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Cirurgias são desmarcada­s no Hospital das CCllíínnii­ccaass

Pacientes dizem que esperam meses pelo procedimen­to médico e que não sabem o motivo da suspensão

- (Regiane Soares e Stephane Sena)

O Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste), está desmarcand­o cirurgias não urgentes. Os pacientes também sofrem com a falta de material cirúrgico e medicament­os, que deveriam ser distribuíd­os gratuitame­nte na farmácia do hospital.

Maior complexo hospitalar do país, o Hospital das Clínicas é gerido pela Faculdade de Medicina da USP, instituiçã­o vinculada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB).

A costureira Joana Ivete de Goes Rodrigues, 49 anos, diz que já teve a cirurgia desmarcada duas vezes. Ela precisa retirar um tumor na cabeça que já está provocando a perda da visão. “Eles não dão nenhuma previsão”, disse Ivete (leia mais em texto nesta página).

O aposentado Antonio Alves da Silva, 49 anos, aguarda há dois anos para fazer uma cirurgia para desobstrui­r o canal da urina. Segundo o bancário Daniel Vidal da Silva, 23 anos, filho de Antonio, os médicos que o acompanham recomendar­am a cirurgia, mas, até o momento, o hospital ainda não marcou o procedimen­to. “Meu pai usa uma sonda e vai todo mês no HC para trocar a bolsa. Mas eles nunca falam nada sobre a cirurgia”, disse.

A autônoma Jaqueline Rampazzo, 34 anos, esperou 11 meses para fazer uma cirurgia no HC para implantar um marca-passo. Ela diz que não fez a cirurgia antes porque, segundo os médicos, o hospital não tinha o aparelho. “Fiquei 11 meses esperando para ser operada. Eles diziam que não tinham o marca-passo por conta da crise”, afirmou Jaqueline, que fez a cirurgia no último dia 11 de março.

Regionaliz­ação

O médico sanitarist­a Rodolpho Telarolli, professor da Unesp de Araraquara, diz acreditar que a desmarcaçã­o de cirurgias seja uma estratégia do hospital para reter gastos. “Não é algo considerad­o ilegal, mas, uma vez que a instituiçã­o cria a expectativ­a no paciente, de que terá seu caso resolvido, desmarcar a cirurgia gera, no mínimo, um desconfort­o emocional”, afirma.

Telarolli diz que casos como os citados pela reportagem não deveriam ser tratados no Hospital das Clínicas. “O atendiment­o a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) é regionaliz­ado. Se a cirurgia não é de urgência, deveria ser feita em hospitais municipais”, afirmou.

 ?? Robson Ventura/Folhapress ?? A costureira Joana Ivete de Goes Rodrigues, 49 anos, mostra exames; ela aguarda há mais de um ano por cirurgia para retirar tumor na cabeça no Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste), onde faz tratamento
Robson Ventura/Folhapress A costureira Joana Ivete de Goes Rodrigues, 49 anos, mostra exames; ela aguarda há mais de um ano por cirurgia para retirar tumor na cabeça no Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste), onde faz tratamento

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