Doutor Eduardo Martins
Você lembra-se dos dois tipos de pressão arterial existentes em nosso corpo, certo? São a pressão sistólica (conhecida como máxima) e a diastólica (conhecida como mínima). Há muitos anos vem travandose um debate no mundo científico sobre os eventos adversos (infarto, AVC – acidente vascular cerebral e morte) e sua relação com a pressão arterial. Qual hipertensão ou elevação da pressão é a pior? A hipertensão sistólica (a máxima), a diastólica (a mínima) ou as duas?
Desde 1960, os estudos sugeriam que somente a pressão diastólica, ou seja, a mínima, era a vilã geradora dos eventos adversos. Uma guinada neste entendimento se deu com o estudo Framigham (um estudo realizado na cidade americana de mesmo nome, desde 1948), que nos anos 2000 trouxe a ideia de a verdadeira vilã ser a hipertensão sistólica, que deveríamos abandonar a pressão diastólica ao ocaso.
Seguindo esta linha, as diretrizes americanas de 2017 trouxeram a orientação de ignorar a pressão diastólica, pois segundo se apurou somente a sistólica seria de fato a grande geradora de eventos.
Apesar destas idas e vindas, nós cardiologistas nunca seguimos estas sugestões. Ou seja, os clínicos sempre trataram e continuarão tratando as duas pressões: a mínima, a diastólica, e a máxima, a sistólica.
Foi exatamente isto que comprovou um novo estudo publicado na revista inglesa NEJM (New England Journal of Medicine). Pesquisadores da Universidade de Harvard e da Kaiser Permanente (um grande sistema integrado de saúde com mais de quatro milhões de pacientes no estado da Califórnia, nos EUA) revisaram mais de 36 milhões de pacientes ambulatoriais durante sete anos (de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2016).
Os pesquisadores ratificaram o que alguns outros estudos já vinham evidenciando: que os eventos de infarto e AVC começam a ocorrer com pressões acima de 120 x 80, ou seja, 130 x 80, por exemplo. Aqui no Brasil chamamos de pré -hipertensão. E mais, tanto a pressão sistólica quanto a diastólica são geradoras de eventos graves (infarto e AVC). Esta foi a conclusão do estudo, aqui transcrita ipsis litteris:
Embora a elevação da pressão arterial sistólica tenha tido um efeito maior sobre os desfechos, tanto a hipertensão sistólica quanto a diastólica influenciaram independentemente o risco de eventos cardiovasculares adversos, independentemente da definição de hipertensão (≥140 / 90 mmHg ou ≥130 / 80 mmHg).
“Tanto a pressão sistólica quanto a diastólica são geradoras de eventos graves como infarto e AVC”
Fonte: www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/ NEJMoa1803180?articleTools=true