Para especialista, série mudou foco
“Os Dias Eram Assim” chegou a registrar a pior audiência de todas as produções desde que a Globo estreou a faixa das 23h. Após 14 capítulos, a série estava marcando 15,9 pontos de média na Grande São Paulo. A trama, que se passa no período da ditadura militar (1964-1985), foi considerada, pelo público, difícil de entender e de acompanhar.
“No início, teve essa confusão de contexto, mas depois a série se transformou em novelão”, avalia Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo). Para voltar a atrair o público, a Globo optou por desviar o enredo dos acontecimentos históricos e se concentrar nas idas e vindas da história de amor entre a fotógrafa Alice (Sophie Charlotte) e o médico Renato (Renato Góes). A jogada funcionou, e a audiência disparou a subir.
Em junho, durante o episódio de reencontro do casal, a série registrou a maior audiência do horário desde 2012 —30,4 pontos. Para Mayer, as autoras retomaram um mode- lo de teledramaturgia consagrado nos anos 1970, caracterizado por histórias de amor entre mocinhos e heróis. Ele acredita ainda que o contexto político atual teve seu papel na guinada da trama. “As novelas atuais retratam muito a realidade, e nós estamos em um momento político delicado. Novela serve para entreter, as pessoas querem algo leve.”
Apesar disso, especialistas consideram um marco importante da televisão o retrato de um período tão recente e tão brutal da história do país. “É crucial, foi um período que não deve ser esquecido”, diz Julio Cesar Fernandes, pesquisador de TV e professor de jornalismo e transmídia da Faculdade Cásper Líbero. “Para que isso não se repita, é preciso que as pessoas se lembrem e saibam do que aconteceu naquela época”, completa.
“Os Dias Eram Assim” foi a terceira obra que retratou o período da ditadura militar na TV. Em 1992, a Globo exibiu a minissérie “Anos Rebeldes”. Em 2012, o SBT exibiu a novela “Amor e Revolução”.