Mais alma, menos fair play
Um pequeno terremoto foi registrado em Barcelona, há duas semanas, no momento em que o time da cidade definiu a vitória por 6 a 1 sobre o Paris Saint-Germain. A histórica classificação na Liga dos Campeões fez literalmente a terra tremer.
Tal vibração só foi possível por causa de pênaltis simulados canastramente por Neymar e Suárez. Os dois se atiraram ao chão e, com a ajuda do juiz e de uma massa apaixonada, conseguiram uma virada improvável que sacudiu o futebol.
Terá sido uma derrota do fair play? Equivalente a “jogo limpo”, a expressão em inglês é usada há duas décadas pela Fifa —entidade atolada em escândalos de corrupção— na promoção da ética no meio esportivo.
Algum torcedor do Barcelona se lembrou dela ao provocar um leve abalo na superfície da Terra? Algum deixou de explodir porque concluiu que o inesquecível triunfo na principal competição europeia foi construído (também) com malandragem sul-americana? Não, não deixou. Neymar e Suárez fizeram o que deles se esperava, defendendo seu time com talento, alma e malícia. O mesmo não pode ser dito em relação aos jogadores do PSG, muito mais esmagados pela própria pusilanimidade do que por qualquer marcação da arbitragem.
O mundo vive um momento de questionamentos a velhos conceitos tristemente enraizados na sociedade. Estava mesmo na hora. Não parece o caminho da redenção, no entanto, transformar seu esporte mais popular em um jogo de cavalheiros.
Evidentemente, há limites que devem ser respeitados entre os atletas em disputa. Eles sempre existiram. Mas, se a vitória épica do Barcelona foi uma derrota do fair play, ótimo que seja assim.