Gravação indica que Dilma tentou evitar prisão de Lula
Conversa telefônica mostra a presidente dizendo que enviaria termo de posse ‘em caso de necessidade’
O juiz federal Sergio Moro, que cuida da Lava Jato na primeira instância da Justiça, divulgou ontem à tarde a gravação de uma conversa telefônica entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, na qual ela diz que está mandando um termo de posse de ministro a ele para ser usado “em caso de necessidade”.
Na conversa com Lula, Dilma afirma: “Seguinte, eu tô mandando o Messias [Jorge Rodrigo Araújo Messias, subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil] junto com o papel pra gente ter ele. E só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?”
Lula concorda com a proposta da presidente.
Investigadores da Lava Jato interpretam o uso do documento “em caso de necessidade” como a tentativa de escapar de um eventual pedido de prisão do ex-presidente Lula, no dia em que ele aceitou ser ministro do governo Dilma. Será o ministro-chefe da Casa Civil.
Os procuradores viram nos diálogos uma tentativa de atrapalhar as investigações, o que é considerado um crime grave. “Constam conversas que denotam estratégias para turbar as investigações envolvendo Luiz Inácio”, escreveram os procuradores da força-tarefa de Curitiba, em petição protocolada ontem.
No documento, porém, o Ministério Público não detalha exatamente a quais áudios se refere, citando-os de forma geral.
Os procuradores citam a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (exPT-MS), uma referência à tentativa do ministro da Educação Aloizio Mercadante de impedir sua delação, e comparam o caso com as interceptações envolvendo o ex-presidente Lula.
‘Também existem diálogos que envolvem ministros de Estado, e em que os interlocutores aduzem ser possível a interferência na presente investigação‘, afirmam, em referência ao então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que aparece nas conversas.
Em tese, Dilma poderia ser acusada de tentativa de obstrução à Justiça, segundo advogados ouvidos pela Folha sob a condição de que seus nomes não fossem revelados.