Um craque na defesa
Quando Lúcio e Juan formavam boa dupla de zaga na seleção brasileira, já não era difícil prever que um envelheceria muito mais graciosamente do que o outro.
O primeiro baseava seu jogo na força e se impunha com um vigor físico que foi naturalmente diminuindo. O segundo, além de boa capacidade no corpo a corpo, tinha todas as qualidades de um grande beque.
Por isso, hoje, aos 39 anos, depois de atuar muito mal por São Paulo e Palmeiras e de se arrastar no futebol da Índia, Lúcio não consegue encontrar um clube para jogar. E Juan, aos 38, é um dos motivos pelos quais o Flamengo pode ser campeão da Copa do Brasil.
Não foi por culpa dele que o time rubro-negro levou o empate do Cruzeiro no primeiro jogo da decisão, em falha do goleiro Thiago. Sua atuação, com botes precisos, cortes de cabeça e o habitual senso de colocação, de- ram mais uma demonstração da insanidade que foi o período no qual era reserva de Rafael Vaz.
O absurdo provavelmente não gerava maior comoção porque Juan é discreto. Nunca foi afeito aos arroubos de xerife de Lúcio —semelhantes aos de Lugano, que, aos 36, deixa apreensivos os torcedores do São Paulo a cada jornada em que precisa ser escalado, como hoje, contra a Ponte.
O carioca fala baixo, como também fazia no auge de sua vitalidade. As pernas podem não ter a mesma rapidez, porém o tempo de bola continua impressionante. Já no fim da partida contra o Cruzeiro, um carrinho preciso impediu um contra-ataque que poderia ter complicado demais o Flamengo na luta pelo título.
O zagueiro ainda nem sabe se continuará jogando futebol no próximo ano. Convém, então, apreciar os momentos derradeiros de um craque que não usa camisa 10.