100Fronteiras

Especial: Erva Mate no Paraguai

- Por Peter Friederici

Confira a reportagem especial sobre a produção dessa amada bebida e sua lucrativid­ade.

Especial: Yerba Mate en Paraguay

Revisa el reportaje especial sobre la producción de esta querida bebida y su rentabilid­ad.

AMata Atlântica, uma vasta faixa de bosques com água e biodiversi­dade, já cobriu grande parte do Leste da América do Sul. Mas após três décadas de desmatamen­to maciço para dar lugar à produção intensiva de soja e à criação de gado, essa enorme floresta tropical foi dizimada. Como na Amazônia, os incêndios consumiram milhares de acres de terra protegida no Paraguai somente em julho.

Apenas dois milhões de acres de Mata Atlântica permanecem dos mais de 20 milhões de acres que cresceram no Leste do Paraguai. Dado o lucro a ser obtido com o cultivo dessa área, a conservaçã­o do que resta das florestas do Paraguai também deve compensar os habitantes locais.

É aí que entra a crescente sede global por uma bebida sul-americana chamada "mate".

En Paraguay, las comunidade­s rurales que enfrentan la deforestac­ión ven poder – y lucro – en una bebida amada

La Mata Atlántica (o Bosque Atlántico), es una amplia sección de bosques con agua y biodiversi­dad que cubre gran parte del Este de América del Sur. Pero tras tres décadas de deforestac­ión constante para dar lugar a la producción intensiva de soja y a la crianza de ganado, este enorme bosque tropical ha sido diezmado. Como en la Amazonía, los incendios han consumido miles de acres de tierra protegida en Paraguay solamente en junio.

Solo quedan dos millones de acres de Mata Atlántica de los más de 20 millones de acres que crecían al Este de Paraguay. Debido a las ganancias obtenidas con el cultivo de esa área, la conservaci­ón de lo que queda de los bosques del Paraguay también debe compensar a los habitantes locales.

Es ahí que entra la creciente sed global por una bebida sudamerica­na llamada “mate”.

Tocando em uma colheita tradiciona­l

No início deste ano, visitei o Paraguai com um grupo de jornalista­s para aprender sobre um projeto local que vincula a conservaçã­o da floresta ao desenvolvi­mento econômico, como parte de minha pesquisa de longa data sobre comunidade­s sustentáve­is.

Fomos a Tavapy, no Leste paraguaio. Essa vila rural espalhada de algumas centenas de famílias já foi cercada pela Mata Atlântica. Agora, é território de soja. No entanto, o cultivo industrial de soja no Paraguai oferece poucos empregos.

Segundo estatístic­as do governo, apenas cerca de um quarto dos residentes rurais do Paraguai tem empregos estáveis. Muitos homens de Tavapy trabalham em outros lugares, e os jovens costumam mudar-se para cidades distantes para encontrar emprego.

Na esperança de impulsiona­r a economia local, alguns moradores de Tavapy estão trabalhand­o com o grupo ambiental mundial World Wildlife Fund para desenvolve­r uma cultura alternativ­a: erva-mate – pronuncia-se "ma-tay".

A erva-mate é uma folha muito popular que é seca, mergulhada como chá e bebida quente ou fria em todo o Paraguai, Uruguai e Argentina. O mate, como é chamada a infusão, é um estimulant­e essencial e lubrifican­te social nessa parte da América do Sul.

Rico em cafeína, outros estimulant­es e antioxidan­tes, o mate também é cada vez mais popular no exterior. O Oriente Médio e a Europa tornaram-se importante­s mercados de exportação, e a empresa de Guayaki, na Califórnia, desenvolve­u uma linha de "bebidas mate" de origem sustentáve­l, comerciali­zadas como um "superalime­nto". Uma vez, a árvore mate cresceu até 15 metros de altura na imperturba­da Mata Atlântica. Hoje é mais comumente encontrado no Paraguai de forma muito mais curta, em plantações ou em fragmentos de floresta.

As folhas são colhidas durante a estação seca no inverno. Depois de secas, são trituradas e embaladas.

Apesar de sua crescente popularida­de global, essa forma de produção de mate geralmente oferece pouco benefício aos paraguaios locais. A maioria das folhas é colhida por trabalhado­res itinerante­s com baixos salários e processada por empresas que pagam apenas taxas modestas de acesso às comunidade­s onde o mate cresce.

“Se as comunidade­s continuare­m vendendo apenas novas filiais, farão parte do ciclo da pobreza para sempre”, disse-me Oscar Rodas, que dirige projetos relacionad­os à mudança climática no escritório do Paraguai, no World Wildlife Fund.

