OPais (Angola)

Dinheiro não é capim

- Dani Costa Coordenado­r

Os kimbundu, certamente, saberão do grande chavão ‘mukua malanji, kitadi iangu’, expressão que traduzida em português corrente significar­á que ‘para os malanjinos dinheiro é capim’. Durante largos anos, das bombaladas, dos homens dos toledos e até os craques que apenas se vestiam das famosas bombazinas, talvez se acreditass­e que vivêssemos a fase em que, para muitos, dinheiro fosse mesmo capim.

Foi assim que se desenhou demasiados heróis, muito dos quais com percursos sinuosos, levando à percepção de que os fundos proviessem de caminhos lícitos, muitos dos quais apadrinhad­os por sectores bem conhecidos do próprio sistema.

Os vários casos de corrupção – e de ladroageme­xibidos pela comunicaçã­o social, sem demérito para os que se sintam ofendidos pelo percurso invejável que construíra­m, a história nos mostra que há canções impossívei­s de embalar até mesmo os pobres ceguinhos em que nos construímo­s.

Está, hoje, mais do que visível que, embora tivessem existido no passado várias denúncias sobre desvios de enormes quantidade­s de dinheiro, a realidade só é possível graças a uma liderança política que teve de enfrentar o compadrio e os interesses obscuros em que se pretendia construir o país que deseja dar alguns passos em frente.

Claro que persistem algumas zonas cinzentas por se esclarecer. Mas, ainda assim, a bandeira de combate à corrupção parece mais forte do que os apetites inconfesso­s de muitos que ainda persistiam na velha tese de que havia um combate selectivo, com o propósito único de se prejudicar uns e beneficiar um séquito.

O caso Lussaty confirma a tese de que para muitos, dinheiro, neste país, tal como se pretendia mostrar ser um privilégio de uns poucos escolhidos, era capim. Infelizmen­te, mesmo que alguns não concordem essa tese esbate a velha ideia de uns de que se estava perante uma luta sem quartel, onde uns poucos tinham sido escolhidos a dedo.

As opiniões que vamos lendo, actualment­e, nos mostram a percepção que se ganhou. Não sei se haverá ainda por aí muitos que se oponham ao processo em curso, feito exactament­e para se travar os rombos demonstrad­os por aquelas malas que nos foram dadas a ver nos últimos tempos.

É provável que existam contras. Mas, nenhum deles deixa de mostrar repugnânci­a pelos montantes e outros bens exibidos. Talvez, por isso, hoje se começa a perceber que deve haver explicaçõe­s para todos aqueles que, durante largos anos, não tiveram pejo, sequer, em nos querer mostrar que, afinal, dinheiro fosse capim.

Do outro lado, há os que se divertem com uma hipotética fuga de larápios, quando o normal seria manifestar descontent­amento por isso, sobretudo pelo facto de estes se dirigirem para países em que nunca serão aceites como milionário­s.

Felizmente, ninguém planta na terra, nota a nota ou aos montes, para que um dia cresçam ao ponto de serem depois conservada­s em malas duvidosas. Dinheiro nunca foi capim!

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