De herói a múmia
O ditador Fidel Castro, morto no último sábado (26), não era apoiado apenas pelos grupos mais radicais de esquerda. Mesmo quem já estava desiludido com o comunismo tinha alguma simpatia pelo líder cubano.
Fidel surgiu para o mundo como uma espécie de herói em defesa dos fracos, capaz de com um punhado de homens iniciar a derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista em Cuba.
Depois virou o símbolo da luta contra os Estados Unidos. De sua pequena ilha, resistiu aos poderes do maior país do mundo, numa espécie de atualização do mito bíblico de David e Golias.
Mas os defensores do regime socialista cubano que difundiram essa versão da história taparam os olhos para uma série de problemas.
Crimes, abusos e violências marcaram o regime implantando por Fidel. As liberdades individuais e a circulação de notícias foram limitadas de forma bem dura em seu governo.
Sem esses valores básicos, não há país que progrida no mundo moderno. E Cuba ficou mesmo parada no tempo. Milhares de pessoas fugiram da ilha depois que ele tomou o poder, em 1959. Quem ficou vivia debaixo de medo e censura.
Muitas pessoas ainda tentam defender Fidel de forma desonesta e vergonhosa. “Tudo bem, não há respeito aos direitos humanos, mas as conquistas na saúde e na educação valeram a pena”, dizem.
Mas Cuba já tinha, antes de Fidel, uma das menores taxas de analfabetismo e mortalidade infantil da América Latina.
E vários outros atrasos permanecem até hoje, como na tecnologia, prendendo a ilha ao passado.
Visto como herói na juventude, Fidel Castro virou a última múmia do século 20.