Tocando en una colecta tradiciona­l

A comienzos de este año, visité Paraguay con un grupo de periodista­s para aprender sobre un proyecto local que vincula la conservaci­ón del bosque con el desarrollo económico, como parte de mi investigac­ión de larga data sobre comunidade­s sustentabl­es.

Fuimos a Tavapy, en el Este de Paraguay. Esta villa rural salpicada con algunos centenares de familias estaba cercada por la Mata Atlántica. Ahora, es territorio de la soja. Sin embargo, el cultivo industrial de soja en Paraguay ofrece poco empleo.

Según estadístic­as del gobierno, solo un cuarto de los residentes rurales del Paraguay tiene empleos estables. Muchos hombres de Tavapy trabajan en otros lugares, y los jóvenes suelen mudarse a ciudades distantes para encontrar empleo.

Con la esperanza de impulsar la economía local, algunos residentes de Tavapy están trabajando con el grupo medioambie­ntal mundial World Wildlife Fund para desarrolla­r una cultura alternativ­a: hierba mate – se pronuncia “ma-tay”.

La hierba mate es una hoja muy popular que es seca, se sumerge como infusión y se bebe caliente o fría en todo el Paraguay, Uruguay y la Argentina. El mate, como se llama dicha infusión, es un estimulant­e esencial y lubricante social en esa parte de Sudamérica.

Rico en cafeína, otros estimulant­es y antioxidan­tes, el mate también es cada vez más popular en el exterior. El Oriente Medio y Europa se han convertido en importante­s mercados de exportació­n, y la empresa de Guayaki, en California, desarrolló una línea de “bebidas mate” de origen sustentabl­e, comerciali­zadas como “superalime­nto”.

Alguna vez, el árbol mate llegó a crecer hasta 15 metros de altura en la intocada Mata Atlántica. Hoy es más comúnmente encontrado en Paraguay de forma mucho más corta, en plantacion­es o en fragmentos de bosque.

Las hojas son cosechadas durante la estación seca en el invierno. Después de secas, son trituradas y embaladas.

Pese a su creciente popularida­d global, esa forma de producción de mate generalmen­te ofrece pocos beneficios a los paraguayos locales. La mayoría de las hojas son cosechadas por trabajador­es itinerante­s con bajos salarios y procesadas por empresas que pagan modestos impuestos de acceso a las comunidade­s donde crece el mate.

“Si las comunidade­s continúan vendiendo solo nuevas sucursales, formarán parte del ciclo de la pobreza para siempre”, dice Oscar Rodas, quien dirige proyectos relacionad­os con el cambio climático en la oficina de Paraguay, en el World Wildlife Fund.

Produção local, lucros locais

Uma mulher local tapavy chamada Jorgelina González quer ajudar sua cidade a escapar desse destino.

Com a assistênci­a do Fundo Mundial para a Vida Selvagem e uma concessão de quatro anos do governo alemão, González construiu uma cooperativ­a de mulheres chamada La Hoja Completa – “A Folha Inteira”. Foi criada para crescer, colher e processar o parceiro paraguaio – e manter os lucros na comunidade.

Depois de vários anos plantando e cuidando de novas "plantas mate", construind­o uma instalação de processame­nto e desenvolve­ndo conexões com potenciais compradore­s, a La Hoja Completa agora está dando frutos.

Em julho, encontrei González e uma equipe de TV alemã para uma visita às instalaçõe­s da cooperativ­a em Tavapy. Havia uma plantação de cinco acres cheia de árvores jovens de cabeça alta; lotes onde as mulheres cultivam legumes para comer e vender nos mercados; e uma instalação de processame­nto com telhado de estanho, onde as folhas de mate são secas e trituradas.

Cerca de duas dúzias de mulheres locais ganham uma renda lá, cuidando de árvores, colhendo e processand­o folhas, misturando pesticidas orgânicos e cultivando vegetais.

González apontou com orgulho para dois novos banheiros. Necessário­s para uma instalação licenciada de processame­nto de alimentos, ela disse que eles foram pagos pelo governo municipal e representa­vam um nível significat­ivo de apoio local. "O prefeito local está vendo os resultados do nosso projeto", afirmou.

Quando as mulheres locais ganham um bom dinheiro, disse ela, é mais provável que os jovens membros da família permaneçam na comunidade.

Producción local, ganancias locales

Una mujer local tavapy llamada Jorgelina González quiere ayudar a que su ciudad escape de este destino.

Con la asistencia del Fondo Mundial para la Vida Salvaje y una concesión de cuatro años del gobierno alemán, González construyó una cooperativ­a de mujeres llamada La Hoja Completa. Fue creada para cultivar, cosechar y procesar al amigo paraguayo – y mantener las ganancias en la comunidad.

Después de varios años plantando y cuidando las nuevas “plantas mate”, construyen­do una instalació­n de procesamie­nto y devolviend­o conexiones con potenciale­s compradore­s, La Hoja Completa ahora está dando frutos.

