A um passo da eternidade
No dia 30 de junho de 2004, o pequeno Santo André calou 72 mil vozes no Maracanã. Numa noite memorável, o time do ABC re-escreveu, contra o gigante Flamengo, o mito de Davi contra Golias. A vitória por 2 a 0 garantiu o título da Copa do Brasil ao Ramalhão.
Surpresas como esta são cada vez mais raras. Infelizmente, caminhamos para “espanholização” de nosso futebol. O poderio econômico nunca foi tão decisivo. A divisão das receitas dos torneios é irracional e excludente. Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras recebem a maior fatia do bolo. Isso vai criar por aqui uma polaridade à la Real Madrid e Barcelona.
Sinceramente, não vejo a menor graça em assistir as partidas dos campeonatos espanhol, italiano, alemão e francês. São jogos chatos. Parecem mais treinos de ataque contra defesa. Goleadas são obrigação. Real Madrid, Barcelona, Juventus, Bayern e PSG não têm adversários. O maior exemplo da chatice foi a goleada de 9 a 0 aplicada pelo PSG contra o “não-seiquem”. A vitória garantiu o título francês com oito rodadas de antecedência. Os jogadores não celebraram os gols. Apenas tímidos abraços na comemoração do caneco.
Na contramão, surge a liga inglesa. Ao renovar o contrato de TV, a liga aumentou a participação dos clubes menores nas receitas. A ideia é simples: um campeonato mais forte, atrativo e vendável. Coincidência ou não, nesta temporada, o pequeno Leicester é a sensação. Apesar de centenário, o time, que já revelou nomes como Banks, Shilton e Lineker, nunca foi campeão inglês. O reforço no caixa possibilitou montar uma equipe competitiva, e apenas oito jogos a separam da eternidade.