fora de casa empatar já será muito bom. Em casa, lutar para vencer deve ser a palavra de ordem, porque ele é um bom treinador. Nos juvenis, fui coordenado­r e fomos campeões no Lobito, em Benguela. O Paulo merece.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola