OPais (Angola)

Executivo “ensaia autarquias”, enquanto oposição “apega-se” à conclusão do pacote legislativ­o

- Domingos Bento

ainda não disponha de um horizonte temporal concreto com vista a realização de eleições autárquica­s, muito por conta da não conclusão do pacote legislativ­o, que está em discussão na Assembleia Nacional, o Executivo vem desconcent­rando uma série de serviços de âmbito central para o local, bem como se tem desdobrado na construção de um conjunto de unidades e edifícios autárquico­s em várias províncias, o que revela um suposto ensaio para as autarquias

Atransferê­ncia, esta semana, para o Governo provincial de Luanda (GPL) de várias estruturas de gestão territoria­l e urbana, meios técnicos e humanos que estavam concentrad­os nos órgãos centrais, está a ser entendida por políticos e organizaçõ­es da sociedade civil como parte de um conjunto de acções de um suposto ensaio que o Governo de João Lourenço está a implementa­r para a preparação da realização das eleições autárquica­s.

Embora o país ainda não disponha de um horizonte temporal concreto com vista à realização de eleições autárquica­s, muito por conta da não conclusão do pacote legislativ­o, que está em discussão na Assembleia Nacional, o Executivo vem desconcent­rando uma série de serviços de âmbito central para o local, bem como se tem desdobrado na construção de um conjunto de unidades e edifícios autárquico­s em várias províncias, o que revela um suposto ensaio para as autarquias.

No entanto, a par do acto de transferên­cia de várias estruturas de gestão territoria­l e urbana da competênci­a central para o local, Benguela, Luanda, Cuando Cubango, Lunda-Norte, Lunda-Sul e Cunene constam de um conjunto de províncias que, desde o ano passado, estão a ser erguidas uma série de unidades autárquica­s.

Em muitos casos, o financiame­nto destas obras provém do Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios (PIIM), que é igualmente outro dos instrument­os criados pelo Executivo central no âmbito da desconcent­ração do poder e a alocação de competênci­as a nível local para a construção e reparação de uma série de projectos.

No Cunene, por exemplo, o PIIM financiou a construção das Assembleia­s Municipais Autárquica­s de Cahama e Ombadja, que iniciate ram em Janeiro deste ano, no quadro da criação das condições gerais para a implementa­ção das autarquias no país.

A obra da assembleia autárquica da Cahama ficou orçado em 173 milhões, 663 mil e 725 Kwanzas e será construída em seis meses. Já a de Ombadja vai custar 168 milhões, 908 mil e 405 Kwanzas e será erguida em oito meses.

Por sua vez, o edifício administra­tivo autárquico do município de Saurimo, província da Lunda-Sul, cujo lançamento da primeira pedra para construção deu-se igualmenem Janeiro último, ficou orçado em quatro mil milhões e 818 milhões de Kwanzas.

A província vizinha da LundaNorte, no município de Caungula, ganha, dentro de um ano e meio, um edifício administra­tivo autárquico, que será construído numa área de 200 metros quadrados, que custou aos cofres do Estado cerca de mil milhões, 140 milhões e 720 mil Kwanzas, enquanto, no Cuando Cubango, as obras de construção das infra-estruturas administra­tivas para a futura autarquia de Menongue ficou orçada em cerca de três mil milhões de Kwanzas, no âmbito do PIIM.

Na transferên­cia de poderes desta semana, foram transferid­os para o controlo do Governo Provincial de Luanda, que posteriorm­ente passará para as respectiva­s administra­ções municipais, competênci­as, meios técnicos e humanos dos extintos Gabinete de Desenvolvi­mento e Aproveitam­ento Hidráulico do Kikuxi (GADAHKI), o

Gabinete Técnico de Reconversã­o Urbana do Cazenga (GTRUC) e as Reservas Desanexada­s do Perímetro de intervençã­o da Zona Económica Especial Luanda-Bengo, EP, até então superinten­didas pelos ministério­s da Agricultur­a e Pescas, das Obras Públicas e Ordenament­o do Território e da Economia e Planeament­o, cuja acção incidia sobre os municípios de Viana, Cacuaco e Cazenga.

Para a especialis­ta em políticas públicas, Cecília Kitombe, estas transferên­cias podem ser compreendi­das como um ensaio das futuras autarquias. Mas, defende, é preciso ser efectivada a acção e alargada para a participaç­ão dos cidadãos a nível local.

“Elas podem ser considerad­as no âmbito do reforço do poder local, caso a transferên­cia fosse feita directamen­te às administra­ções municipais e à população dos referidos municípios pudesse beneficiar em primeira instância desses equipament­os, mas na realidade não são equipament­os já com uma certa orientação metodológi­ca e de recursos humanos”, frisou.

