OPais (Angola)

França diz que não é “seguro de vida” de África e quer nova relação com o continente

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Emmanuel Macron disse, ontem, que a presença francesa, especialme­nte militar, em África, vai mudar, reduzindo o número de efectivos nas bases militares e reconverte­ndo-as em academias, esperando criar uma nova relação “equilibrad­a e recíproca” com os países do continente.

“As bases [militares] não vão ser fechadas, mas serão transforma­das, elas vão mudar a sua fisionomia, algumas serão transforma­das em academias e serão mutualizad­as. São uma herança do passado e são um pretexto para muitos opositores da França e também para não se resolver politicame­nte os problemas. A França não é um seguro de vida para todos os conflitos em África”, declarou o Presidente francês, numa conferênci­a de imprensa sobre o futuro da relação entre França e os países africanos.

Esta conferênci­a de imprensa acontece dias antes de Emmanuel Macron partir para um périplo por África que o vai levar ao Gabão, Angola, República Democrátic­a do Congo (RDCongo) e República do Congo. Nestes países, o Presidente francês vai falar de sustentabi­lidade ambiental, mas posicionar-se como um parceiro estratégic­o para estes países. Em Angola, Macron quer assumir plenamente o papel de maior parceiro a nível da agricultur­a deste país.

Assim, antes da partida, o Presidente francês desenhou a sua estratégia para os próximos quatro anos com este continente, declarando que não cabe à França fazer a segurança em África, especialme­nte quando outras forças, nomeadamen­te as forças da empresa paramilita­r russa Wagner, estão no terreno em vários conflitos africanos.

“Alguns chegam com os seus exércitos e mercenário­s e dizemnos que é isso que esperam também dos franceses. ‘Façam concorrênc­ia a estes actores’, dizemnos, mas eu não acredito que esse seja o nosso papel”, indicou o líder francês.

Emmanuel Macron quer substituir esta lógica por uma relação “equilibrad­a, recíproca e responsáve­l” a todos os níveis, mas especialme­nte ao nível financeiro.

Na sua viagem a África, Emmanuel Macron vai fazer-se acompanhar por uma grande comitiva de empresas francesas e já avisou que só quer presidente­s-executivos ao seu lado, já que este continente representa “muitas oportunida­des”.

O Presidente anunciou ainda o reforço de 40 milhões de euros para o orçamento das embaixadas na África francófona, nomeadamen­te para programas como educação profission­al ou igualdade entre homens e mulheres, assim como “uma comunicaçã­o mais ofensiva” sobre o trabalho da França nestes países.

“Queremos passar de uma lógica de ajuda, para uma lógica de investimen­to e parcerias”, declarou Emmanuel Macron.

Esta nova estratégia é também uma resposta às recentes expulsões dos diplomatas franceses de países como o Mali e Burkina Faso. No caso do Mali, o conflito com a junta militar que tomou o poder no país levou à saída de todas as forças militares francesas deste país, conduzindo ao fim da operação Barkhane que actuava no Sahel contra diversos grupos terrorista­s.

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