Cirurgias são desmarcadas no Hospital das CCllíínniiccaass
Pacientes dizem que esperam meses pelo procedimento médico e que não sabem o motivo da suspensão
O Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste), está desmarcando cirurgias não urgentes. Os pacientes também sofrem com a falta de material cirúrgico e medicamentos, que deveriam ser distribuídos gratuitamente na farmácia do hospital.
Maior complexo hospitalar do país, o Hospital das Clínicas é gerido pela Faculdade de Medicina da USP, instituição vinculada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB).
A costureira Joana Ivete de Goes Rodrigues, 49 anos, diz que já teve a cirurgia desmarcada duas vezes. Ela precisa retirar um tumor na cabeça que já está provocando a perda da visão. “Eles não dão nenhuma previsão”, disse Ivete (leia mais em texto nesta página).
O aposentado Antonio Alves da Silva, 49 anos, aguarda há dois anos para fazer uma cirurgia para desobstruir o canal da urina. Segundo o bancário Daniel Vidal da Silva, 23 anos, filho de Antonio, os médicos que o acompanham recomendaram a cirurgia, mas, até o momento, o hospital ainda não marcou o procedimento. “Meu pai usa uma sonda e vai todo mês no HC para trocar a bolsa. Mas eles nunca falam nada sobre a cirurgia”, disse.
A autônoma Jaqueline Rampazzo, 34 anos, esperou 11 meses para fazer uma cirurgia no HC para implantar um marca-passo. Ela diz que não fez a cirurgia antes porque, segundo os médicos, o hospital não tinha o aparelho. “Fiquei 11 meses esperando para ser operada. Eles diziam que não tinham o marca-passo por conta da crise”, afirmou Jaqueline, que fez a cirurgia no último dia 11 de março.
Regionalização
O médico sanitarista Rodolpho Telarolli, professor da Unesp de Araraquara, diz acreditar que a desmarcação de cirurgias seja uma estratégia do hospital para reter gastos. “Não é algo considerado ilegal, mas, uma vez que a instituição cria a expectativa no paciente, de que terá seu caso resolvido, desmarcar a cirurgia gera, no mínimo, um desconforto emocional”, afirma.
Telarolli diz que casos como os citados pela reportagem não deveriam ser tratados no Hospital das Clínicas. “O atendimento a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) é regionalizado. Se a cirurgia não é de urgência, deveria ser feita em hospitais municipais”, afirmou.