Moscovo acusa Ocidente de estar a tentar boicotar cimeira Rússia-África
ARússia acusou, Domingo, os Estados Unidos da América (EUA) e os seus aliados ocidentais de estarem a tentar boicotar a cimeira Rússia-África, marcada para Julho, na cidade russa de São Petersburgo.
“Os Estados Unidos e os seus aliados estão a empreender uma campanha sem precedentes para isolar política e economicamente a Rússia, incluindo a interrupção da realização da segunda cimeira Rússia-África”,denunciouoviceministro dos Negócios Estrangeiros, Mikhail Bogdanov, em entrevista à agência oficial TASS. Bogdanov, um dos nove viceministros do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, é também o representante especial do Presidente Vladimir Putin para o Médio Oriente e África. O vice-ministro disse que essa campanha se intensificou desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há um ano, no que Moscovo designa por “operação militar especial”. Desdeentão,“o‘Ocidentecolectivo’ aumentou significativamente a pressão sobre os países africanos através da ameaça de sanções e do fim da assistência financeira e humanitária”, afirmou.
Bogdanov disse que os EUA fabricam acusações diárias contra a Rússia sobre aumentos dos preços dos combustíveis, dos cereais e de fertilizantes, tendo como resultado “um agravamento dos problemas sócio-económicos no continente” africano.
“A questão mais importante na agenda da cimeira será o problema de garantir a segurança alimentar e energética”, afirmou.
Segundo Bogdanov, “o risco de os Estados ocidentais incitarem vários grupos armados a derrubar as actuais autoridades [em países africanos] é muito elevado”.
“Paris, por exemplo, tem vindo a fazer tudo o que é possível há muito tempo para eliminar o governo de transição do Mali, que não lhe agrada”, denunciou.
Referiu também o caso da República
Centro-Africana (RCA), onde Portugal tem um contingente de mais de 200 militares em missões das Nações Unidas e da União Europeia. Bogdanov disse que a França se está a retirar do país e que “há inúmeros relatos de que grupos armados ilegais que operam no território da RCA dependem, entre outras coisas, do apoio organizacionalefinanceirodosantigosmestres coloniais”.
“Recentemente, europeus foram vistos pela primeira vez entre os militantes, que, como a RCA acredita, podem ser instrutores ou mercenários ocidentais. Acreditamos que tais acções em relação aos Estados soberanos são inaceitáveis”, afirmou Bogdanov.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente, François Bozizé, por grupos armados, o que suscitou a oposição de outras milícias.
Desde então, o território centroafricano tem sido palco de confrontos entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas. Bogdanov disse que, apesar do comportamento ocidental, a Rússia permanecerá fiel ao seu “princípio da livre escolha do caminho de desenvolvimento dos países soberanos, que é a ideia chave dapróximasegundacimeiraRússia-África”.
Referiu que os preparativos para a cimeira estão em curso e que a agenda “está a ser elaborada em conjunto com os africanos”. “Estamos a receber dos líderes dos Estados do continente a confirmação da participação na próxima cimeira, e isto é para nós um sinal de apoio de princípio de um bloco significativo de países, apesar da pressão colossal do Ocidente”, disse, sem especificar que países vão participar.
O diplomata referiu ainda que as propostas dos países africanos para a cimeira correspondem à “visão conceptual” russa do futuro fórum.
“É dada prioridade à transferência de tecnologia e conhecimentosespecializados,aodesenvolvimento da indústria e de infra-estruturas críticas no continente”, afirmou. A primeira cimeira Rússia-África realizou-se na cidade de Sochi, na costa do Mar Negro, em Outubro de 2019.