Agora

Pode isso, juiz?

- É jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

“Se gritar ‘pega, ladrão’, não fica um, meu irmão, se gritar ‘pega, ladrão’, não fica um.” Do lado de fora do apinhado barraco, à “tríplex minha casa, minha vida”, a rapaziada curte Bezerra da Silva. Poço, fossa nada privilegia­da. Esgoto a céu aberto. “Mas que lugar macabro, meu amigo foi morar, ainda me disse sorrindo que a felicidade existia por lá, eu vi cobra correndo de sapo, malandro, naquele maldito lugar.” A cobra correu, quem apostou na moralidade, pagou sapo, perdeu. “Depois que mataram a jiboia, jararaca deita e rola, depois que mataram a jiboia, jararaca deita e rola.” O ritmo é de dar medo. Não tem para quem correr. Trocar de raia? Gangues rivais brigam pela boca. Gente da mesma laia. Cínicos, iguais. “Foi seu doutor delegado que disse, ele disse assim, está piorando, até filho de bacana hoje em dia está roubando.” Os dois lados brigando pelo mesmo traidor. Que recebe a alcunha de aliado. “Cuidado com ele, de terno e gravata bancando o decente é o diabo vivo em figura de gente é o pastor trambiquei­ro enganando inocentes.” Com exceção da grana em paraíso fiscal, tudo tem limite. “Eu já disse a você que malandro demais vira bicho, e também já lhe pedi pra você parar com isso.” Tem gente com saudade de ladrão de antigament­e. “Ressuscita ele, meu Deus, manda esse cara pra cá, é que esse safado me deve uma grana e morreu de bobeira pra não me pagar.” Briga de poderosos do poder pelo poder. “Canalha, tu é um verdadeiro canalha, se elegeu com votos da favela, depois mandou nela meter bala, isso é que é ser canalha, canalha, tu é um verdadeiro canalha, canalha, tu é um verdadeiro canalha, afanou o dinheiro do povo, saiu esbanjando e fazendo bandalha.” A saída não está em quem chega. De volta. Ou em quem pede a saída, também enfurnado na bandalheir­a e está à espreita, só na base do “que horas é a minha merenda”? “Para tirar meu Brasil dessa baderna só quando o morcego doar sangue e o saci cruzar as pernas.” A corrupção à brasileira não foi inventada a partir de 2003, depois do penta. Nem exterminad­a nessa data. Quando a indignação seletiva veste o uniforme da seleção da CBF é porque está tudo errado. Pode isso, juiz?

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