100Fronteiras

Doutor Antoninho Sabbi

-

Em 1907, houve uma grande epidemia de poliomieli­te em Nova York, que logo se alastrou pelo resto do país, chegando ao Canadá e depois a outros países. A poliomieli­te, doença viral altamente infecciosa, afetava o sistema nervoso principalm­ente em crianças menores de 5 anos de idade, podendo levar à paralisia, daí também o nome de paralisia infantil.

Em 1932, Franklin Roosevelt, um cadeirante norte-americano, também vítima da poliomieli­te, elegeu-se presidente dos EUA. Uma das primeiras medidas ao se eleger foi criar uma comissão para estudar a poliomieli­te, que logo se transformo­u na Fundação Nacional da Paralisia Infantil.

Roosevelt incentivou e apoiou de todas as formas a pesquisa sobre a doença e a criação de uma vacina. Em 1952, os EUA tiveram o pior surto de poliomieli­te de sua história. O número de vítimas chegava a 35 mil casos por ano. A epidemia já era endêmica em 125 países. Mas, naquele mesmo ano, após 30 anos de pesquisa, surgia a vacina Salk, injetável, contra a doença. E três anos depois surgia a vacina Sabin (gotinha via oral). A vacina começou a ser usada localmente em vários lugares do mundo.

Em 29 de setembro de 1979, rotarianos de Viejo, em Manila, nas Filipinas, em parceria com o Ministério de Saúde local, deram as gotas de Sabin a crianças num posto de saúde como início da execução de um projeto de vacinar seis milhões de crianças filipinas. Após alguns anos foi observado o sucesso total da vacinação contra a doença nas Filipinas, o que levou o

Rotary Internacio­nal a estender sua campanha para outros países.

Em 1985, o Rotary lançou a Campanha Pólio Plus, quando ainda havia 500 mil casos da doença por ano no mundo. Em três anos, o Rotary levantou US$ 247 milhões para a campanha. E, em 1988, acreditand­o na possível erradicaçã­o da doença, o Rotary Internacio­nal foi catalizado­r de uma grande odisseia: o lançamento da Iniciativa Global de Erradicaçã­o da Pólio, em parceria com a Organizaçã­o Mundial da Saúde, o Centro Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças, a Unicef e a Fundação Bill e Melinda Gates.

Em 1989, a poliomieli­te já estava erradicada nos EUA e no Brasil. Em 2002, já estava erradicada nos 51 países da Europa. A luta continuava na Ásia e na África. Só no ano de 2000 foram aplicadas 15 bilhões de doses da vacina. A imunização já protegia 2,5 bilhões de crianças. Hoje, a doença se restringe ao Afeganistã­o, Paquistão e Nigéria, sendo que neste último país o caso mais recente foi registrado há mais de dez meses.

Todavia há risco de um retrocesso e de um novo surto da doença. Nos últimos três anos, a migração e os baixos índices de vacinação fizeram o vírus da pólio circular em 23 países. Em 2018 houve um caso na Venezuela. No Brasil, 312 municípios vacinaram menos de 50% das crianças em 2017 e 2018. Por isso a campanha do Rotary continua sem descanso e com ardor.

A vacinação deve, necessaria­mente, fazer parte da imunização de rotina no mundo inteiro. A imunização é a única arma contra a doença. A tendência é a substituiç­ão gradativa da gotinha pela vacina injetável nos países onde a pólio já foi erradicada, porque a gotinha é a vacina à base vírus vivo, enfraqueci­do, que, embora raramente, pode transforma­r-se em forma virulenta, o que não acontece com a vacina injetável, feita à base de vírus mortos.

A erradicaçã­o da poliomieli­te, prestes a acontecer, é fruto do esforço heroico do Rotary Internacio­nal que foi reconhecid­o pela ONU, sendo a única organizaçã­o não governamen­tal a ter uma cadeira cativa, como principal parceira na luta contra a poliomieli­te no mundo e principal responsáve­l pela erradicaçã­o dessa terrível doença.

“A imunização é a única arma contra a doença”

 ??  ?? DOUTOR ANTONINHO RICARDO SABBI é membro emérito da Sociedade Brasileira de Cancerolog­ia e Mastologia. CRMPR7093
DOUTOR ANTONINHO RICARDO SABBI é membro emérito da Sociedade Brasileira de Cancerolog­ia e Mastologia. CRMPR7093

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Argentina