Brasileiros buscam cura com célula-tronco na Tailândia
Ao menos 80 foram para Bangcoc desde 2014 e muitos estão entrando na Justiça por tratamento
Há três anos, o advogado Bruno Soriano Cardoso, 34, vendeu um terreno em Maceió por R$ 100 mil para pagar um tratamento com células-tronco em uma clínica na China.
Cardoso sofre da doença de Machado Joseph, um mal genético incurável que causa deficiências de equilíbrio, perda de controle dos músculos e complicações na visão e na fala.
Em 2015, ele voltou a fazer o tratamento, desta vez na Tailândia. Sem dinheiro, processou a União para que custeasse o tratamento —e ganhou.
O governo pagou R$ 130 mil para bancar clínica, passagens e alimentação a Cardoso e um acompanhante em 2015.
Assim como o advogado, um número crescente de brasileiros está processando o Estado para que a União custeie tratamentos com células-tronco na Tailândia —contestados por médicos e sem aval do Ministério da Saúde.
O BetterBeing Hospital, que oferece a terapia, tem versão do site em português e conta com tradutor fixo para o idioma em Bangcoc, tamanha a demanda. A reportagem apurou que ao menos 80 brasileiros foram se tratar lá desde 2014.
Interesse
De acordo com Ivory Souza Júnior, representante no Brasil da Beike Biotech, empresa chinesa que fornece as células-tronco e é parceira do hospital da Tailândia, existe muito interesse médico no país.
Por US$ 26.300 ( R$ 95 mil), o paciente recebe seis aplicações de células-tronco e passa 25 dias no hospital, onde recebe fisioterapia. As doenças mais tratadas são paralisia cerebral, lesão medular, distrofia e problemas de visão.
“O tratamento não cura, mas melhora a qualidade de vida”, diz Ivory. ‘Respeitamos a opinião dos médicos, mas é uma linha nova, e eles ainda não têm muita informação a respeito.”
O Ministério da Saúde diz que só um tratamento com células-tronco é regulamentado no Brasil e oferecido no SUS. É usado para leucemia e outros tipos de câncer.
Segundo o ministério, os outros são de caráter experimental e não têm eficácia comprovada. ‘ Não significa que não vá ser incorporado no futuro, quando houver mais evidências‘, diz a pasta.
Em sua ação, Cardoso argumentou que o Estado tem obrigação de dar assistência à saúde a todos e que, se não há o tratamento no Brasil, a União tem de custeá-lo fora.