Ministro da Justiça ameaça a PF, afirmam delegados
Eugênio Aragão disse que trocará a equipe inteira da polícia em caso de vazamentos de investigações
O recado dado pelo novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, de que trocará a equipe inteira de investigação da Polícia Federal em caso de vazamentos de informações foi classificada como uma “ameaça” pela maior associação de delegados federais.
Para o presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Carlos Miguel Sobral, a fala revela que há uma intenção em acabar com a Lava Jato.
“Isso demonstra duas coisas: vulnerabilidade da PF, que não tem sua autonomia garantida na Constituição e na lei, e pressa em acabar com a maior investigação de combate ao crime organizado da história do Brasil.”
A entidade avalia ingressar com medidas judiciais para garantir a atuação dos delegados. Segundo ele, não há indícios até agora de nenhuma ilegalidade nas investigações da Lava Jato.
Na entrevista, Aragão também classificou de “extorsão” o método com que as delações premiadas são negociadas pela operação.
A declaração do ministro reforça discurso da presidente Dilma Rousseff, que tem criticado o que chama de “vazamentos seletivos”.
Acima da lei
No Congresso, a declaração do ministro foi bem recebida por governistas, mas criticada por oposicionistas.
Para petistas, a atitude do ministro é correta e demonstra que ninguém está acima da lei. Em reação contrária, tucanos temem a ameaça de intervenção no trabalho da Polícia Federal e dizem que a opinião é “desconectada” com a função de ministro da Justiça.
“Ele está correto. Vazamentos são proibidos. Nem o Ministério Público nem a Polícia Federal estão acima da lei. Se há vazamentos ilegais, os responsáveis têm de ser no mínimo afastados”, avaliou o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ).
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) avaliou a crítica às delações como “preocupante”. O tucano ressaltou que não deve haver ilegalidades ao divulgar informações, mas ponderou que a afirmação do ministro sobre a PF “faz pairar uma ameaça de intervenção”.