Final do Paulistão Tá bem na foto
Reserva no 2º jogo de 77, Vaguinho brigou com o técnico porque queria se eternizar na fotografia do título
Wagno de Freitas, 67 anos, ilustra o seu perfil no WhatsApp com uma foto dos tempos em que vestia a camisa corintiana. Em dez anos de clube (1971 a 1981), Vaguinho somou 551 jogos e 110 gols, a maioria com o 7 às costas. Ele era tão apegado ao número e à titularidade que se indignou quando Oswaldo Brandão lhe disse que Luciano iniciaria o segundo duelo da final com a Ponte, em 9 de outubro de 1977.
“O que importava não era o dinheiro. Era a memória, a fotografia, a eternidade. Na época, não se fazia a fotografia do grupo todo. Fazia a dos 11 heróis. Na hora da foto, o Brandão me saca? O Corinthians fez 48 jogos no torneio. Eu fiz 44. Tive que brigar com ele. Chorei muito”, recordou Vaguinho ao Agora.
“O Palhinha foi colocado no quarto comigo para ir me acalmando. O pessoal me dava dicas. ‘O Brandão vai aprontar’, pensei. No dia do jogo, cedinho, eu fazia a barba quando ele chegou: ‘Quero falar com você’. Respondi: ‘Nem terminei a barba’. Passei uma água, sentei na cama e ouvi: ‘Você entrará no se- gundo tempo e fará o gol do título’. Eu: ‘Começa comigo, eu marco e você bota quem quiser’. Ele era místico. Em 54, foi campeão tirando um atleta para pôr o Rafael. Quis repetir comigo. Fiquei puto, falei o que tinha direito. Disse: ‘Vou jogar, vou jogar’.”
Não adiantou. Nem a advertência feita na véspera convenceu Brandão a manter o ponta direita. “Se o senhor me tirar, vai perder.” Com a 15, Vaguinho de fato entrou (na etapa inicial) e marcou, como Brandão previu, mas a Ponte virou e forçou uma terceira partida no Morumbi.
“Pensava em nem jogar aquela [segunda] partida. Queria ir embora ver minha filha recém-nascida”, contou Vaguinho. “Então, minha mulher me falou: ‘Se o Corinthians perder, você será o culpado. Se ganhar, estará fora. Fica’. Pedi para ao menos usar a 7 no banco, assim ficaria na história, mas o regulamento não permitia. Mas entrei como se estivesse no time, fui até para a torcida. Quando o Palhinha se machucou, nem me aqueci. Fui direto assinar a súmula.”
Palhinha não se recuperou a tempo de entrar em campo no libertador 13 de outubro e permitiu o retorno de Vaguinho, com a 7 que ele tanto gostava. “Era o destino”, sorri o ex-ponta. “Eu estou na história.”