Longa marcha
Corria a década de 60, do século passado, quando Jonas Savimbi, e outros conjurados embarcaram para Nanquim, na China, receber treino militar para a participação na luta de libertação em Angola contra o colono português. Viria a ser também na China, onde Viriato da Cruz, um dos mais destacados militantes do MPLA, subscritor do seu manifesto, se deslocasse após um desaguisado com os seus companheiros por razões ideológicas e outras.
Na Angola democrática, isto após o alcance da paz, depois da morte de Jonas Savimbi em combate, no Lucusse, Moxico, o país teve de se virar também à China para a obtenção de recursos que lhe possibilitasse avançar com o processo de reconstrução das suas principais infra-estruturas, como estradas, pontes e até indústrias.
A não realização de uma conferência de doadores, inicialmente prevista, em que a comunidade internacional se prontificara em dar uma mão a Angola, país acabado de sair da guerra, empurrou o país na busca de alternativas. O recurso à China, num momento de aperto, acabou por merecer vários reparos internos e externos, devido às condições menos exigentes destes, o que resultou numa série de críticas ao consulado do Presidente José Eduardo dos Santos.
O investimento chinês, inicialmente no sector público, possibilitou a entrada de empresas públicas e privadas chinesas, muitas das quais hoje se enraizaram no país.
Porém, pouco se sabia sobre o envolvimento destes a nível dos partidos políticos, exceptuando a célebre relação entre o MPLA e o Partido Comunista Chinês.
A entrevista que nos concede hoje o novo líder da CASA-CE, Manuel Fernandes, revela um passivo que herdou dos seus antecessores, no caso Abel Chivukuvuku e almirante André Mendes de Carvalho, relacionado a uma dívida de mais de cinco milhões de dólares contraída a um empresário chinês, que o político descreve como sendo alguém de ‘boa-fé’, para que pudessem participar no pleito passado.
Ao que tudo indica, independentemente dos argumentos que possam ser apresentados por muitos, há sempre necessidade de se empreender uma longa marcha nos momentos de aperto. O amigo chinês está sempre aí, ao lado, para ajudar a desanuviar qualquer situação, desconhecendo-se quais seriam, por exemplo, as contrapartidas, a favor dos referidos empresários ou grupos económicos, em caso de vitória de uma força política que se tenha entregue a estes empréstimos colossais.