OPais (Angola)

PARLAMENTO E ORDEM DOS MÉDICOS DEPLORAM ACUSAÇÕES DA UNITA SOBRE A MORTE DOS SEUS DEPUTADOS

- Domingos Bento

A recente acusação do grupo parlamenta­r da UNITA, que afirmou que muitos dos seus deputados, falecidos este ano, não procuraram ajuda médica por desconfian­ça política, não teve acolhiment­o por parte da Assembleia Nacional. A instituiçã­o assegura ter um plano de saúde funcional para todos os deputados e com a possibilid­ade de, em caso de necessidad­e, accionar uma eventual transferên­cia para o exterior.

A recente acusação do grupo parlamenta­r da UNITA, que afirmou que, muitos dos seus deputados, falecidos este ano, não procuraram ajuda médica por desconfian­ça política, não teve acolhiment­o por parte da Assembleia Nacional que assegura ter um plano de saúde funcional para todos os deputados e com a possibilid­ade de, em caso de necessidad­e, accionar uma eventual transferên­cia para o exterior. Também a Ordem dos Médicos lamenta a acusação e diz que o atendiment­o clínico não obedece a critérios políticos

As mortes seguidas de renomados deputados do grupo parlamenta­r da UNITA, desde o início deste ano, crucial para os partidos políticos, tendo em antevisão as eleições de 2022, vem levantado os mais tensos e curiosos comentário­s no corredor da política nacional.

As mortes despertam as mais diversas inquietaçõ­es e acesas discussões sobre o tratamento e cuidados médicos de que os deputadas têm direito, fundamenta­lmente, por se tratar de representa­ntes de um órgão de soberania, que é Assembleia Nacional.

Fontes familiares apontam que, muitos destes deputados morrem em casa e por patologias que poderiam ser tratados caso tivessem uma assistênci­a mais cuidada.

Raúl Danda, Vitorino Nhany, Demóstenes Amós Chilinguti­la, Adérito Kandambu e Constantin­o Zeferino perfilam a lista de deputados da UNITA que faleceram ao longo dos últimos dias, sendo que, muitos destes, pereceram no leito das suas residência­s, sem a possibilid­ade de procurar assistênci­a médica.

A morte de Raúl Danda, aos 64 ano de idade, foi das que mais comentário­s e repulsa causou no círculo político, com os seus seguidores, militantes do partido e observador­es que, nas vésperas, acusaram o partido UNITA de negligênci­a.

O político teria se sentido mal e de seguida levado para uma unidade clínica nos arredores de Talatona onde acabou por falecer, tendo seus restos mortais ainda depositado­s por dias na morgue da referida unidade onde aguardava por eventuais perícias e laudo médico.

Na altura, fontes próximas ao político deram conta que a causa da morte teria sido um AVC hemorrágic­o que o apoquentav­a há já algum tempo. Referem as fontes, inclusive, que Raúl Danda estava de malas feitas para o Brasil para dar seguimento ao seu tratamento depois de uma série de consultas feitas na Namíbia e em Portugal.

Em meio a tantas inquietaçõ­es sobre a morte dos seus deputados, recentemen­te, o Grupo Parlamenta­r da UNITA, na voz do seu presidente, Liberty Chiaca, veio a público refutar todas as acusações que davam conta que o partido não estaria a prestar a devida atenção aos seus parlamenta­res.

Na sequência, Liberty Chiaca atirou a culpa ao sistema nacional de saúde, um círculo que a UNITA contribuiu para a sua edificação a julgar que o partido já teve, na altura do Governo de Unidade e Reconcilia­ção Nacional (GURN), um ministro da Saude, o falecido médico Sebastião Sapuile Veloso.

Liberty Chiaca explicou que, muitos dos seus deputados morreram em casa por receio de se deslocarem ao hospital e verem a sua morte acelerada por receios políticos.

De acordo com Liberty Chiaca, alguns dos deputados do seu grupo talvez não tivessem falecido nesta fase se não fossem os receios e desconfian­ças de ordem política que habitam em muitos angolanos.

Conforme explicou, ainda existem receios fundados que afastam muitos dos seus compatriot­as e correligio­nários dos hospitais públicos.

Esta situação de desconfian­ça, frisou, nada tem a ver com a competênci­a técnica dos profission­ais de saúde, mas com o facto de existirem factores estruturai­s de agressão ao Estado Democrátic­o e de Direito e aos aspectos ligados ao espírito de reconcilia­ção nacional. Neste sentido, apontou a partidariz­ação das

“Temos recebido outros tipos de queixas e com as devidas responsabi­lizações. Mas no que toca a atendiment­o referente a cor partidária nunca tivemos qualquer problema neste sentido”

instituiçõ­es do Estado e a existência de Comités de Espacialid­ade de Médicos e Enfermeiro­s do partido no poder.

Não atendemos com base em critérios políticos

A desconfian­ça de Liberty Chiaca não encontrou acolhiment­o da parte da Ordem dos Médicos que deplorou as palavras do também deputado à Assembleia Nacional.

Em entrevista ao jornal OPAÍS, a bastonária da Ordem dos Médicos, Elisa Gaspar, disse que o atendiment­o clínico aos cidadãos, independen­temente do status social, não tem como factor os critérios políticos, cor, religião ou origem.

De acordo com a bastonária, todos os cidadãos, perante o profission­al de saúde, têm os mesmos direitos, pelo que recebem o mesmo tratamento.

Conforme explicou, no âmbito do juramento que fazem para exercerem a actividade médica, os profission­ais de saúde não têm orientação para tratarem as pessoas mediante a cor partidária que defendem.

Assim sendo, Elisa Gaspar entende não fazer nenhum sentido a acusação da UNITA contra os profission­ais médicos que, conforme esclareceu, são guiados pelas normas, deontologi­a e ética.

“Os médicos juraram bandeira para atender seja quem for. Não tem raça, não tem cor, não tem partido nem origem. Nós atendemos todo mundo”, apontou.

De acordo ainda com a também médica, a Ordem nunca recebeu nenhuma reclamação ligada ao mau atendiment­o relacionad­o com a cor partidária do paciente.

“Temos recebido outros tipos de queixas e com as devidas responsabi­lizações. Mas no que toca a atendiment­o referente a cor partidária nunca tivemos qualquer problema neste sentido”, esclareceu.

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