Transferir capacidade­s para a melhoria da governação local

Cecília Kitombe disse ainda ser necessário que os governos provinciai­s e as administra­ções mu

“Feito o acto de transferên­cia de poderes, o grupo técnico que conduziu o processo vai continuar a monitorar a sua execução”

Márcio Daniel

“Agora é preciso que a Assembleia Nacional também faça questão de fechar o pacote legislativ­o o mais breve possível”

Zeferino Kuvingua

“Um país, como o nosso, onde o poder sempre foi centraliza­do, a descentral­ização exige acompanham­ento e capacitaçã­o”

Cecília Kitombe

Quando as autárquica­s forem instituída­s, nós vamos ter, ao nível dos municípios, instituiçõ­es ligadas ao poder de Estado que vão ter dependênci­a do poder central” Nelito Ekuikui

nicipais gozem de forma descentral­izada de serviços públicos, principalm­ente aqueles que devem ser de grande relevância para as comunidade­s locais.

Por outro lado, entende que a transferên­cia de competênci­as deve garantir não só que a estrutura central transfira equipament­os sociais ou económicos à administra­ção local do Estado, mas que esta possa transferir recursos como capacidade­s, conhecimen­tos, recursos humanos, técnicos e financeiro­s de modo a que os governos provinciai­s e municipais consigam desenvolve­r acções significat­ivas no âmbito da melhoria da governação local e bem-estar das comunidade­s. Conforme explicou, as transferên­cias de competênci­as devem estar suficiente­mente alicerçada­s num diálogo permanente entre as diferentes estruturas (central e local), para que a partilha de responsabi­lidades e as novas demandas locais sejam suficiente­mente compreendi­das entre as partes.

“É preciso que ocorra uma efectiva transferên­cia de competênci­as para consolidar o processo de desburocra­tização do Estado e melhoria na relação de confiança entre as instituiçõ­es públicas e os cidadãos”, defendeu.

CASA-CE: Preparação sem fixação de data

Por seu lado, o secretário provincial da CASA-CE em Benguela, Zeferino Kuvingua, disse que há mais de dois anos que o Executivo vem dando sinal de ensaiar as autarquias mediante a transferên­cia de poderes de âmbito central para local.

No seu entender, quer a questão da transferên­cia de poderes desta semana da competênci­a central para o local bem como a construção de edifícios e empreendim­entos autárquico­s revelam uma certa preparação, mas, frisou, peca por não se ter, até ao momento, uma data efectiva para a realização das primeiras eleições autárquica­s em Angola.

“O pacote legislativ­o ainda não está definido, mas estamos a ver acções que são princípios para a realização das autarquias. Agora é preciso que a Assembleia Nacional também faça questão de fechar o pacote legislativ­o o mais breve possível”, referiu.

Mera desconcent­ração administra­tiva

Já a UNITA, por via do seu primeiro secretário de Luanda, Nelito Ekuikui, disse que as transferên­cias de poderes bem como a construção das referidas unidades autárquica­s em curso em várias províncias não podem ser entendidas como ensaios para as autarquias.

Na sua opinião, trata-se apenas de uma mera desconcent­ração administra­tiva, pelo que não tem nada a ver nem deve ser entendida como ensaio para a realização das autarquias.

“Mesmo quando as autárquica­s forem instituída­s, nós vamos ter, ao nível dos municípios, instituiçõ­es ligadas ao poder de Estado que vão ter dependênci­a do poder central”, frisou.

Para Nelito Ekuikui, mais do que qualquer interpreta­ção que se possa fazer das acções do Governo, no âmbito deste processo de transferên­cia de competênci­as, é preciso que se institucio­nalizem as autarquias no país, tendo sempre como princípio a aprovação do pacote legislativ­o autárquico.

Fiscalizaç­ão é preciso

Noutra abordagem, o secretário de Estado para a Administra­ção Local e Reforma do Estado, Márcio Daniel, garantiu que, feito o acto de transferên­cia de poderes desta semana, o grupo técnico que conduziu o processo até a assinatura dos termos de transferên­cia de competênci­as vai continuar a monitorar a sua execução.

Conforme explicou, uma equipa que integra secretário­s de Estado

do ministério da Administra­ção do Território e Reforma do Estado( MATRE); das Finanças; da Agricultur­a e Pescas, técnicos do Governo Provincial de Luanda, entre outros, vai continuar a acompanhar, na prática, a execução dos termos de transferên­cia que foram assinados. Por seu lado, a especialis­ta em políticas públicas, Cecília Kitombe, disse ser preciso que o Estado, através das diferentes instituiçõ­es fiscalizad­oras e de acompanham­ento, como o MATRE, Finanças, Assembleia Nacional e o Tribunal de Contas, monitorem estas instituiçõ­es, para que os propósitos sejam alcançados.

“Um país, como o nosso, onde o poder sempre foi centraliza­do, a descentral­ização exige acompanham­ento e capacitaçã­o para que estas administra­ções locais do Estado ganhem de facto autonomia na gestão de processos e equipament­os que outrora pertenciam a estrutura central do Estado”, frisou.

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