Dinheiro não é capim
Os kimbundu, certamente, saberão do grande chavão ‘mukua malanji, kitadi iangu’, expressão que traduzida em português corrente significará que ‘para os malanjinos dinheiro é capim’. Durante largos anos, das bombaladas, dos homens dos toledos e até os craques que apenas se vestiam das famosas bombazinas, talvez se acreditasse que vivêssemos a fase em que, para muitos, dinheiro fosse mesmo capim.
Foi assim que se desenhou demasiados heróis, muito dos quais com percursos sinuosos, levando à percepção de que os fundos proviessem de caminhos lícitos, muitos dos quais apadrinhados por sectores bem conhecidos do próprio sistema.
Os vários casos de corrupção – e de ladroagemexibidos pela comunicação social, sem demérito para os que se sintam ofendidos pelo percurso invejável que construíram, a história nos mostra que há canções impossíveis de embalar até mesmo os pobres ceguinhos em que nos construímos.
Está, hoje, mais do que visível que, embora tivessem existido no passado várias denúncias sobre desvios de enormes quantidades de dinheiro, a realidade só é possível graças a uma liderança política que teve de enfrentar o compadrio e os interesses obscuros em que se pretendia construir o país que deseja dar alguns passos em frente.
Claro que persistem algumas zonas cinzentas por se esclarecer. Mas, ainda assim, a bandeira de combate à corrupção parece mais forte do que os apetites inconfessos de muitos que ainda persistiam na velha tese de que havia um combate selectivo, com o propósito único de se prejudicar uns e beneficiar um séquito.
O caso Lussaty confirma a tese de que para muitos, dinheiro, neste país, tal como se pretendia mostrar ser um privilégio de uns poucos escolhidos, era capim. Infelizmente, mesmo que alguns não concordem essa tese esbate a velha ideia de uns de que se estava perante uma luta sem quartel, onde uns poucos tinham sido escolhidos a dedo.
As opiniões que vamos lendo, actualmente, nos mostram a percepção que se ganhou. Não sei se haverá ainda por aí muitos que se oponham ao processo em curso, feito exactamente para se travar os rombos demonstrados por aquelas malas que nos foram dadas a ver nos últimos tempos.
É provável que existam contras. Mas, nenhum deles deixa de mostrar repugnância pelos montantes e outros bens exibidos. Talvez, por isso, hoje se começa a perceber que deve haver explicações para todos aqueles que, durante largos anos, não tiveram pejo, sequer, em nos querer mostrar que, afinal, dinheiro fosse capim.
Do outro lado, há os que se divertem com uma hipotética fuga de larápios, quando o normal seria manifestar descontentamento por isso, sobretudo pelo facto de estes se dirigirem para países em que nunca serão aceites como milionários.
Felizmente, ninguém planta na terra, nota a nota ou aos montes, para que um dia cresçam ao ponto de serem depois conservadas em malas duvidosas. Dinheiro nunca foi capim!