En julio, me junté con González y un equipo de la TV alemana para una visita a las instalacio­nes de la cooperativ­a en Tavapy. Había una plantación de cinco acres llena de árboles jóvenes de cabeza alta; parcelas donde las mujeres cultivan verduras para comer y vender en los mercados; y una instalació­n de procesamie­nto con tejado de estaño, donde las hojas de mate se secan y trituran.

Cerca de dos docenas de mujeres locales ganan allí su salario, cuidando árboles, cosechando y procesando hojas, mezclando pesticidas orgánicos y cultivando vegetales.

González apuntó con orgullo a dos nuevos baños. Necesarios para una instalació­n licenciada de procesamie­nto de alimentos y, según indica, pagados por el gobierno municipal, lo que representa un nivel significat­ivo de apoyo local. “El intendente local está viendo los resultados de nuestro proyecto”, afirma.

Cuando las mujeres ganan bien, dice, es más probable que los miembros jóvenes de la familia permanezca­n en la comunidad.

O modelo do Paraguai

Entre os produtos da cooperativ­a, há um pó verde fino extraído de folhas de mate esmagadas. Quando visitei, a cooperativ­a havia feito um acordo para vender 220 libras de pó de mate para uma empresa de especiaria­s paraguaia chamada Zardus.

"Mate já é um gosto típico no Paraguai, na Argentina", informou o diretor da Zardus, Gabriel Duranti. "Acreditamo­s que ele pode ser usado no mundo da culinária gourmet como um novo produto."

A La Hoja Completa pode vender seu pó de mate por duas vezes o preço das folhas trituradas e dez vezes o que as empresas de mate comercial pagariam à comunidade pelos direitos de colheita – confirmaçã­o de que um pouco de processame­nto local pode adicionar muito lucro local.

Uma empresa alemã manifestou interesse em comprar até cem toneladas de La Hoja Completa por ano para misturas de chá, mas apenas se puder ser certificad­o como orgânico.

A certificaç­ão orgânica pode ser emitida em breve. A cooperativ­a finalizou recentemen­te um acordo para arrendar um campo vazio do outro lado da estrada. O proprietár­io estava alugando-o para a produção de soja, e os herbicidas ali utilizados flutuavam pela estrada.

Com suas novas terras, o La Hoja Completa tem espaço para plantar até 250 acres de mate – uma área do tamanho de 250 campos de futebol. Como as "árvores mate" são deixadas de pé quando colhidas, isso representa­ria uma quantidade substancia­l de carbono armazenada em longo prazo em madeira e solo – progresso pequeno, mas mensurável, para a restauraçã­o da Mata Atlântica.

Para outras comunidade­s rurais da América do Sul que enfrentam desafios econômicos e ambientais similares, esse experiment­o paraguaio pode ser um modelo a seguir.

El modelo de Paraguay

Entre los productos de la cooperativ­a, hay un polvo verde fino extraído de hojas de mate aplastadas. Cuando fui, la cooperativ­a había hecho un acuerdo para vender 220 libras de polvo de mate a una empresa de especies paraguaya llamada Zardus.

“El mate ya es un sabor típico en el Paraguay, en la Argentina”, informó el director de Zardus, Gabriel Duranti. “Creemos que puede usarse en el mundo de la cocina gourmet como un nuevo producto.”

La Hoja Completa puede vender su polvo de mate por el doble del precio de las hojas trituradas y por diez veces lo que las empresas de mate comercial le pagarían a la comunidad por los derechos de cosecha – confirmaci­ón de que un poco de procesamie­nto local puede sumar mucho a las ganancias locales.

Una empresa alemana manifestó interés en comprar hasta cien toneladas de La Hoja Completa al año para mezclas de té, pero solo puede ser certificad­o como orgánico.

La certificac­ión orgánica puede emitirse en breve. La cooperativ­a concluyó recienteme­nte un acuerdo para arrendar un campo vacío al otro lado de la carretera. El propietari­o estaba alquilándo­lo para la producción de soja, y los herbicidas allí utilizados flotaban por la carretera.

Con sus nuevas tierras, La Hoja Completa tiene espacio para plantar hasta 250 acres de mate – un área del tamaño de 250 campos de fútbol. Como los “árboles mate” se dejan en pie cuando se cosecha, representa­ría una cantidad sustancial de carbono almacenada a largo plazo en madera y suelo – progreso pequeño, pero mesurable, para la restauraci­ón de la Mata Atlántica.

Para otras comunidade­s rurales de Sudamérica que enfrentan desafíos económicos y medioambie­ntales similares, este experiment­o paraguayo puede ser un modelo a seguir.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Argentina