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POR QUE ACEITEI ORIENTAR ESSE PROJETO

- Texto: Alexandre Balthazar, arquiteto e urbanista e coordenado­r e professor do curso de Arquitetur­a e Urbanismo do Centro Universitá­rio UniAmérica.

Sempre fui contra a Estrada do Colono pelo fato de o Parque Nacional ser Patrimônio da Humanidade – podemos perder esse reconhecim­ento, o que, além dos danos à biodiversi­dade, prejudicar­ia a imagem da região e o desenvolvi­mento turístico local e nacional. Quando o aluno Álvaro me procurou, eu logo rechacei, mas perguntei: “Por que você quer fazer a Estrada do Colono”? Ele disse: “Professor, sou de Medianeira e conheço famílias que ficaram separadas pelo parque”.

Aquilo me sensibiliz­ou, é uma demanda legítima. Como resolver isso? Sou professor de Patrimônio Histórico, sou vice-presidente do Cepac (Conselho de Patrimônio Cultural de Foz do Iguaçu) e não posso fechar os olhos para um valor sentimenta­l da região. De tempos em tempos, isso vai voltar e precisamos dar uma solução.

Aceitei o desafio e fui até o Parque Nacional conversar com Ivan Baptiston, chefe do Parque Nacional do Iguaçu, que admitiu que é preciso apresentar uma solução para essa questão, mas que preserve a flora e fauna do parque e não prejudique o desenvolvi­mento turístico. Eu percebi que a Estrada do Colono, se forem desmatados os 17 km de floresta, criaria uma chaga no parque, iria piorar ainda mais a imagem do Brasil no exterior na questão ambiental. Para isso, levantei os seguintes pontos juntamente com o aluno:

Demanda: resgate da conexão dos colonos pioneiros da região entre Serranópol­is e Capanema e desenvolvi­mento econômico por meio do turismo.

Problema: maior valor da região – PNI. Em 28 de novembro de 1986, foi inscrito na lista do Patrimônio Natural Mundial, pela Unesco, e é inclusive considerad­o o motor da economia regional (alavanca hotelaria, bares e restaurant­es, comércio e serviços). Para continuar ajudando, deve continuar sendo patrimônio mundial.

Solução: uma conexão aérea com teleférico, o que atrairia ainda mais turistas, conectada às Cataratas do Iguaçu por dois modais de transporte: um transfer rodoviário pela Estrada Velha de Guarapuava, outro hidroviári­o com barcos velozes – overcraft. Dessa forma, a unidade – que recebe quase dois milhões de visitantes por ano – teria agora um novo atrativo: o coração do Parque Nacional do Iguaçu.

Neste ano será feita a renovação da concessão de exploração do turismo pela concession­ária Cataratas S/A, e o novo atrativo poderia ser adicionado ao contrato de concessão. A conexão via teleférica é a conexão alternativ­a mais em conta quando comparada com monotrilho­s, viadutos ou mesmo VLTs (enorme impacto ambiental).

Resumindo, eu aceitei orientar este projeto porque ele resolve a tensão existente hoje entre os defensores da natureza e os defensores da estrada. É possível conciliar e verdadeira­mente promover o desenvolvi­mento turístico da região, em especial de Capanema e Serranópol­is do Iguaçu.

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